A oração «sem que o pai desse conta» exprime, a priori, uma circunstância de modo, no quadro da gramática tradicional. Do ponto de vista sintáctico, parece estarmos perante uma estrutura de coordenação, sinónima de «o rapaz saiu de casa, e o pai não deu conta» e «o rapaz saiu de casa, mas o pai não deu conta».
No entanto, na sua Moderna Gramática Portuguesa (Rio de Janeiro, Editora Lucerna, 2002, pág. 328), Evanildo Bechara classifica a locução sem que como locução conjuntiva subordinativa modal1, e chama orações modais às introduzidas por sem que, muito embora a Nomenclatura Gramatical Brasileira não considere estas classificações2. Acresce que o Dicionário Houaiss também descreve este tipo de conector e de estrutura no artigo referente a sem, observando que esta preposição pode relacionar orações: «quando o determinante [i. e., o elemento subordinado] é uma oração, define noções negativo-modais, condicionais, concessivas».
Sempre ao dispor.
1 Bechara não concorda com o termo locução conjuntiva (op. cit,, págs. 471/472): «[São chamadas] impropriamente locuções conjuntivas, porque não se trata de uma unidade complexa, mas de dois elementos com papéis diferentes: a preposição assinala a noção circunstancial de que semanticamente se reveste a oração transposta ou subordinada; o que marca o novo papel da oração independente originária que passa funcionar, num plano inferior, como termo sintático dentro da oração complexa [...]»
2 Em Portugal, a Nomenclatura Gramatical Portuguesa (1967) a Terminologia Linguística para o Ensino Básico e Secundário não incluem os termos em causa.