Maria Regina Rocha - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
 
Textos publicados pela autora

Pergunta:

Deverá dizer-se, a propósito da nova TLEBS, “Que alterações é que vão haver?” ou “Que alterações é que vai haver?” E porquê?

Resposta:

«Que alterações é que vai haver?» é a frase correcta. O verbo haver no sentido de existir não tem sujeito («alterações» é o complemento directo) e, portanto, só se conjuga na 3.ª pessoa do singular: « alterações», «houve alterações», «haverá alterações»... Se o verbo for conjugado com um auxiliar – no caso, o verbo ir («vai haver»), que confere ao verbo haver a ideia de futuro –, mantém-se a regra do uso da 3.ª pessoa do singular, pois não se trata da acção de ir mas da de haver.

Pergunta:

Fiquei realmente surpreendido com a resposta que me foi dada relativamente à questão do bilião e outros, a qual agradeço imenso, pois não esperava ser tão completa quanto aos aspectos que eu referi.
Envio-vos outra pergunta. Sempre me disseram que o feminino de cavaleiro era amazona, uma vez que ficaram célebres umas míticas guerreiras da Antiguidade que montariam a cavalo. No entanto, recentemente tenho ouvido dizer muito "cavaleira" em vez de "amazona". Creio que o modo correcto é "amazona", mas posso estar enganado e gostaria de ser esclarecido, se possível.

Resposta:

O feminino de cavaleiro é cavaleira. A palavra cavaleira, que já aparece, por exemplo, nas Lendas e Narrativas, de Alexandre Herculano (séc. XIX), é o termo normalmente utilizado para designar a mulher que monta a cavalo.

O termo amazona também era (e é) utilizado como feminino de cavaleiro, mas predominantemente para designar a senhora que montava a cavalo, de lado, com uma saia comprida. Durante a época medieval, não era considerado próprio uma senhora montar normalmente. Por isso, desenvolveu-se o monte à amazona, com as duas pernas da cavaleira do lado esquerdo do cavalo. Hoje em dia, o monte à amazona está novamente a ganhar popularidade, havendo centros hípicos que desenvolvem esta modalidade hípica.

Essa saia comprida usada pelas mulheres para montar a cavalo tem mesmo o nome de amazona.

As Amazonas, como diz, são figuras fabulosas, a que os Gregos atribuíam existência histórica, oriundas do Cáucaso e que viviam na Ásia Menor. Eram mulheres guerreiras, que montavam e lutavam a cavalo. Segundo a Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira, as antigas tradições africanas também falam das Amazonas que, sob a direcção da sua rainha Mirina, subjugaram os Atlantes, númides, etíopes e gorgões, fundando uma cidade nas margens do lago Tritão, onde foram exterminadas por Hércules.

Assim, actualmente utiliza-se o termo cavaleira para designar a mulher que monta a cavalo, que participa em provas de hipismo, mas o termo amazona continua a existir e pode ser utilizado em termos poéticos ou quando se pretende referir uma senhora que monta a cavalo «à amazona», ou seja, de lado.

Pergunta:

Tenho uma dúvida relativa aos elfos, seres da mitologia dos povos nórdicos. Qual é o seu feminino? Em alguns romances e legendas de filmes costuma aparecer “a elfo”, mas, como me soa mal, já que costumamos terminar as palavras deste género no singular maioritariamente em “a”, gostaria de saber se não seria possível dizer “a elfa” ou qualquer outra palavra que lhe corresponda e até nem seja parecida.

Resposta:

A palavra elfo não tem forma feminina. Na mitologia escandinava, o elfo é um génio que simboliza o ar, o fogo, a terra, etc., representado como um anão com poderes mágicos. Hoje, com a existência de novas ficções que concebem elfos como figuras femininas, é admissível que o substantivo se transforme em comum de dois: «o elfo», «a elfo». Chama-se comum de dois àquele substantivo que mantém a mesma forma no masculino e no feminino, apenas se distinguindo um género do outro pelo artigo que o precede: «o doente», «a doente»; «o pianista», «a pianista»; «o mártir», «a mártir»; «o intérprete», «a intérprete»; «o jovem», «a jovem»…

Pergunta:

A minha dúvida é acerca da agora muito falada TLEBS. No fundo, que alterações é que vai haver?
Sem mais assunto, obrigado e saúde a todos!

Resposta:

TLEBS é uma sigla que significa Terminologia Linguística para os Ensinos Básico e Secundário. Esta terminologia foi mandada adoptar pela portaria n.º 1488/2004, de 24 de Dezembro.
Ora a sua pergunta, caro consulente, exige uma resposta muito vasta, uma resposta que foge do âmbito desta página, pois seriam necessárias muitas páginas, mesmo uma obra, para explicar todas as alterações que a TLEBS introduziu na designação, descrição e instituição dos factos da língua portuguesa em relação à Nomenclatura Gramatical Portuguesa (NGP), que vigorou até à data da publicação da referida portaria.
No entanto, de uma forma genérica, poderei referir as seguintes alterações:
1. A TLEBS organiza-se em quatro domínios (A – Língua, comunidade linguística, variação e mudança; B – Linguística descritiva; C – Dicionário; D – Representação gráfica da linguagem), enquanto a NGP (Nomenclatura Gramatical Portuguesa) organizava os factos linguísticos em três partes, duas fundamentais (a Morfologia e a Sintaxe) e uma terceira intitulada “Outra nomenclatura linguística mais necessária ao ensino”.

2. Cada domínio da TLEBS organiza-se em subdomínios, e cada parte da NGB organizava-se em capítulos, sendo diferentes não só a forma de organização como os respectivos conteúdos.

2.1. TLEBS – Terminologia Linguística para os Ensinos Básico e Secundário
A. Língua, Comunidade Linguística e Mudança
A1) Comunidade linguística
A2) Língua e falante
A3) Variação e normalização linguística
A4) Tipologia linguística
A5) Contacto entre línguas
A6) Mudança linguística

B. Linguística Descritiva
B1) Fonética e fonologia
B2) Morfologia
B3) Classes de palavras
B4) Sintaxe
B5) Semântica lexical
B6) Semântica frásica <...

    A letra k não figura oficialmente no alfabeto de língua portuguesa, salvo em casos excepcionais. Mas, nas comunicações na Internet, os chamados “chats”, o seu uso tem-se generalizado, sobretudo entre as camadas mais jovens, que no símbolo k sintetizam o c e o qu.
     São códigos que surgem espontaneamente, que funcionam, e a isso nada temos a opor, desde que os seus utilizadores saibam que esse uso tem um context...