As formas do português antigo da primeira pessoa do singular “som” e “são” estavam de acordo com a sua etimologia, que as fazia derivar da primeira pessoa do singular do verbo latino ‘esse’, ou seja, 'sum'. Em galego, ainda hoje se mantém a forma que tem esta origem, “(eu) son”.
Contudo, em português clássico (se não mesmo antes), actuou provavelmente a força da analogia que aproximou a primeira pessoal do singular de ser de outras de outros verbos, como estar e ir, cujas formas, também da primeira pessoa do singular, são estou e vou. É curioso verificar que o mesmo terá sucedido em castelhano: inicialmente a forma era “(yo) son”, mas mais tarde, e ao que parece, por acção da analogia com “estoy”, de “estar”, passou a usar-se “soy” (ver Clarinda de Azevedo Maia, História do Galego-Português, Coimbra, Instituto Nacional de Investigação Científica, 1986, pág. 815). No entanto, os filólogos José Joaquim Nunes e Joseph Piel, sem descartar a importância da analogia, admitiram que era igualmente possível interpretar sou como desnasalação da forma arcaica "sõo" (idem).
Respondendo à pergunta, é possível considerar a existência de um fenómeno fonético na passagem de “som” a sou. Mas a interpretação com mais apoiantes é a de ter ocorrido a substituição de uma forma por outra que surgiu por analogia morfológica.