Sara Mourato - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Sara Mourato
Sara Mourato
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Licenciada em Estudos Portugueses e Lusófonos pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e mestre em Língua e Cultura Portuguesa – PLE/PL2 pela mesma instituição. Com pós-graduação em Edição de Texto pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, trabalha na área da revisão de texto. Exerce ainda funções como leitora no ISCTE e como revisora e editora do Ciberdúvidas.

 
Textos publicados pela autora

Pergunta:

Gostaria de vos perguntar se me podem responder à seguinte questão: sucedâneo é sinónimo de substituto? Ou quer dizer «que sucede, vem depois»?

Muito obrigada.

Resposta:

De acordo com o Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea da Academia das Ciências de Lisboa, sucedâneo e substituto parecem ser sempre sinónimos. Este dicionário define sucedâneo como: «que pode substituir o outro».

Contudo, este adjetivo e substantivo masculino é, essencialmente, utilizado quando significa «substância ou produto que pode substituir outro por ter funções ou propriedades semelhantes» (ibidem)1, isto é, alude a coisas, substâncias e abstrações, e não a pessoas. Já substituto alude também a pessoas. São, por isso, sim, sinónimos, mas não em todos os contextos: 

1) «um substituto do café» = «um sucedâneo do café»

2) «o bolo é feito com leite e nunca com um substituto deste» = «o bolo é feito com leite e nunca com um sucedâneo deste».

Há, contudo, uma frase de Almeida Garrett que exclui a hipótese de não serem sinónimos em todos os contextos:

«-  Pois barão é o sucedâneo dos.. 

-  Dos frades.. Ruim substituição. »

(Viagens na Minha Terra, in Corpus do Português)

Ainda assim, an...

Pergunta:

Sempre ouvi falar de infantaria mecanizada nos exércitos, mas a CNN veio hoje referir infantaria maquinizada russa, etc...

Faz sentido?

Resposta:

site do Exército português atesta «infantaria mecanizada» (e «brigada mecanizada») – responsável por realizar o transporte dos soldados por meio de veículos blindados. 

Note-se, ainda, que apesar de não haver atestação para «infantaria maquinizada», o verbo maquinizar existe e tem o sentido de «prover de máquinas, fazer com máquinas». O seu partícipio passado é, por isso, maquinizado/maquinizada. Atendendo ao significado de maquinizar, poderia parecer legítima a expressão «infantaria maquinizada», mas a verdade é que a expressão consagrada é «infantaria mecanizada», como atrás foi dito.

Os usos do verbo <i>destilar</i>
«Destilar ódio» e «destilar amor»

Será possível utilizar o verbo destilar em sentido figurado com valor positivo? Ou este verbo, quando usado em sentido figurado, é sempre utilizado com sentido de «deixar perceber; insinuar, instilar», geralmente seguido de palavras negativas como ódio (Dicionário Houaiss)? A estas perguntas responde Sara Mourato, consultora do Ciberdúvidas, num texto acerca dos usos figurados do verbo destilar

 

Pergunta:

Eu gostaria de saber se a seguinte frase deve ter necessariamente seu adjunto virgulado: «De lá para cá suas formas se ampliaram.»

Observando que tem longa extensão, deve-se colocar vírgula?

De acordo com a obra de Maria Piacentini (2017), locuções adverbiais podem ter vírgulas dispensáveis, quando não há necessidade de ênfase ou pausa.

Qual posição deve ser adotada?

Resposta:

Apesar de, de acordo com Lindley Cintra e Celso Cunha, na Nova Gramática do Português Contemporâneo (pág. 641), se referir que vírgula é usada para isolar o adjunto adverbial antecipado – «De lá para cá, suas formas se ampliaram» Maria Piacentini, em Manual da Boa Escrita, afirma que quando a frase se inicia com adjunto adverbial de tempo ou de lugar a vírgula é facultativa. A autora sustenta esta posição afirmando que depende «do tipo de frase, do estilo e do gosto pessoal ou da extensão do adjunto. Esta vírgula é facultativa porque não interfere com a clareza; sua ausência não cria ambiguidade» (pág. 16). Refere ainda que «quanto menor o adjunto, mais dispensável é essa vírgula». 

Apesar da diferença de posições, concordamos com Piacentini, que o uso da vírgula, nestes casos, pode ser dispensável. Assim, podemos ter:

(1) «De lá para cá suas formas se ampliaram.»

(2) «De lá para cá, suas formas se ampliaram.»

Pergunta:

Sabem esclarecer-me, por favor, sobre a seguinte formulação? O correto será «por trás» ou «por detrás»?

«Por trás de cada projeto concluído, há o trabalho de uma grande equipa.»

«Por detrás de cada projeto concluído, há o trabalho de uma grande equipa.»

Não falamos de uma localização física, pelo que não consigo encontrar uma resposta clara.

Aproveito para perguntar o seguinte: seria correto escrever «Atrás de cada projeto concluído, há o trabalho de uma grande equipa»?

Resposta:

As frases (1), (2) e (3) estão corretas e são sinónimas:

(1) «Por trás de cada projeto concluído, há o trabalho de uma grande equipa.»

(2) «Por detrás de cada projeto concluído, há o trabalho de uma grande equipa.»

(3) «Atrás de cada projeto concluído, há o trabalho de uma grande equipa.»

Isto é, as construções com os advérbios trás («por trás»), detrás por detrás») e atrás são sinónimas, significando «na parte posterior, depois». Veja-se três exemplos da literatura que atestam isto mesmo:

(4) «[...] e convictamente acreditou que por trás de tudo estivera a mão de Américo, seu filho» (Isabel Barreno, O Senhor das Ilhas, in Corpus do Português);

(5) «A estátua era desmedida; os arcos imensos. E por detrás de tudo isto, Juvenal via um céu azul ferrete, tangível [...].» (João Gaspar Simões, Uma Históira de Província. Vida Conjugal, 1936, ibidem)

(6) «[...] Eu, esta obscura e incandescente e fascinant...