«A questão que aqui se levanta é se a atriz, de facto, disse "vão haver novidades"», alerta a consultora Sara Mourato acerca de uma deixa da atriz Fernanda Serrano na série Morangos com Açúcar e que se tornou viral nas redes sociais.
Licenciada em Estudos Portugueses e Lusófonos pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e mestre em Língua e Cultura Portuguesa – PLE/PL2 pela mesma instituição. Com pós-graduação em Edição de Texto pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, trabalha na área da revisão de texto. Exerce ainda funções como leitora no ISCTE e como revisora e editora do Ciberdúvidas.
«A questão que aqui se levanta é se a atriz, de facto, disse "vão haver novidades"», alerta a consultora Sara Mourato acerca de uma deixa da atriz Fernanda Serrano na série Morangos com Açúcar e que se tornou viral nas redes sociais.
Gostaria de saber se a palavra redifusão ou resequenciador existem, visto não os encontrar nos dicionários da lingua portuguesa.
Obrigada.
Mesmo não estando atestadas em dicionários, ambas as palavras estão bem formadas, i.e., ao substantivo feminino difusão agregou-se ao prefixo latino re-, e o mesmo acontece ao substantivo masculino/adjetivo sequenciador. Este prefixo é usado com o sentido de «movimento para trás, repetição».
Consideram-se, assim, corretas as palavras em questão, que podem ser entendidas como segue:
(1) redifusão: «repetição ou retransmissão de um conteúdo de áudio ou vídeo»;
(2) ressequenciador: «algo ou alguém que realiza a ação de sequenciar novamente ou reorganizar em uma sequência específica».
Estes casos de formação de palavras, em que se agrega o prefixo re-, não preveem o uso de hífen, mas, no caso de sequenciador, temos de dobrar o s: ressequenciador (cf. Base XVI, 2, do Acordo Ortográfico de 1990).
Note-se que redifusão é uma palavra derivada por prefixação, enquando ressequenciador é derivada por prefixação e sufixação: re + sequenciar + (d)or.
Em termos coloquiais, quando nos referimos a alguém presunçoso, ouvi algumas vezes as espressões «galo encrespado» e «galo encristado».
Qual delas é a correta?
Obrigada!
As duas expressões – «galo encrespado» e «galo encristado» – estão corretas e são sinónimas. E por elas entende-se: «estar-se cheio de soberba, de presunção, de vaidade».
Entenda-se que os verbos encrespar e encristar estão associados à ideia de «tornar-se cheio de soberba; enfatuar-se, enfunar-se» (Dicionário Houaiss), o segundo – encristar – em sentido figurado.
Também a literatura atesta as duas expressões:
(1) «No pátio, o galo, todo encrespado, bailava passinhos curtos ao redor das galinhas e logo se desaforava num canto persuasivo» (Joyce, Patrícia. A Maior Distância. In Corpus do Português)
(2) «O Administrador, que advogara em Mértola, protestou, encristado.» (Queirós, Eça de. A Ilustre Casa de Ramires. In Corpus do Português)
Na frase «Pensemos, por exemplo, nas confusões decorrentes de algumas trocas de mensagens», a expressão «de algumas trocas de mensagens» desempenha a função de complemento do adjetivo?
Em «Pensemos, por exemplo, nas confusões decorrentes de algumas trocas de mensagens» o constituinte «de algumas trocas de mensagens» incide no adjetivo decorrente desempenhando, assim, a função de complemento do adjetivo, i.e., é uma expressão argumental que completa o sentido do adjetivo, neste caso, especifica a origem ou causa das confusões.
Note-se que neste caso o adjetivo – decorrente – é formado a partir do verbo decorrer e, por isso, o seu complemento corresponde ao do verbo:
(1) «decorrentes de algumas trocas de mensagens» – cf. «decorrer de algumas trocas de mensagens».
Como na generalidade dos adjetivos, o complemento pode ser omitido e, ao fazê-lo, o «complemento pode ser recuperado contextualmente, quer por um antecedente linguístico, quer a partir da própria situação de enunciação» (Fundação Calouste Gulbenkian, Gramática do Português, pág. 1366)
(2) «Pensemos, por exemplo, nas confusões decorrentes».
Escrevi a frase:
«Não se esqueçam de guardar a fatura.»
Neste texto, supomos que todos têm apenas uma fatura.
O português não é minha língua materna e agora apareceram dúvidas.
Uns disseram que está errado e que faturas deve estar sempre no plural neste contexto. Outros disseram que fatura no singular está correto.
Se faz favor, qual é a vossa opinião?.
Não é fácil afirmar-se qual das formas é a correta, porque está dependente da interpretação que lhe é dada. Ainda assim, no contexto que nos é dado, talvez fosse mais correto o exemplo (i):
(i) «Não se esqueçam de guardar a fatura.» = «não se esqueçam de guardar qualquer fatura que peçam/recebam/não se esqueçam de guardar cada fatura»
(ii) «Não se esqueçam de guardar as faturas.» = «não se esqueçam de guardar todas as faturas».
Há, ainda, forma de tornar mais explicita a nossa intenção, se afirmarmos «Não se esqueçam de guardar a vossa fatura».
O exemplo (ii), em que temos faturas, no plural, pode levar a três leituras:
(1) dirigimo-nos a um grupo alertando para que não se esqueça de guardar as faturas, todas juntas, numa gaveta, por exemplo.
(2) dirigimo-nos a um grupo alertando para que cada elemento não se esqueça de guardar as faturas, assumindo que cada um tem mais que uma fatura.
(3) dirigimo-nos a um grupo alertando para que cada elemento não se esqueça de guardar a única fatura que tem, sabendo, no entanto, que há uma pluralidade de faturas na sala e, por isso, referimo-nos a elas no plural.
É por esta razão que se sugere que não se opte por «Não se esqueçam de guardar as faturas», quando se assume que cada pessoa tem uma única fatura para guardar.
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