Sara de Almeida Leite - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Sara de Almeida Leite
Sara de Almeida Leite
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Licenciada em Línguas e Literaturas Modernas, variante de Português e Inglês, pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa; mestre em Estudos Anglo-Portugueses; doutorada em Estudos Portugueses, especialidade de Ensino do Português; docente do ensino superior politécnico; colaboradora dos programas da RDP Páginas de Português (Antena 2) e Língua de Todos (RDP África). Autora, entre outras obras, do livro Indicações Práticas para a Organização e Apresentação de Trabalhos Escritos e Comunicações Orais ;e coautora dos livros SOS Língua Portuguesa, Quem Tem Medo da Língua Portuguesa, Gramática Descomplicada e Pares Difíceis da Língua Portuguesa e Mais Pares Difíceis da Língua Portuguesa.

 
Textos publicados pela autora

Pergunta:

Gostaria de saber como se chamam os nativos de Port Elizabeth. Tal como os nativos de Lisboa se podem chamar alfacinhas, olisiponenses, lisboninos, lisbonenses, lisboetas, lisboneses, lisboeses, de certeza que os nativos de Port Elizabeth, na África do Sul, também terão o seu nome topónimo.

Muito obrigada pela vossa rápida resposta.

Resposta:

Tanto quanto pude apurar, não está atestado em português um antropónimo para os naturais de Port Elizabeth, que devem ser assim designados.

Não me parece uma opção viável empregar os neologismos “port-elisabetano” ou “port-isabelino”, como tradução para Port Elizabethan.

Infelizmente, nem todos os topónimos têm um antropónimo equivalente! Confira outra resposta do Ciberdúvidas, a propósito dos habitantes naturais de Tóquio.

Pergunta:

A pergunta é: as palavras responsivo/responsividade podem ser utilizadas para indicar uma alteração no estado de consciência. Do inglês «this patient is not responsive».

Resposta:

A palavra responsivo existe em português, conforme esclarece uma resposta do Ciberdúvidas. O seu significado é «que envolve resposta» (www.priberam.pt) ou «que serve de resposta, de solução a uma pergunta; correlativo a».

O adjectivo inglês responsive assume diversos significados, sendo portanto mais abrangente, em termos semânticos. No âmbito da fisiologia, qualifica aquilo ou aquele «que responde, que reage a um estímulo». Nesse sentido, parece-me que em português é mais correcto dizer que um paciente reage ou não reage (do que qualificá-lo como "responsivo") para traduzir a ideia de is/is not responsive. Não sei, no entanto, se é a isto que o consulente se refere quando pergunta se «as palavras responsivo/responsividade podem ser utilizadas para indicar uma alteração no estado de consciência».

Quanto à tradução de responsiveness, como a «qualidade ou estado de quem reage ou responde», o neologismo "responsividade" não está, por enquanto, atestado em português. Independentemente disso, e dadas as limitações do significado do adjectivo responsivo em português, eu desaconselharia o uso de "responsividade" para traduzir responsiveness.

Não obstante o que expus atrás, devo referir que os termos responsivo e responsividade têm vindo a ser usados em português com o mesmo sentido que responsive e responsiveness têm na lín...

Pergunta:

Na frase «Pois de todos os responsáveis por uma má notícia, o mensageiro é quem sempre paga, primeiro, porque é o que está mais à mão», qual é a classe gramatical de «responsáveis»? Fui informada de que se trata de um substantivo, mas não estou convencida. Está correto argumentar que «responsáveis» corresponde a um termo que qualifica um ser (p. ex.: «de todos os [homens] responsáveis por uma má notícia...») e, assim, poderia ser classificado como adjetivo? Quando comparo a frase em apreço com estas: «Os homens são bons»; «Os homens são inteligentes»; «Os homens são responsáveis»/«Os homens bons serão reconhecidos»; «Os homens inteligentes...»; «Os homens responsáveis...»/«Os bons serão reconhecidos»; «Os inteligentes...»; «Os responsáveis...», penso que o termo responsáveis, na frase em questão, é, de fato, adjetivo. Por gentileza, esclareçam essa dúvida.

Muito obrigada! Parabéns pelo trabalho!

Resposta:

O adjectivo e o nome são muitas vezes confundidos precisamente porque, frequentemente, a mesma palavra pode pertencer a ambas as classes, sendo o contexto em que aparece fundamental para determinar a sua categoria sintáctica.

Podemos dizer que a palavra responsável — como rico, bom, ou velho — é, antes de mais, um adjectivo, pois designa uma qualidade atribuída ao substantivo que a acompanha e com o qual estabelece uma relação de concordância em género e número. Por exemplo, na frase «Os homens responsáveis serão reconhecidos», a palavra «responsáveis» qualifica o nome «homens» e concorda com este em número, apresentando por isso a marca de plural -eis.

Porém, os próprios dicionários atestam que palavras como responsável, rico, bom, velho, etc. podem também ser substantivos. Isto verifica-se na frase «de todos os responsáveis por uma má notícia, o mensageiro é quem sempre paga». Aqui, o termo «responsáveis» é que comanda a flexão dos determinantes («todos os») e não qualifica propriamente um nome implícito, mas está no plural por correspondência com a realidade que designa. Neste caso, um responsável é uma «pessoa que tem responsabilidade», ou uma «Entidade a quem se pode atribuir a causa de uma situação ou facto» (Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea).

O uso de adjectivos como responsável, rico, bom, velho, etc. como substantivos decorre de um processo de criação vocabular a que se dá o nome de conversão ou derivação imprópria, segundo o qual uma palavra de determinada classe dá origem a outra, com a mesma forma, mas de classe gramatical distinta.

Respon...

Pergunta:

Pela consulta do Dicionário Houaiss, verifiquei que chocolat- é um elemento de formação que provém do espanhol. Não encontrei "choco-". Posso assim concluir que será mais correcto dizer "chocolatoterapia", e não "chocoterapia"?

Agradeço toda a atenção.

Resposta:

Com efeito, chocolat-, o radical de origem castelhana (vindo, ao que parece, do nauatle chocolatl, ou xocolatl), é que deve estar na base de compostos e derivados como chocolateira, chocolateiro, “chocolataria” (a loja onde se vendem chocolates), “chocolatoterapia”, ou outros que os falantes venham a criar. 

Porém, é notória a frequência com que o termo “chocoterapia” aparece na Internet (1810 ocorrências no Google), em detrimento de “chocolatoterapia” (18 ocorrências), para designar o tratamento de beleza e bem-estar tão em voga nos nossos dias.

Na minha opinião, isto deve-se a duas razões: por um lado, “chocolatoterapia”, com as suas 8 sílabas, é uma palavra demasiado comprida, cuja sonoridade se torna desagradável. Por outro lado, o uso da abreviação “choco” para designar chocolate já está bem implantado no mercado, onde existem diversos produtos fabricados com chocolate vendidos sob a designação de “choc” ou “choco” seguida de outro termo, como “branco”, por exemplo. O que aconteceu então, a meu ver, foi ter-se optado uma forma truncada do radical chocolat- (apenas choco-) para formar o composto, com terapia

No entanto, se buscarmos argumentos mais eruditos, podemos sustentar, em favor de “chocoterapia”, que o termo xocolatl terá sido forjado pelos conquistadores espanhóis e é na verdade constituído por dois radicais: a palavra maia chocol, que significa «amargo», e a palavra asteca atl, «água». Assim, usar-se-á em português apenas o primeiro, chocol-, que de resto é o mais significativo.

Nota: a teoria que aqui referi é do filólogo mexicano Ignacio Davila Garibi e enc...

Pergunta:

Como se deve pronunciar a palavra regabofe? "Régabofe" ou "regabofe"?

Resposta:

De acordo com o Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea, o primeiro <e> de regabofe é aberto: [é]. Trata-se, portanto, de um composto que mantém as características fonológicas (e gráficas) das palavras que estão na sua base (rega, do verbo regar + bofe).