Maria Regina Rocha - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
 
Textos publicados pela autora

Pergunta:

Gostaria de saber como se escreve mola mestra (com ou sem hífen) e como é o seu plural (molas-mestra??).
Obrigada.

Resposta:

Este termo não está dicionarizado com hífen. Deverá escrever-se mola mestra, molas mestras, tal como, por exemplo, trave mestra, traves mestras, parede mestra, paredes mestras.

Pergunta:

Olá, meu nome é Ariane Frenda, sou estudante de Letras. Gostaria de tirar uma dúvida que está me consumindo.
Não estou conseguindo chegar a nenhuma conclusão quanto à análise sintática desta oração: "As mudanças passaram desapercebidas pelas pessoas". Em princípio, achei que "desapercebidas" poderia ser um adjunto adverbial de modo. Pensei até no caso da "cerveja que desce redondo". Mas isso não é possível pois o termo está flexionado em gênero e número.
Então pensei na possibilidade do verbo "passaram" ter adquirido a característica de verbo de ligação e o termo "desapercebidas" ser um predicativo do sujeito.
Mas mesmo assim eu não me contento, pois ainda acho que desapercebidas não é uma característica de "as mudanças" e sim do modo como "as mudanças passaram".
Será que você pode me trazer uma resposta plausível para minha questão?
Muito obrigada.

Resposta:

Em primeiro lugar, gostaria de esclarecer que é uma incorrecção frequente o emprego de desapercebido por despercebido. Desapercebido significa desprevenido, desacautelado, desprovido, desguarnecido, enquanto despercebido significa que se não notou, a que se não deu atenção ou importância, pelo que me parece que a consulente pretende utilizar a palavra “despercebido”: «As mudanças passaram despercebidas às pessoas.», ou seja, as pessoas não notaram as mudanças.
Agora, como se classifica o termo “despercebidas”? Trata-se do nome predicativo do sujeito. É um termo que completa o sentido do predicado (passaram) e caracteriza o sujeito (mudanças), concordando com este em género e número. O verbo “passar” não é um verbo de ligação, mas é um dos verbos significativos que se podem construir com predicativo do sujeito, formando o que alguns gramáticos designam de predicado verbo-nominal.

Pergunta:

Deparei-me recentemente num dos jornais diários com o título que transcrevo textualmente: "Marcelo nega que incidente da saída da TVI serviu para preparar candidatura a Belém". O verbo da oração subordinada não tem que estar no conjuntivo?
Agradeço os vossos esclarecimentos.

Resposta:

Sim, caro consulente, o verbo da oração subordinada integrante (servir) tem de estar no conjuntivo.
Seriam frases correctas «Marcelo nega que incidente da saída da TVI sirva para preparar candidatura a Belém» ou «Marcelo nega que incidente da saída da TVI tenha servido para preparar candidatura a Belém».
Esse conjuntivo é pedido pelo verbo superior, ou seja, pelo verbo da oração principal subordinante, que, neste caso, é o verbo negar. O modo verbal das orações integrantes (ou completivas) depende do tipo de verbo utilizado na respectiva oração subordinante.
1. Se nessa oração tiver sido utilizado um verbo simplesmente com valor declarativo (exemplos: concluir, confessar, dizer, referir, prometer) no presente do indicativo, o modo da oração integrante é normalmente o indicativo. Exemplos:
a) Ele diz que o incidente não serviu...
b) Ele insiste em que o incidente não serve...
c) Ele promete que o incidente não servirá...
2. Se na oração subordinante tiver sido utilizado um verbo que exprima vontade, sentimento, apreciação, dúvida, o modo verbal utilizado na oração subordinada integrante é o conjuntivo. Exemplos de verbos que exigem que o verbo da oração integrante vá para o conjuntivo: querer, desejar, pretender, gostar, lamentar, esperar, desculpar, desaprovar, censurar, duvidar, recusar, negar. Exemplos:
a) Ele quer que o incidente sirva...
b) Ele deseja que o incidente sirva...
c) Ele gostaria de que o incidente servisse...
d) Ele recusa que o incidente sirva...
e) Ele nega que o incidente sirva...

Pergunta:

Deve dizer-se «Os manuais adoptados são passíveis de ser reutilizados» ou «Os manuais adoptados são passíveis de serem reutilizados»?

Resposta:

A frase que apresenta deverá ter o verbo «ser» no infinitivo impessoal: ser, e não "serem".
Para solucionar uma dúvida deste género, poderia substituir a forma verbal superior («são passíveis») por outra de sentido semelhante, por exemplo, «Os manuais adoptados podem ser reutilizados». Assim, verificaria de imediato que teria de usar o infinitivo impessoal. E, como nota final, refira-se que esta última frase ganharia em elegância em relação à que apresenta, prejudicada pela aliteração em «s» e a repetição do verbo «ser» (são, ser).

Pergunta:

As figuras de estilo (ou figuras de retórica, ou figuras de linguagem) constituem apenas alguns recursos estilísticos, existindo outros que não são considerados figuras de estilo. No entanto, não encontro uma distinção clara entre as ditas figuras de estilo e outros recursos estilísticos. Por exemplo, muitas gramáticas referem que as onomatopeias não são "em rigor" figuras de estilo, mas não dão mais explicações sobre o assunto. Obrigada pela ajuda.

Resposta:

Dá-se o nome de «recurso estilístico» a todo o processo linguístico de que um autor se serve para exprimir com facilidade, propriedade ou originalidade os seus pensamentos. Por exemplo, o uso frequente de onomatopeias poderá ser um recurso para evidenciar determinadas sensações físicas ou estados de alma, a adjectivação rica e sugestiva poderá ser um recurso destinado a traduzir uma percepção particular da realidade a caracterizar... No entanto, nem a onomatopeia nem o adjectivo são figuras de estilo. São, sim, denominações morfológicas, são classes de palavras. Uma determinada classe de palavras usada frequentemente ou sugestivamente por um escritor pode ser uma marca do seu estilo.

Quanto às “figuras” de estilo (ou “figuras” gramaticais ou “figuras” de retórica), elas constituem um campo particular dos recursos estilísticos. Este termo remonta à antiguidade grega. Na Grécia, no campo da retórica, criaram-se figuras gramaticais destinadas a uma maior correcção e elegância de estilo: as figuras de pensamento, as figuras de sintaxe e os tropos. As figuras consistem numa alteração da forma neutra da frase, aumentando, diminuindo, transpondo, repetindo, substituindo ou associando sons ou palavras de modo a dar mais relevo, cor, originalidade ao que se pretende transmitir. E as figuras assumem características próprias, claras, rígidas, definidas desde essa altura. Sempre que se traduz uma ideia segundo uma dessas formas fixas, está-se a utilizar uma determinada figura gramatical.

 

N.E. – Sobre este tema, veja-se a seguinte explicação no sítio Figura da Línguagem