Sara Mourato - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Sara Mourato
Sara Mourato
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Licenciada em Estudos Portugueses e Lusófonos pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e mestre em Língua e Cultura Portuguesa – PLE/PL2 pela mesma instituição. Com pós-graduação em Edição de Texto pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, trabalha na área da revisão de texto. Exerce ainda funções como leitora no ISCTE e como revisora e editora do Ciberdúvidas.

 
Textos publicados pela autora

Pergunta:

Existe a palavra "confinamento" no português europeu?

Obrigada.

Resposta:

O substantivo masculino confinamento – formada por sufixação: confina(r) + mento – não se encontra registado em todos os dicionários. No entanto, já figura em edições mais recentes de dicionários da língua portuguesa, como o Grande Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora, edição de 2010, assim como os dicionários em linha. Significado: «Ato ou efeito de confinar; situação do que é limítrofe ou contíguo; fronteira, limite; ato ou efeito de restringir a um espaço limitado; isolamento».

Pergunta:

Gostaria de saber se as formas "italiano-alemão" e "ítalo-alemão", enquanto adjetivos compostos, estão corretas ou incorretas.

Cumprimentos.

Resposta:

Os dois compostos de nomes e adjetivos pátrios, isto é, que designam a nacionalidade de alguém, estão corretos.

A forma mais comum de designarmos uma pessoa que é natural de Itália é italiano/italiana e, por isso, diríamos que uma pessoa que é tanto italiana como alemã é italiano-alemã. Poderia pensar-se que, da mesma forma, à semelhança deste caso, existiria um adjetivo composto para designarmos uma pessoa que seja tanto portuguesa como alemã: "português-alemã"1. Na verdade, o mais comum é dizer ou escrever que alguém é luso-alemão, por exemplo, sendo que luso é considerado a forma reduzida de lusitano – «relativo a Portugal ou o que é natural ou habitante» (Dicionário Houaiss–, que entrou na língua como elemento gentílico. Da mesma forma, pode denominar-se um «indivíduo natural ou habitante de Itália antiga ou atual» (ibidem) de ítalo, uma forma alatinada e reduzida de italiano. Assim, afirmar que alguém é ítalo-alemão está igualmente correto.

1 O composto português-alemão é empregado em associação a dicionário, em títulos (Dicionário Português-Alemão) e expressões como «um dicionário português-alemão» (cf. Rebelo Gonçalves,

Pergunta:

Gostaria, se possível, que me esclarecessem quanto a este enunciado: «Tens visto a Inês»? «Tem-la visto» ou «tem-na visto»? E porquê?

Obrigada pela atenção.

Resposta:

Na oração apresentada – «Tens visto a Inês» – «a inês» tem a função sintática de complemento direto e, por isso, este constituinte pode ser substituído pelo pronome oblíquo a. No entanto, o verbo ter na 2.ª pessoa do singular termina com a consoante -s, e, segundo a regra conhecida, quando «a forma verbal terminar em -s, -s e -z, suprimem-se estas consoantes, e o pronome assume as modalidades lo, la, los, las» (Cunha, Celso, Cintra, Lindley. Nova Gramática do Português Contemporâneo. Edições Sá da Costa. pp. 280, 1984), como nos exemplos:

 1. «Tens visto a Inês» → «Tem-la visto?»

2. «Vou comer o bolo» → «Vou comê-lo?»

3. «Faz o exercício!» → «Fá-lo!»

Por outro lado, o pronome assume as modalidades no, na, nos, nas quando o verbo termina em ditongo nasal – -ão, -õe, -m:

4. «Eles são inteligentes» → «Eles são-no»

5. «Põe a mesa!» → «Põe-na!»

Pergunta:

«Eu fiz uma pergunta com relação à política», ou «Eu fiz uma pergunta em relação à política»? «Em relação» ou «com relação»?

Grato!

Resposta:

As opção «com relação a» e «em relação a» tem uso atestado, no entanto está mais consolidado o uso de «em relação a». Note-se, contudo, que a expressão «com relação a» tem uso minoritário em português de Portugal, e em português do Brasil a opção que prevalece é «em relação a»*. 

É importante referir que a locução «com relação a» foi considerada, pelos puristas da língua, como um galicismo. No seu lugar sugerem as seguintes opções: «no tocante a», «relativamente a» «no que concerne a» (Dicionário Houaiss).

 

* Uma consulta do Corpus do Português: Género/Histórico de Mark Davies indica que «com relação a» mal se usa nos textos atribuídos à variedade de Portugal: em 99 ocorrências só duas são atribuíveis à variedade europeia. No entanto, na secção dialetal do referido corpus (Corpus do Português: Web/dialetos), que abrange enunciados escritos mais recentes, pode detetar-se uma tendência crescente da frequência de «com relação a» nos textos de Portugal, ainda que sempre em proporção menor quando comparada com a ocorrência da locução em textos brasileiros: num total de 26328 ocorrências, 936 são identificadas com o português de Portugal, 24 553 com o português do Brasil e as restantes com as modalidades de Angola e Moçambique. Em suma, pode concluir-se que «em relação a» se usa mais que «com relação a»; e esta última forma ocorre mais na variedade brasileira do que na de Po...

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