A etimologia considera os empréstimos entre línguas, mas tem também de contemplar os processos fonológicos verificados na evolução de uma língua-mãe para uma língua-filha. Assim, comecemos por dizer que a etimologia do dicionário Aurélio está certa: cheirar evoluiu do latim flagrāre e não se trata de um empréstimo do provençal cheiriar (encontro atestada esta palavra em dois documentos disponíveis na Internet: Francesismi nel Dialetto Napoletano e Dicionari d´Alpin d´Oc).
Depois, como mostra E. B. Williams (Do Latim ao Português, Rio de Janeiro, Tempo Brasileiro, págs. 74 e 94), é preciso saber que o fl- inicial latino evoluiu para ch- em galego-português: foi o que aconteceu a flammam, que deu chama, e a flagrāre, origem de cheirar. Mas há ainda uma outra alteração fónica: -gr- latino passou a -ir- em galego-português, e é por isso que, assim como intĕgrum evoluiu para inteiro, o verbo flagrāre se tornou cheirar.
P. S.: O português está óptimo.