Sara Mourato - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Sara Mourato
Sara Mourato
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Licenciada em Estudos Portugueses e Lusófonos pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e mestre em Língua e Cultura Portuguesa – PLE/PL2 pela mesma instituição. Com pós-graduação em Edição de Texto pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, trabalha na área da revisão de texto. Exerce ainda funções como leitora no ISCTE e como revisora e editora do Ciberdúvidas.

 
Textos publicados pela autora

Pergunta:

Gostaria de saber qual destas duas frases está correta e, se possível, porquê.

1. «Sentamo-nos em volta da vela acesa, e cada uma de nós se concentra no café para não ver a sombra que começou a passear-se, agitada, por todo o apartamento»

2. «Sentamo-nos em volta da vela acesa, e cada uma de nós concentra-se no café para não ver a sombra que começou a passear-se, agitada, por todo o apartamento».

Muito obrigada.

Resposta:

O quantificador universal distributivo cada admite a próclise (colocação do pronome oblíquo átono antes do verbo – exemplo 1.) e a ênclise (colocação do pronome oblíquo átono depois do verbo, separado do verbo por hífen – exemplo 2.), pelo que as duas frases apresentadas estão corretas: 

1. «Sentamo-nos em volta da vela acesa, e cada uma de nós se concentra no café para não ver a sombra que começou a passear-se, agitada, por todo o apartamento»;

2. «Sentamo-nos em volta da vela acesa, e cada uma de nós concentra-se no café para não ver a sombra que começou a passear-se, agitada, por todo o apartamento».

De acordo com a Gramática do Português, da Fundação Calouste Gulbenkian (pág. 2253), «[...] não existem fatores semânticos ou estruturais que determinem uma [próclise] ou outra colocação [ênclise]», ainda que, para a autora do capítulo, Ana Maria Martins, «a próclise é a única colocação possível nas frases em que o quantificador cada antecede o verbo», aceitando, assim, somente a frase 1. 

Na Gramática da Língua Portuguesa, da Editorial Caminho (pág. 855), refere-se que cada admite próclise, mas não exige, pelo que sustenta a posição indiferenciada do pronome átono. 

A influência portuguesa na doçaria japonesa
Kompeitō e kasutera

A influência da presença portuguesa no Japão durante o século XVI, particularmente na alimentação e doçaria japonesa, é evidenciada neste texto com dois exemplos específicos: o kompeitō, um tipo de rebuçado típico japonês, e o kasutera, um bolo que guarda semelhanças com o pão-de-ló tradicional. O texto, da autoria da consultora Sara Mourato, explora a origem destes doces no Japão, assim como do nome que lhes é dado. 

Pergunta:

Gostaria de saber se a palavra yucateco é admitida na língua portugesa.

Vi-a nesta oração: «A palavra sabukatán é um termo yucateco, da península de Yucatán, no México».

Ainda sobre essa palavra, não tenho certeza se podemos escrevê-la com inicial maiúscula ou minúscula: é o nome de uma língua indígena, mas acredito que deveríamos escrevê-lo com minúscula.

No texto, observei que a editora preferiu manter as palavras em espanhol: yucateco – "iucateco" em português?

E Yucatán – "Iucatã" em português?

Muito obrigada.

Resposta:

Aquilo que se regista nos dicionários, nomeadamente no Houaiss, no que concerne a «relativo ao Iutacã (México) ou o que é seu natural ou habitante», é iucatego, iucatano ou iucateque. Trata-se de um nome masculino e adjetivo com origem no espanhol yucateco. Por não se tratar de um nome próprio, grafa-se com inicial minúscula, como sucede quando nos referimos a português, por exemplo. 

Relativamente ao aportuguesamento do nome da península mexicana, temos duas alternativas: Iucatã, na variante de português do Brasil, e Iucatão, na variante de português europeu. 

Pergunta:

É correto dizer «Morre fulano de tal» no lugar de dizer «Fulano de tal morreu»?

O que me motivou a fazer essa pergunta é o fato de ser, no mínimo, muito comum ver a primeira forma ser utilizada nos noticiários quando uma pessoa famosa falece.

Desde já, grato.

Resposta:

As frases apresentadas podem levantar duas questões: o uso do presente em lugar dos tempos do passado; e a ordem não canónica dos constituintes da frase.

Comecemos pelo uso do presente  em referência a ocorrências passadas. Trata-se de um recurso habitual na escrita jornalística, essencialmente em títulos de jornais, «não só com predicados que exprimem estados, mas também com predicados que exprimem eventos, procurando-se assim ampliar o presente para além do tempo da enunciação» (Gramática do Português, Fundação Calouste Gulbenkian, pág. 517):

(1) «Decorre até dia 31 de janeiro o prazo para entrega de candidaturas».

Também o recurso ao presente nestes textos jornalísticos pretende «localizar temporalmente uma situação ocorrida num tempo anterior ao da enunciação, mas próximo dele, e com relevância no presente» (ibidem); exemplo:

(2) «Trabalhador morre eletrocutado em linha de comboio em Pombal» (Jornal de Notícias).

Por outro lado, podemos avaliar a diferente ordem dos constituintes da frase. Comece-se por referir que a ordem canónica das frases em português é: sujeito, verbo e objetos (SVO). Daí, poderia afirmar-se que o correto seria termos:

(3) «Marília Mendonça morre/morreu em queda de avião».

Contudo, é também verdade que a língua portuguesa permite outras ordens dos constituintes nas frases em que ocorrem, o que implica a inversão do sujeito, por isso, é aceitável, entre outras, ter-se: verbo, sujeito, objeto. Daí:

(4) «Morre/morreu Marília Mendonça em queda de avião».

A opção pela posição pós-verbal pode pren...

A fotografia <i>photoshopada</i> de Kate Middleton
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Kate Middleton, ou alguém que gere as redes sociais dos príncipes de Gales, utilizou o Photoshop para manipular uma fotografia publicada a propósito do Dia da Mãe no Reino Unido. Este texto, da autoria da consultora Sara Mourato, relembra como estes eventos influenciam a criação de novos termos ou neologismos, como photoshopar e photoshopada.