Sara Mourato - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Sara Mourato
Sara Mourato
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Licenciada em Estudos Portugueses e Lusófonos pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e mestre em Língua e Cultura Portuguesa – PLE/PL2 pela mesma instituição. Com pós-graduação em Edição de Texto pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, trabalha na área da revisão de texto. Exerce ainda funções como leitora no ISCTE e como revisora e editora do Ciberdúvidas.

 
Textos publicados pela autora

Pergunta:

Qual a origem da expressão «meter-se numa alhada»?

Muito obrigado!

Resposta:

De acordo com José Pedro Machado no Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa (pág. 198), alhada surge no século XVI associada à expressão «meter-se numa alhada»: «Meu pecado me meteo nesta alhada», presente na Comédia Eufrosina de Jorge Ferreira de Vasconcelos (IV, 4, pág. 212). 

Esta expressão tem uso em contexto informal, e significa «situação difícil ou complicada». É, por isso, sinónimo de complicação, embrulhada, trapalhada (Dicionário da Língua Portuguesa da Academia das Ciências de Lisboa). 

Pergunta:

Blusão é aumentativo de blusa?

Resposta:

Blusão não é aumentativo de blusa. Acontece que há muitos aumentativos terminados em -ão (caso de solteirãocadeirão, por exemplo), mas há outras palavras que terminam com o ditongo nasal -ão sem conterem a ideia de aumentativo. No caso de blusa, então, o aumentativo atestado nos dicionários, como é caso da Infopédia, é blusona. Ao substantivo blusa associa-se o sufixo -ona, que, entre outros, forma o aumentativo.

Blusão, por sua vez, corresponde a «blusa larga e comprida que se usa geralmente por fora da saia ou das calças; peça de vestuário que cobre o tronco, geralmente com mangas, usada sobre a roupa como agasalho; ampla e curta, ajusta-se à cintura ou às ancas» (Dicionário da Língua Portuguesa da Academia das Ciências de Lisboa). O aumentativo deste substantivo é, de acordo com o dicionário Infopédiablusãozão.

Note-se que é possível, também, obtermos o aumentativo analiticamente, i.e., juntando-lhe um adjetivo que indique aumento: «grande blusa» ou «grande blusão».

<i>Obrigado</i> vs. <i>gratidão</i>
A ênfase no agradecimento

Quando passou o substantivo gratidão a concorrer obrigado nos nossos agradecimentos? E em que contextos é usada esta expressão? A estas perguntas responde a consultora Sara Mourato, num texto onde reflete acerca dos usos de gratidão.

Pergunta:

De entre as formas contempladas, qual a etimologicamente mais correta para designar um natural das ilhas Maldivas?

Os meus agradecimentos.

Resposta:

De acordo com o Código de Redação Interinstitucional o gentílico a que corresponde um natural das Maldivas é maldivo/maldiva. No entanto, há registo de outras designações para um natural deste território, nomeadamente: maldívio/maldívia e maldiviano/maldiviana1.

Não há uma clara indicação sobre qual dos três gentílicos é etimologicamente mais correto para designar um habitante das Maldivas. Se tomarmos como referência o Código de Redação Interinstitucional, então a forma recomendada seria então maldivo/maldiva.

 

1 Foram consultados o Portal da Língua Portuguesa, InfopédiaDicionário da Língua Portuguesa da Academia das Ciências de Lisboa, Dicionário Houaiss.

Pergunta:

O verbo reacionar [re-acionar] existe?

Ou seja, na aceção de «voltar a acionar» ou «voltar a pôr em ação, prática ou funcionamento» alguma coisa – mecanismo, medida, plano, processo, etc.

Resposta:

O verbo reacionar, apesar de não se encontrar atestado, está bem formado: ao verbo acionar agregou-se o sufixo re-, que tem sentido de «movimento para trás, repetição». Tem como significado, como o consulente refere, «voltar a acionar; voltar a pôr em ação, prática ou funcionamento». 

Talvez, contudo, seja mais comum ouvir-se reativar com o sentido dado a reacionar. Não obstante, reacionar é aceite.