Seria, sim, incorrecto dizer “o chamam” ou “chamam-no”. A forma correcta é “lhe chamam”.
Para o caso vertente, interessa considerar duas das acepções do verbo chamar.
Um delas é a de “pedir a alguém que venha, convocar, convidar”. Nesta acepção, o verbo pede complemento directo, sem preposição, podendo esse complemento directo ser substituído pelo pronome pessoal forma de complemento directo “o”: “Para o ajudar, ele chamou um amigo.” = “Ele chamou-o.”
A outra é a de “designar, apelidar, dar nome, classificar”. Nesta acepção, o verbo chamar pede dois complementos, um deles introduzido pela preposição “a”, que pode ser substituído pelo respectivo pronome, forma de complemento indirecto: “Ela chamou sábio ao professor” = “Ela chamou-lhe sábio.” Em Portugal, é esta a construção correcta.
No entanto, não há consenso entre os filólogos na classificação do complemento “ao professor”. Há os que o consideram um complemento indirecto, e outros, um complemento directo preposicionado. Independentemente da sua classificação, em Portugal, a forma pronominal desse complemento do verbo chamar é sempre a do pronome pessoal forma de complemento indirecto (me, te, lhe, nos, vos, lhes), usada actualmente e abonada por inúmeros escritores do passado e do presente.
Epifânio da Silva Dias, na sua Sintaxe Histórica Portuguesa, página 110, é muito claro a este respeito, dizendo que o verbo chamar, neste sentido de “chamar nomes a alguém”, se constrói “de ordinário com a pessoa ou cousa por compl. indirecto, e o nome, (ainda quando adjectivo) por compl. directo: Apresenta-se diante delle, repreende-o com lingoagem e sembrante senhoril, chama-lhe juiz injusto, escravo vil do inferno, lobo do sangue humano, e cruel ministro de vãos e cruelíssimos Emperadoes (Sousa, V. do Arc., I, 372).”