De como o estrangeirismo vintage atropelou o vernáculo antigo ou clássico.
Professora portuguesa, licenciada em Filologia Românica, pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, com tese de mestrado sobre Eugénio de Andrade, na Universidade de Toulouse; classificadora das provas de exame nacional de Português, no Ensino Secundário.
De como o estrangeirismo vintage atropelou o vernáculo antigo ou clássico.
«Caiu para sempre», em vez de morreu, que recurso expressivo é?
Obrigado.
Estamos na presença de um eufemismo, embora haja situações em que a leitura dos recursos possa ter diferentes interpretações, pois pode haver a ocorrência de vários na mesma expressão.
Segundo o E-Dicionário de Termos Literários, de Carlos Ceia, o eufemismo é uma «Figura de retórica que procede à substituição de uma expressão rude ou desagradável por uma outra que amenize o discurso, embora sem alterar o
Gostaria de saber a vossa opinião sobre a presença da sinestesia nos seguintes exemplos: a) «deixando atrás de si como uma claridade, um reflexo de cabelos de oiro, e um aroma no ar»; b) «um dia de inverno suave e luminoso».
Obrigada pela ajuda!
Sinestesia é um vocábulo de origem grega, synaísthesis, cujo significado é «sentir ao mesmo tempo», e é formada a partir de syn, que quer dizer juntamente + aísthesis, que significa sensação.¹
A sinestesia é um recurso semântico capaz de tornar o texto mais expressivo, ocorrendo quando as sensações e sentidos se misturam. Isto quer dizer que podem estar reunidas num mesmo contexto diversas impressões sensoriais.
a) «deixando atrás de si como uma claridade, um reflexo de cabelos de oiro, e um aroma no ar»²: esta descrição de uma personagem (Maria Eduarda) assenta numa comparação (com o termo como expresso), mas desperta no leitor a evidência da mistura de impressões sensoriais, tais como a visão e o olfato, própria da sinestesia. Não é infrequente que vários recursos estilísticos se entrelacem para uma maior expressividade, como acontece aqui.
b) «um dia de inverno suave e luminoso»³: estamos perante um inequívoco emprego da sinestesia, pois as sensações ligadas ao tato e à visão, veiculadas pelos adjetivos, misturam-se, ambas dizendo respeito a um mesmo nome.
Queria saber por que é que a expressão «assalto à mão armada» se grafa com acento grave. Parece-me dar a impressão de que a mão é que está a ser assaltada. Para perceber isso basta substituir «mão» por um substantivo masculino.
Expressão relacionada com uma gíria, tem o seu equivalente noutras línguas românicas, em espanhol, por exemplo, robo a mano armada.
Veja-se, por exemplo o Dicionário Houaiss que dá como definição «à mão armada = usando arma», ou mais especificamente o Dicionário da Academia que apresenta a locução em causa «assalto à mão armada, aquele em que os assaltantes utilizam armas para intimidar ou atacar as suas vítimas».
Assim, a interpretação alternativa do consulente não se adequa, pois depreende-se que num assalto é o assaltante que tem a mão armada, e não a vítima. Além disso, o Dicionário Aurélio diz claramente que «à mão = com a mão»¹. Donde se conclui que o à (a+a) tem aqui o valor de com. Grafa-se com acento grave, pois é a contração da preposição a + artigo definido feminino a.
É, pois, uma expressão que está fixada na sua forma, não se podendo alterar. A alternativa proposta pelo consulente, da substituição de mão por um substantivo masculino, por exemplo, assalto ao braço armado, não é válida, deixando de ser inteligível, uma vez que a expressão fica esvaziada do idiomatismo que lhe dá forma e conteúdo.
¹ Também encontramos no
Em que circunstâncias é que, na norma anterior ao AO90, o prefixo auto (como em auto+ajuda ou auto+definição) deve ser seguido de hífen?
Na Convenção Ortográfica de 1945, que vigorou até à entrada do Acordo Ortográfico de 1990, afirma-se: «Emprega-se o hífen em palavras formadas com prefixos de origem grega ou latina, ou com outros elementos análogos de origem grega (primitivamente adjectivos), quando convém não os aglutinar aos elementos imediatos, por motivo de clareza ou de expressividade gráfica, por ser preciso evitar má leitura, ou por tal prefixo ser acentuado graficamente.»¹
Assim, usou-se o hífen nos vocábulos em cuja formação entra, entre outros, o prefixo auto-², antes de vogal, ou h, r, s.
Exemplos: auto-estrada, auto-retrato e, por conseguinte, auto-ajuda.
No entanto, em autocrítica, não havia hífen, pois não se inseria em nenhuma das regras preconizadas pela Convenção Ortográfica. O que acontecia igualmente com autodefinição.³
¹ Fonte: Saber Escrever, Saber Ler, Edite Estrela, Maria Almira Soares, Maria José Leitão, 2.ª edição, Publicações Dom Quixote, Lisboa, 2013
² Para Lindley Cintra e Celso Cunha, in Nova Gramática do Português Contemporâneo, pp. 113-114, edições Sá da Costa,&#...
Este é um espaço de esclarecimento, informação, debate e promoção da língua portuguesa, numa perspetiva de afirmação dos valores culturais dos oito países de língua oficial portuguesa, fundado em 1997. Na diversidade de todos, o mesmo mar por onde navegamos e nos reconhecemos.
Se pretende receber notificações de cada vez que um conteúdo do Ciberdúvidas é atualizado, subscreva as notificações clicando no botão Subscrever notificações