DÚVIDAS

A construção «mesmo sem» + infinitivo

Aqui no Brasil muitas pessoas costumam construir orações concessivas com a expressão «mesmo sem» a anteceder um verbo no infinitivo.

Exemplo: «Mesmo sem vê-lo, posso senti-lo.»

Entendo que se trata de uma locução de cuja legitimidade eu duvido bastante. Gostaria de saber a vossa opinião.

Agradeço-vos a atenção!

Resposta

Como se constata do Corpus do Português, esta construção atravessa os séculos: ou seja, é um fato da língua portuguesa – tanto no português brasileiro, como no português lusitano – o emprego de mesmo + sem + verbo no infinitivo, não só em linguagem literária, mas também em linguagem não literária. 

Logo, é uma construção legítima.

Segundo a terminologia gramatical brasileira*, a análise gramatical de uma construção como «Mesmo sem vê-lo, posso senti-lo», é a seguinte:

1. Mesmo: palavra denotativa de ênfase; intensifica o valor da preposição sem.

2. Sem: preposição de valor negativo e concessivo; introduz uma oração reduzida de infinitivo.

3. Mesmo sem vê-lo: oração subordinada adverbial concessiva reduzida de infinitivo.

A frase trazida pelo consulente equivale a estas: 

– Apesar de não vê-lo, posso senti-lo.
– Muito embora não o veja, posso senti-lo.

Sempre às ordens!
 

*Visto ser brasileiro o consulente, foi empregada na resposta a nomenclatura gramatical do Brasil. 

ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa ISCTE-Instituto Universitário de LisboaISCTE-Instituto Universitário de Lisboa ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa