Maria Regina Rocha - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
 
Textos publicados pela autora

A propósito dos diferentes pontos à volta da questão apresentada pela professora Isabel Santiago sobre a função sintática do pronome se na frase «Diz-se que o João é bom aluno?», fica em linha também este texto de Maria Regina Rocha.

 

Na oração «Diz-se que o João é bom aluno», o «se» é uma partícula apassivante (nomenclatura tradicional), também chamado «clítico se passivo», e, portanto, a oração «que o João é bom aluno» desempenha a função sintática de sujeito.

Pergunta:

Por favor, qual a circunstância que a preposição com indica na frase: «Com três anos, menino fugiu de casa.»?

Resposta:

A expressão «com três anos» exprime uma circunstância de tempo.

Poderá ser substituída pelo termo «aos três anos» ou pela oração subordinada temporal «quando tinha três anos».

Na frase «Estava precioso: tinha fígado e tinha moela: o seu perfume enternecia: três vezes fervorosamente, ataquei aquele caldo.», o uso dos dois pontos não segue a norma.

A obra A Cidade e as Serras foi publicada em 1901, um ano após a morte de Eça de Queirós, que faleceu antes de ter conseguido fazer a revisão total das provas desta obra. Assim, embora na primeira edição a pontuação da frase seja a que é acima transcrita, há edições em que a frase apresenta a seguinte pontuação:

Pergunta:

O prefixo auto-, na palavra auto brilho (produto destinado à limpeza de automóveis), receberá ou não o hífen?

Resposta:

Começo a resposta à pergunta referindo uma outra palavra: autobrilhante.

Segundo as normas do Acordo Ortográfico, a palavra autobrilhante (que não surge registada em dicionários) deverá escrever-se com os dois elementos unidos, sem hífen: autobrilhante. Quanto à sua formação, deverá dizer-se que esta palavra entra da designação de um certo tipo de produtos e foi criada com óbvias intenções de natureza publicitária. Assim, o adjetivo autobrilhante é formado pelo adjetivo brilhante e pelo elemento auto- (de origem grega), que em português significa «eu mesmo», «próprio», «independente», «por si mesmo». Surge, por exemplo, nas seguintes palavras: autoavaliação (processo de se avaliar a si próprio), autobiografia (relato da vida de um indivíduo escrito por ele próprio), autocombustão (combustão espontânea de uma substância), autodefesa (ato de se defender pelos seus próprios meios).

A palavra autobrilhante aparece associada a marcas de pomadas para calçado, de cera ou emulsão para pavimentos, etc. Nestes contextos, a palavra é formada pelo referido elemento auto-, de origem grega. A pomada ou a cera, quando aplicadas, fazem com que o calçado, o pavimento ou o que for brilhe por si próprio, sem ser preciso puxar o lustro.

Quanto ao termo Auto Brilho, ele é criado num contexto de serviços ou produtos a aplicar em automóveis (empresa que fornece uma série de serviços relativos ao automóvel e creme para aplicar em automóveis). Quer a empresa quer o creme fazem com que o automóvel brilhe, fique bonito, seja bem tratado. No entanto, nem a empresa brilha por si própria nem o creme o faz (é preciso puxar o lustro, e bem). Aqui, o elemento auto é, assim, uma redução da palavra automóvel. E os seus criadores conceberam um termo formado por duas palavras — Auto Brilho — o que é perfeitamente normal em contexto industr...

Pergunta:

Qual a frase mais correcta? «Não tornar acessíveis a terceiros os seus PINs ou códigos secretos», ou «Não tornar acessível a terceiros os seus PINs ou códigos secretos»?

Resposta:

A única frase correta é «Não tornar acessíveis a terceiros os seus PIN ou códigos secretos». O adjetivo acessíveis tem de concordar em número com o substantivo ao qual diz respeito (códigos).

Aproveito para dizer que o termo PIN (personal identification number) não sofre variação de número, isto é, não sofre a marca do plural. As siglas e os acrónimos escritos em maiúscula são invariáveis.