Maria Regina Rocha - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
 
Textos publicados pela autora

Pergunta:

Gostaria de saber o processo filológico-românico das expressões dantes, d´antes e antes, para uma pesquisa de expressões de Lula e de Camões.

Grata pela atenção.

Resposta:

1. Antes (do latim ante) é um advérbio que indica prioridade de ordem, de lugar ou de tempo. Também se utiliza como advérbio de modo, no sentido de «preferencialmente», e como conjunção adversativa (no sentido de «ao contrário»).

Exemplos:

(1) Como advérbio que indica prioridade de ordem: «O meu carro é o terceiro da fila. Não estás a ver que há dois antes
(2) Como advérbio que indica prioridade de lugar: «Na estrada de Coimbra para Lisboa, Leiria fica a 80 quilómetros de Coimbra; Pombal fica antes
(3) Como advérbio que indica prioridade de tempo (= anteriormente): «Fui jantar com os meus amigos e, antes, tinha ido à cabeleireira.» «Assisti só à última cena; não sei o que se passou antes
(4) Como advérbio de modo (= preferencialmente): «Ela antes quer ser amada do que admirada.» «Antes um bom emprego do que uma boa herança.»
(5) Como conjunção adversativa: «Ela não foge do trabalho, antes o abraça com entusiasmo.»

1.1. Normalmente, este advérbio forma uma locução com a preposição de: antes de. Esta locução pode introduzir tanto uma expressão substantiva (exemplos 6, 7 e 9) como um infinitivo (exemplos 8 e 10).

Exemplos:

(6) Prioridade de lugar: «Para quem olha para o mapa de norte para sul, Coimbra fica antes de Lisboa.»
(7) Prioridade de ordem: «Numa lista alfabética, o nome dele vem antes do da irmã.»
(8) Prioridade de ordem: «Nesta receita, batem-se os ovos antes de se adicionar o leite.»
(9) Prioridade de tempo: «Faz bem comer a fruta antes da sopa.»
(10) Prioridade de tempo: «Ele vai casar antes de terminar o curso.»

1.2. Este advérbio forma uma locução conjuncional de tempo com a partícula que: antes que.

Exemplo:

(11) «Quero acabar este trabalho antes que a minha mãe chegue.»

2. Dantes (de + antes)...

Pergunta:

Já li o que está escrito sobre a origem de entrudo. Há dias, porém, alguém que "sabe" afirmou que no Carnaval, usando dos disfarces das folias da época carnavalesca, era dada a determinados prisioneiros a oportunidade de "disfarçados" visitarem os seus familiares regressando depois à reclusão. A palavra entrudo teria origem em entra-tudo...

Nesta mistura de disfarces entrava... tudo...

Terá esta história algum fundamento?

Obrigado pela vossa atenção.

Resposta:

Não tenho dados para lhe dizer se o relato que faz tem algum fundamento, embora tal me pareça pouco provável.

No entanto, quanto à palavra Entrudo, posso dizer-lhe que não tem nada que ver com prisioneiros. Como referi em resposta anterior, a palavra Entrudo provém do latim introitus, que significa «acto de entrar, entrada, acesso, introdução, começo». Nos textos medievais, aparecem registados os termos entruido e entroydo. Mais tarde, o termo apresenta a grafia com i: Intrudo. O Entrudo começou por designar a noite de terça-feira, que era a entrada da Quaresma; depois a própria terça-feira e, finalmente, os três dias que precedem imediatamente a entrada da Quaresma.

Pergunta:

Gostaria de saber qual o termo mais correcto: «poder paternal», ou «poder parental»?

Muito obrigada.

Resposta:

No Código Civil português, o termo utilizado para designar o exercício de certa autoridade jurídica e moral sobre os filhos é poder paternal. Segundo o artigo 1878.º desse código, «compete aos pais, no interesse dos filhos, velar pela segurança e saúde destes, prover ao seu sustento, dirigir a sua educação, representá-los, ainda que nascituros, e administrar os seus bens» e, segundo o artigo 1877.º do mesmo código, «os filhos estão sujeitos ao poder paternal até à maioridade ou emancipação». A palavra paternal é formada do adje{#c|}tivo latino paternus, este do substantivo pater, que significa «pai».

Quanto a parental, esta palavra também provém do latim (parentalis) e tanto significa «relativo a pai ou mãe» como «relativo a parente, ou seja, pessoa que pertence à mesma família», sendo usada, por exemplo, como o significado de «dos pais» nas expressões «licença parental», «envolvimento parental», «papel parental».

Artigo crítico de Maria Regina Rocha, publicado no Diário do Alentejo de 3 de Abril de 2009.

Como consequência do recente Acordo Ortográfico, a Academia Brasileira de Letras acaba de lançar o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, que contém cerc...

«Não sou daqueles que recusa», ou «não sou daqueles que recusam»? Eça de Queirós é «um dos escritores que contribuíram para o prestígio da literatura portuguesa», ou Eça de Queirós é «um dos que contribuiu»? Em artigo publicado no Diário do Alentejo de 6 de Março de 2009, Maria Regina Rocha socorre-se de um saboroso trecho literário do escritor brasileiro Fernando Sabino para voltar a um tema recorrentemente questionado.