Sara Mourato - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Sara Mourato
Sara Mourato
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Licenciada em Estudos Portugueses e Lusófonos pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e mestre em Língua e Cultura Portuguesa – PLE/PL2 pela mesma instituição. Com pós-graduação em Edição de Texto pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, trabalha na área da revisão de texto. Exerce ainda funções como leitora no ISCTE e como revisora e editora do Ciberdúvidas.

 
Textos publicados pela autora
Sentes-te <i>endorsado</i> ou <i>endossado</i>?
O anglicismo endorsement

Pedro Mexia diz sentir-se «endorsado», mas porque não se sente ele «endossado»? Será que o anglicismo endorsement pode ser traduzido como endorsar? A estas perguntas responde a consultora Sara Mourato num texto onde aborda a adaptação deste anglicismo à língua portuguesa. 

Pergunta:

Diz-se «concluiu a qualificação de informática» ou «concluiu a qualificação em informática»?

Resposta:

Qualificação pode reger as duas preposições deem. Contudo, no exemplo em concreto, o correto é «concluiu a qualificação em informática». De facto, «qualificação em» é usado para indicar a área específica em que a qualificação foi obtida.

Por outro lado, quando temos «qualificação de», a preposição de refere-se ao tipo de qualificação ou ao objeto que está sendo qualificado, introduzindo assim a natureza ou a especialidade da qualificação. Por exemplo:

(1) «A qualificação da informática evolui constantemente com o avanço das tecnologias».

Aqui, falando sobre a qualificação pertencente ao campo da informática, ou seja, o tipo de qualificação que está relacionado à área de informática.

Pergunta:

Depois da publicação do novo acordo ortográfico, as palavras compostas nos postos militares deixam-me imensas dúvidas. Por exemplo: tenho visto escrito "Major-general" e "Major-General" quando aplicado a uma pessoa em concreto: «Major-general Bento Soares» ou «Major-General Bento Soares».

Não tenho dúvida na utilização do posto major-general quando não associado a uma pessoa em concreto, por exemplo: «vi um major-general a passear na minha rua».

Em relação ao primeiro caso, associado a um nome concreto, qual é a forma mais correta de escrever?

Será "Major-general" ou "Major-General"?

Gostava que me esclarecessem sobre esta dúvida.

Obrigado

Resposta:

Não há nenhuma norma geral que obrigue o uso de maiúsculas na grafia de um cargo.

Contudo, tratando-se de um nome que designa um cargo público de relevo, «usa-se por vezes maiúscula». Caso essa opção seja escolhida, no caso dos compostos, ambas as palavras que o formam devem ser escritas com letra maiúscula, i. e., Major-General Bento Soares, como exemplificado no ponto 11, pág.  38 do Prontuário Otográfico e Guia da Língua Portuguesa (Bergström, Magnus e Reis, Neves, 2012): Procurador-Geral da República.

Pergunta:

Na frase «enquanto estavas a dormir, ela teve tempo de fazer o jantar, comer e descer ao café», é possível substituir o de por para?

«Enquanto estavas a dormir, ela teve tempo para fazer o jantar, comer e descer ao café.»

Obrigada!

Resposta:

É possível usar as duas preposições: 

(1) «enquanto estavas a dormir, ela teve tempo de fazer o jantar, comer e descer ao café»;

(2) «enquanto estavas a dormir, ela teve tempo para fazer o jantar, comer e descer ao café».

De acordo com o Dicionário Prático de Regência Nominal de Celso Pedro Luft (pág. 496), tempo rege as preposições de e para com o sentido de: «tempo [ocasião, oportunidade] de (fazer) alguma coisa».

Note-se que a preposição de é frequentemente utilizada para indicar uma ação que pode ser realizada dentro de um determinado período, enfatizando a possibilidade ou capacidade de realizar algo. Por outro lado, a preposição para tende a sugerir uma finalidade ou objetivo relacionado ao tempo, indicando que uma ação é esperada ou desejada durante um determinado intervalo. Por essa razão, a opção por uma preposição ou outra pode alterar subtilmente a ênfase da frase, influenciando a perceção do leitor sobre a ação e sua relação com o tempo disponível.

Pergunta:

Qual é a forma correta? «Andar na giraldinha» ou «Andar na giraldina»?

Resposta:

A expressão idiomática está atestada das duas formas, i. e., «andar na giraldina» e «andar na giraldinha», e significa «passar o tempo em diversões, em festas; viver despreocupadamente» (António Nogueira Santos, Novos Dicionários de Expressões IdiomáticasEdições João Sá da Costa, 2006, e Dicionário da Língua Portuguesa da Academia das Ciências de Lisboa). 

Segundo o Dicionário da Língua Portuguesa da Academia das Ciências de Lisboa, o termo giraldinha deriva do verbo girar, enquanto a Infopédia sugere que se forma a partir do antropónimo Giralda, com o sufixo -inha. Em ambos os casos, a palavra evoca a ideia de movimento e leveza, sugerindo uma vida despreocupada, que gira em torno de momentos de prazer e alegria.

Estes mesmos dicionários não atestam giraldina, mas o dicionário Priberam sim, com o significado de: «ação de andar, para cá e para lá, ação de girar; correria, lufa-lufa». 

É provável que giraldinha represente uma forma mais antiga da expressão, uma vez que aparece no dicionário de Cândido de Figueiredo na sua primeira edição, publicada em 1899. Além disso, a referência a giraldinha também pode ser encontrada no dicionário Caldas Aulete, o qua...