O Dicionário Terminológico (DT), que se destina a apoiar o ensino da gramática em Portugal, refere a derivação (B. 2.3.1). Esta nunca deixou de ser considerada, dela fazendo parte a afixação, que compreende a parassíntese, para além da prefixação e da sufixação. Por conseguinte, infelizmente deve ser analisada como palavra derivada por sufixação, considerando que a sua base é o adjectivo infeliz (este, por sua vez, derivado de feliz por prefixação).1 Mas, note-se, não se trata de parassíntese, porque, na análise de infelizmente, não se admite que o prefixo in- e o sufixo -mente se associem ao mesmo tempo à base feliz.
A parassíntese ocorre em casos como o de anoitecer, no qual a afixação de dois elementos é simultânea: a- + noit- + -ecer. Anoitecer não deriva de "noitecer" nem de "anoite", porque a sua base é noite, palavra à qual se juntam ao mesmo tempo a- e -ecer.
Resta acrescentar que, no DT, a derivação compreende duas rubricas: «processos que envolvem adição de constituintes morfológicos» e «processos que não envolvem adição de constituintes morfológicos». É nos primeiros que se encontra como processo geral o de adição, por sua vez, abrangendo a prefixação, a sufixação e a parassíntese.
1 A base de derivação dos advérbios em -mente é um adjectivo (feliz > felizmente; infeliz > infelizmente). Sobre esta particularidade, M.ª Helena Mira Mateus et al., Gramática da Língua Portuguesa (Lisboa, Editorial Caminho, 2003, pág. 949), observam o seguinte: «O único sufixo derivacional do português que [...] [selecciona uma palavra como forma de base] é o sufixo -mente, que selecciona adjectivos femininos ou invariáveis em género [...] e flexionados no singular [...].» As mesmas autoras assinalam a forma portuguesmente como «[...] contra-exemplo à restrição enunciada, [porque] é uma palavra lexicalizada: a sua formação ocorreu, certamente, num momento em que o sufixo -ês não admitia contrastes de género» (ibidem, nota 6).