Sara de Almeida Leite - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Sara de Almeida Leite
Sara de Almeida Leite
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Licenciada em Línguas e Literaturas Modernas, variante de Português e Inglês, pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa; mestre em Estudos Anglo-Portugueses; doutorada em Estudos Portugueses, especialidade de Ensino do Português; docente do ensino superior politécnico; colaboradora dos programas da RDP Páginas de Português (Antena 2) e Língua de Todos (RDP África). Autora, entre outras obras, do livro Indicações Práticas para a Organização e Apresentação de Trabalhos Escritos e Comunicações Orais ;e coautora dos livros SOS Língua Portuguesa, Quem Tem Medo da Língua Portuguesa, Gramática Descomplicada e Pares Difíceis da Língua Portuguesa e Mais Pares Difíceis da Língua Portuguesa.

 
Textos publicados pela autora

Pergunta:

A pergunta é: as palavras responsivo/responsividade podem ser utilizadas para indicar uma alteração no estado de consciência. Do inglês «this patient is not responsive».

Resposta:

A palavra responsivo existe em português, conforme esclarece uma resposta do Ciberdúvidas. O seu significado é «que envolve resposta» (www.priberam.pt) ou «que serve de resposta, de solução a uma pergunta; correlativo a».

O adjectivo inglês responsive assume diversos significados, sendo portanto mais abrangente, em termos semânticos. No âmbito da fisiologia, qualifica aquilo ou aquele «que responde, que reage a um estímulo». Nesse sentido, parece-me que em português é mais correcto dizer que um paciente reage ou não reage (do que qualificá-lo como "responsivo") para traduzir a ideia de is/is not responsive. Não sei, no entanto, se é a isto que o consulente se refere quando pergunta se «as palavras responsivo/responsividade podem ser utilizadas para indicar uma alteração no estado de consciência».

Quanto à tradução de responsiveness, como a «qualidade ou estado de quem reage ou responde», o neologismo "responsividade" não está, por enquanto, atestado em português. Independentemente disso, e dadas as limitações do significado do adjectivo responsivo em português, eu desaconselharia o uso de "responsividade" para traduzir responsiveness.

Não obstante o que expus atrás, devo referir que os termos responsivo e responsividade têm vindo a ser usados em português com o mesmo sentido que responsive e responsiveness têm na lín...

Pergunta:

Na frase «Pois de todos os responsáveis por uma má notícia, o mensageiro é quem sempre paga, primeiro, porque é o que está mais à mão», qual é a classe gramatical de «responsáveis»? Fui informada de que se trata de um substantivo, mas não estou convencida. Está correto argumentar que «responsáveis» corresponde a um termo que qualifica um ser (p. ex.: «de todos os [homens] responsáveis por uma má notícia...») e, assim, poderia ser classificado como adjetivo? Quando comparo a frase em apreço com estas: «Os homens são bons»; «Os homens são inteligentes»; «Os homens são responsáveis»/«Os homens bons serão reconhecidos»; «Os homens inteligentes...»; «Os homens responsáveis...»/«Os bons serão reconhecidos»; «Os inteligentes...»; «Os responsáveis...», penso que o termo responsáveis, na frase em questão, é, de fato, adjetivo. Por gentileza, esclareçam essa dúvida.

Muito obrigada! Parabéns pelo trabalho!

Resposta:

O adjectivo e o nome são muitas vezes confundidos precisamente porque, frequentemente, a mesma palavra pode pertencer a ambas as classes, sendo o contexto em que aparece fundamental para determinar a sua categoria sintáctica.

Podemos dizer que a palavra responsável — como rico, bom, ou velho — é, antes de mais, um adjectivo, pois designa uma qualidade atribuída ao substantivo que a acompanha e com o qual estabelece uma relação de concordância em género e número. Por exemplo, na frase «Os homens responsáveis serão reconhecidos», a palavra «responsáveis» qualifica o nome «homens» e concorda com este em número, apresentando por isso a marca de plural -eis.

Porém, os próprios dicionários atestam que palavras como responsável, rico, bom, velho, etc. podem também ser substantivos. Isto verifica-se na frase «de todos os responsáveis por uma má notícia, o mensageiro é quem sempre paga». Aqui, o termo «responsáveis» é que comanda a flexão dos determinantes («todos os») e não qualifica propriamente um nome implícito, mas está no plural por correspondência com a realidade que designa. Neste caso, um responsável é uma «pessoa que tem responsabilidade», ou uma «Entidade a quem se pode atribuir a causa de uma situação ou facto» (Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea).

O uso de adjectivos como responsável, rico, bom, velho, etc. como substantivos decorre de um processo de criação vocabular a que se dá o nome de conversão ou derivação imprópria, segundo o qual uma palavra de determinada classe dá origem a outra, com a mesma forma, mas de classe gramatical distinta.

Respon...

Pergunta:

Pela consulta do Dicionário Houaiss, verifiquei que chocolat- é um elemento de formação que provém do espanhol. Não encontrei "choco-". Posso assim concluir que será mais correcto dizer "chocolatoterapia", e não "chocoterapia"?

Agradeço toda a atenção.

Resposta:

Com efeito, chocolat-, o radical de origem castelhana (vindo, ao que parece, do nauatle chocolatl, ou xocolatl), é que deve estar na base de compostos e derivados como chocolateira, chocolateiro, “chocolataria” (a loja onde se vendem chocolates), “chocolatoterapia”, ou outros que os falantes venham a criar. 

Porém, é notória a frequência com que o termo “chocoterapia” aparece na Internet (1810 ocorrências no Google), em detrimento de “chocolatoterapia” (18 ocorrências), para designar o tratamento de beleza e bem-estar tão em voga nos nossos dias.

Na minha opinião, isto deve-se a duas razões: por um lado, “chocolatoterapia”, com as suas 8 sílabas, é uma palavra demasiado comprida, cuja sonoridade se torna desagradável. Por outro lado, o uso da abreviação “choco” para designar chocolate já está bem implantado no mercado, onde existem diversos produtos fabricados com chocolate vendidos sob a designação de “choc” ou “choco” seguida de outro termo, como “branco”, por exemplo. O que aconteceu então, a meu ver, foi ter-se optado uma forma truncada do radical chocolat- (apenas choco-) para formar o composto, com terapia

No entanto, se buscarmos argumentos mais eruditos, podemos sustentar, em favor de “chocoterapia”, que o termo xocolatl terá sido forjado pelos conquistadores espanhóis e é na verdade constituído por dois radicais: a palavra maia chocol, que significa «amargo», e a palavra asteca atl, «água». Assim, usar-se-á em português apenas o primeiro, chocol-, que de resto é o mais significativo.

Nota: a teoria que aqui referi é do filólogo mexicano Ignacio Davila Garibi e enc...

Pergunta:

Como se deve pronunciar a palavra regabofe? "Régabofe" ou "regabofe"?

Resposta:

De acordo com o Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea, o primeiro <e> de regabofe é aberto: [é]. Trata-se, portanto, de um composto que mantém as características fonológicas (e gráficas) das palavras que estão na sua base (rega, do verbo regar + bofe).

Pergunta:

Poder-se-á dizer que sinopse é um pequeno resumo, enquanto um resumo é um texto mais elaborado, onde são abordados os aspectos mais importantes e relevantes e com alguma profundidade? Será que na sinopse poder-se-á fazer uma crítica ou uma análise, enquanto no resumo isso não é possível?

Será que o nosso ponto de vista poderá ser focado numa sinopse e não num resumo?

Resposta:

Se consultarmos os dicionários de língua portuguesa, concluiremos que os termos sinopse e resumo podem ser usados como sinónimos, uma vez que ambos designam «relato breve; síntese; sumário» (Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa). A extensão, tanto de uma como do outro, depende de diversos factores, sendo o mais óbvio a dimensão da própria obra que é alvo de síntese. 

No entanto, há quem defenda que o termo sinopse é mais adequado no contexto dos trabalhos académicos e científicos, porque tem um significado mais específico do que o simples resumo, referindo-se expressamente à visão de conjunto de uma teoria, de um tratado científico, de uma tese. 

Por outro lado, a palavra sinopse tem sido usada nos meios comerciais, designando um pequeno texto que dá uma ideia do conteúdo de uma obra, servindo para promovê-la ou publicitá-la. É neste âmbito que algumas sinopses poderão apresentar o “ponto de vista” do crítico, como a consulente sugere, sobre o livro ou filme em questão. Contudo, não é esse o objectivo de uma sinopse, nem tão-pouco o de um resumo. Na minha opinião, a sinopse em que se veicula uma opinião sobre a matéria em análise deveria chamar-se, mais adequadamente, recensão.