Penso que a resposta envolve dois aspectos: 1. Estamos perante uma frase em que ocorre uma construção que tanto pode ser de sujeito impessoal como de partícula apassivante. Se considerarmos que estamos perante um sujeito impessoal realizado por -se, diremos que temos aqui uma construção activa, em que «de tudo» é um complemento directo seleccionado por um verbo transitivo, neste caso vender. Em alternativa, se se- for interpretado como partícula apassivante, de tudo assume a função de sujeito. 2. Poderíamos ver de tudo como um complemento preposicional que se fixou pelo uso (isto é, que se lexicalizou), compatível com verbos que seleccionam um complemento directo; p. ex., em expressões como «haver de tudo», «comer de tudo», «comprar de tudo». Neste contexto, «de tudo» só será sujeito se considerarmos que -se é uma partícula apassivante, o que permite a paráfrase «De tudo é vendido». Parece-me que esta paráfrase terá dificuldades em ser aceite, se pensarmos que um sujeito nunca corresponde a um constituinte preposicional. No entanto, é possível também interpretar de tudo como o complemento preposicional de uma expressão, por exemplo, um pouco, constituinte não explícito na frase.1 Estaremos assim perante uma construção partitiva (cf. Maria Helena Mateus et aliae, Gramática da Língua Portuguesa, 2003, pág. 364/365), embora não se trate de um caso típico, por permitir a elipse (apagamento) da expressão quantificadora «um pouco». Há ainda uma outra hipótese, se se considerar que «de tudo» se comporta não propriamente como uma expressão composicional (ou seja, analisável nos seus elementos), mas sim como um todo. Deste modo, seria possível classificar de tudo como um sujeito na construção de partícula apassivante. Reconheço, mesmo assim, que o problema posto requererá maior pesquisa para confirmar ou rejeitar as hipóteses que formulei.
1 Agradeço ao consulente Fernando Bueno esta análise.