As dúvidas apresentadas pela consulente colocam-nos perante a questão da existência de uma única (ou de duas) forma(s) correcta(s) na composição do mesmo vocábulo – pró-activo e/ou proactivo. De facto, embora nos possamos inclinar para a hipótese da hifenização da palavra – optando pela escrita de pró-activo –, baseando-nos na independência da acentuação do prefixo e do radical, a realidade confronta-nos com a presença de uma outra, em que prefixo e radical surgem aglutinados (proactivo), o que nos parece sugerir a perspectiva de duas grafias para a mesma palavra.
Se consultarmos a opinião dos linguistas Celso Cunha e Lindley Cintra sobre o emprego do hífen nas palavras compostas, verificamos que eles consideram que «o emprego do hífen é uma simples convenção», o que nos deixa um pouco perplexos. Parece que, sendo uma simples convenção, se torna aceitável que qualquer falante opte por uma ou por outra grafia. Mas os mesmos linguistas alertam-nos também para os casos em que o hífen se torna necessário, quando nos dizem: «Estabeleceu-se que só se ligam por hífen os elementos das palavras compostas em que se mantém a noção da composição, isto é, os elementos das palavras compostas que mantêm a sua independência fonética, conservando cada um a sua própria acentuação, porém formando o conjunto perfeita unidade de sentido». (Nova Gramática do Português Contemporâneo, p. 66).
Para além disso, como qualquer uma das palavras é formada por prefixação, não podemos deixar de considerar as situações específicas da prefixação, cuja regra geral pressupõe a aglutinação do prefixo ao radical. No entanto, Cunha e Cintra, assim como outros linguistas, prevêem o emprego do hífen «nos vocábulos formados pelos prefixos [de entre outros] pós-, pré-, e pró-, quando têm significado e acento próprios; ao contrário das formas homógrafas inacentuadas, que se aglutinam com o radical seguinte: pós-diluviano, mas pospor; pré-escolar, mas preestabelecer; pró-britânico, mas procônsul.» (Idem, p. 67).
Perante estas informações, não ficamos muito elucidados. Compreendemos que, se o prefixo tiver acento próprio (pró-), deveremos colocar o hífen, o que já não sucede, fazendo-se a aglutinação, se o prefixo for inacentuado (pro-). Mas em que é que nos baseamos para saber se deveremos usar um (pró-) ou o outro (pro-)? A solução para esse dilema não nos aparece explicitada em tal gramática.
Só recorrendo aos dicionários é que podemos tentar descobrir alguma orientação mais concreta. Pesquisando a respectiva etimologia, damo-nos conta que enquanto o prefixo de origem latina pro- é definido como «elemento de composição culta que traduz a ideia de «antes de, em frente, para diante de» (Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa de José Pedro Machado), a forma pró surge como advérbio que designa a ideia de «a favor de». A partir destes dados, concluímos que, se os prefixos pró- e pro- não significam o mesmo, não os poderemos usar indiscriminadamente. Cabe-nos, então, a nós, sujeitos falantes, decidir qual dos prefixos deveremos utilizar, de acordo com o significado da palavra no discurso.
E, consequentemente, se optarmos por pro- («antes de»), formaremos a palavra por aglutinação [proactivo] e, se quisermos passar a ideia de algo a favor da actividade, utilizaremos o prefixo acentuado pró-, separando os dois elementos [pró-activo].
O Novo Dicionário da Língua Portuguesa da Lello (1996) dá-nos mesmo a indicação de que o prefixo «pró-, com acento gráfico, com o sentido de «a favor de» deve ser seguido de hífen.»
Penso que também é importante assinalar o facto de que o vocábulo proactivo surge em dois dicionários, o que comprova a sua legitimidade (no Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa e no Novo Dicionário da Língua Portuguesa). É aí referido, respectivamente, como adjectivo de origem inglesa significando algo «que visa antecipar futuros problemas, necessidades ou mudanças; antecipatório (ex.: medidas antecipatórias)» e representando a ideia de «uma coisa que tem efeito sobre outra que vem depois (ex.: transferência proactiva)».
Pelos significados apresentados por cada um destes dicionários, depreendemos que o significado de proactivo remete para a ideia de antecipação, que se distingue do que se pretende para pró-activo, a favor da actividade.
N.E. – Resposta corrigida em 22/03/2021.