Vale a pena, antes de mais, alertar para o facto de nem todos os estudiosos estarem de acordo sobre a definição de aglutinação e de justaposição. Para uns, há aglutinação sempre que não há hífen; para outros, só há aglutinação quando uma das palavras (normalmente a que se situa à esquerda), sofre alterações que poderão ser a perda de uma ou duas letras ou o ganho de uma vogal de ligação. Assim, a palavra passatempo é, para uns, aglutinada, porque não tem hífen, e, para outros, justaposta, porque é possível, sem quaisquer alterações, identificar as duas palavras-base: passa + tempo.
A par destas situações, outras há em que o primeiro elemento já não existe de forma autónoma na língua, constituindo-se um radical, grego ou latino, usado tão-somente na formação de palavras novas.
Nesta ambiguidade classificativa, há ainda que referir que a palavra auto se reveste de particular complexidade.
Auto é considerado nas gramáticas como um elemento, ou radical, de origem grega (de autos), com o sentido de «autónomo», «próprio» ou «de si próprio». Surge desta forma em palavras como autoconfiança, autoavaliação, etc.
Curiosamente, a partir da palavra automóvel, em que entra este elemento, passou a utilizar-se um outro, homónimo, mas constituindo uma truncação de automóvel. Esta truncação está presente em palavras como autoestrada, autódromo, etc.
Na palavra em apreço, autoconstrução, fora de contexto que me permita identificar qual dos elementos está presente (se o auto do grego autos, se auto da truncação de automóvel), parece-me que o elemento presente é o grego, pelo que, do ponto de vista tradicional, e tendo em conta a forma, consideraria a palavra composta por aglutinação, uma vez que duas palavras se juntaram com ligeira alteração de, pelo menos, uma delas. No caso vertente, autos, que é usado na nossa língua já não como palavra mas, sim, e sempre, como radical.
Caso o contexto permitisse identificar como base de auto não a forma grega autos mas, sim, a forma abreviada de automóvel, então poderíamos dizer que estávamos perante uma palavra formada por amálgama, em que pelo menos uma das palavras sofre alterações acentuadas [auto(móvel) + construção].
Por outro lado, estudos mais recentes fogem à classificação das palavras compostas com base em informação meramente formal, como é o caso de aglutinação e de justaposição, preferindo uma classificação com base em elementos morfológicos ou morfossintáticos. Assim, porque em autoconstrução estaremos perante um radical que se une a uma palavra, classificamos o conjunto como um composto morfológico.
Acresce ainda referir que este elemento, auto-, é integrado, no novo acordo ortográfico na base XVI «Do hífen nas formações por prefixação, recomposição e sufixação», aplicando-se-lhe as regras de ortografia correspondentes, ou seja, não tem hífen, a menos que a palavra a que se une comece por h (auto-humilhação) ou pela mesma vogal com que o elemento termina (auto-organização).
Por outro lado, havendo uma base que trata especificamente dos compostos, poderá haver tendência para considerar este elemento como prefixo (é indicado como pseudoprefixo), dando origem não a compostos mas a derivados, face aos quais não é comum fazer referência a aspetos formais como a aglutinação e a justaposição, nem a classificações de cariz morfológico ou morfossintático, uma vez que, em teoria, estamos perante uma palavra com um único radical, à qual foi acrescentado um prefixo, sendo, por isso, derivada.
Em síntese, e quanto ao processo de formação da palavra autoconstrução, ela é composta por aglutinação ou, eventualmente, uma palavra derivada por prefixação.