Sara Mourato - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Sara Mourato
Sara Mourato
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Licenciada em Estudos Portugueses e Lusófonos pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e mestre em Língua e Cultura Portuguesa – PLE/PL2 pela mesma instituição. Com pós-graduação em Edição de Texto pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, trabalha na área da revisão de texto. Exerce ainda funções como leitora no ISCTE e como revisora e editora do Ciberdúvidas.

 
Textos publicados pela autora

Pergunta:

Em relação à regência do verbo sentir, podemos aceitar a preposição em nesta frase?

«Como se sente "em" passar o Natal longe de casa?»

Obrigado.

Resposta:

Os dicionários de regência verbal consultados não atestam a construção «sentir em», como figura na frase apresentada pelo consulente: «Como se sente em passar o Natal longe de casa?».

Contudo, na aceção pretendida, temos «sentir por» + infinitivo e «sentir ao» + infinitivo, que não são casos de regência, mas, sim, de associação de orações subordinadas adverbiais de infinitivo ao verbo em apreço:

(1) «Como se sente por passar o Natal longe de casa?»  [valor causativo/explicativo]

(2) «Como se sente ao passar o Natal longe de casa?». [valor temporal]

Note-se, mesmo assim, que não pode considerar errada completamente a sequência «sentir em» O que acontece é não ser habitual que esta conjunção introduza uma oração infinitiva, neste caso como modificador do grupo verbal, depois de sentir2.

Note-se que a estutura oracional pode também ser finita : «Como se sente quando passa o Natal longe de casa?»

 

1 Consultaram-se Celso Pedro Luft, Dicionário Prático De Regência Verbal, e Francisco Fernandes, Dicionário de Verbos e Regimes.

2 Como foi dito, embora este não seja um caso de regência, assinale-se que o uso das preposições na construção de regência pode revelar variação significativa. Como oberva a consultora Eva Arim, a «área das regências verbais é uma área em que não existe normalização na língua portuguesa. Basta consultar dois ou três instrumentos de normalização da língua (dicionários de língua, dicionários de regências, prontuários, etc.) para constata...

<i>Sair</i> e as suas singularidades
Um erro recorrente

Em notícia publicada em 27/11/2023, no Jornal de Notícias, acerca da aplicação de encontros Timeleft, podia ler-se: «A Timeleft tenta tirar um pouco dessa pressão, porque os participantes "apenas saiem para se divertir, quem sabe fazer amigos e se tiver sorte algo mais".»  Nesse contexto, percebemos, talvez sob a influência da oralidade, uma pequena imprecisão na conjugação do verbo sair na 3.ª pessoa do plural do presente do indicativo. A respeito desta questão, a consultora Sara Mourato compartilha algumas reflexões.

Pergunta:

Por favor, podem confirmar se a palavra "influencial" existe como significado de influenciador de alguém?

Muito obrigada!

Resposta:

Influencial é um adjetivo atestado com o significado de alguém «que exerce influência» (Dicionário Aulete), e, portanto, pode ser considerado sinónimo de influenciador:

(1) «Aquela empresa tem sido muito influencial no desenvolvimento de novas tecnologias». 

(2) «Aquela empresa tem sido influenciadora no desenvolvimento de novas tecnologias». 

(3) «Ela é uma líder influencial, capaz de mobilizar grupos de ação».

(4) «Ela é uma líder influenciadora, capaz de mobilizar grupos de ação».

Note-se, contudo, que parece existir preferência pela forma influenciador

Pergunta:

Tenho uma dúvida sobre uso do verbo ressecar. Podemos usá-lo para indicar outra situações que não envolvam água?

Por exemplo: «o plástico da carenagem da minha moto está ressecado de tanto pegar sol»?

Pergunto isso porque sempre ouço na linguagem do dia a dia frases desse tipo, porém ao consultar alguns dicionários, só vi abonos com contextos envolvendo água.

Agradeço desde já o apoio e compreensão de sempre.

Resposta:

De facto, secar, verbo do qual deriva o verbo ressecar, está associado, essencialmente, a líquidos, i.e., fazer desaparecer líquidos/humidade. 

Também ressecar pode ter uma aceção próxima, «secar ou secar-se, de novo» (Dicionário da Língua Portuguesa, Academia das Ciências de Lisboa). Contudo, este verbo está também atestado como «tornar muito seco; fazer perder a elasticidade, flexibilidade de alguma coisa» (Ibidem) e, por isso, afirmar que «o plástico da carenagem da minha moto está ressecado de tanto pegar sol» está correto. Quer com isto dizer-se que o plástico está muito seco e a perder a sua flexibilidade.

O enigma do <i>ghosting</i> nas relações modernas
Qual a origem desta expressão?

É fácil ouvirmos os millennials ou Geração Z, entre eles, principalmente, relatarem que alguém lhes «deu ghost/ghosting». Esta expressão aparenta estar relacionada com as relações modernas, vinculadas, em grande medida, às interações digitais. Mas do que se trata, e qual a origem, afinal, desta expressão? A esta pergunta dará resposta a consultora Sara Mourato, num artigo acerca da recente expressão «dar ghost/ghosting».