Inês Gama - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Inês Gama
Inês Gama
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Licenciada em Português com Menor em Línguas Modernas – Inglês pela Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra e mestre em Português como Língua Estrangeira e Língua Segunda (PLELS) pela mesma instituição. Fez um estágio em ensino de português como língua estrangeira na Universidade Jaguelónica em Cracóvia (Polónia). Exerce funções de apoio à edição/revisão do Ciberdúvidas e à reorganização do seu acervo.

 
Textos publicados pela autora

Pergunta:

Como sabemos, as salas de aulas, nomeadamente as de Português, são cada vez mais multiculturais: há alunos oriundos de vários países.

Pensando no caso dos alunos oriundos de países de língua oficial portuguesa (PALOP), a estudar em instituições em Portugal, a correção dos instrumentos de avaliação (por exemplo, os testes) deverá respeitar que norma? A europeia?

Cordialmente

Resposta:

Em Portugal, a questão da aplicação exclusiva da norma padrão do português europeu na correção dos vários instrumentos de avaliação (testes de avaliação sumativos, provas de aferição, exames nacionais, etc.) tem sido um assunto ocasionalmente discutido nos últimos tempos. Infelizmente, ainda não existem orientações generalizadas sobre a aceitação de outras variedades do português, nomeadamente, a brasileira, nos ensinos básico e secundário e, até mesmo, superior.

Instituto da Avaliação Educativa (IAVE), organismo responsável pela conceção de instrumentos de avaliação dos conhecimentos e capacidades dos alunos do ensino básico e secundário em Portugal, não é claro nos seus critérios de correção quanto à possibilidade de aceitar outras variedades que não vão ao encontro da norma padrão do português europeu. No entanto, em outubro de 2022, a Associação de Professores de Português (APP) propôs ao IAVE a constituição de um grupo de trabalho de forma a que se discutisse a possível aceitação das variedades codificadas (como a brasileira) nos exames nacionais e provas de aferição. Até ao momento, ainda se aguarda uma decisão oficial.

Tomando a posição de que a escola não deve ser castradora da variação linguística, alguns professores têm vindo a adotar uma posição de maior flexibilidade em relação a determinadas correções feitas no discurso de alunos providentes de países de língua oficial portuguesa, na medida em que consideram pouco justo os alunos serem penalizados por cometerem um desvio à norma padrão do português europeu, mas que, segundo o padrão da sua variedade, é correto. Todavia, existem também docentes que, por desconhecimento desses padrões ou intolerância linguística, apenas consideram correto o que está segundo a norma padrão do português europeu.

No que concerne às normas descritas e codificadas através de dicionários ...

«Tu tem-lo visto» ou «Tu tem-no visto»?
As formas dos pronomes clíticos

Apontamento da consultora Inês Gama sobre as formas dos pronomes clíticos acusativos segundo as terminações dos verbos.

Apontamento incluído no programa Páginas de Português, na Antena 2, no dia 8 de outubro de 2023.

Os alunos estrangeiros nas escolas portuguesas
O impacto da língua materna na aprendizagem do português

«Para que um professor de PLNM consiga assegurar um ensino de qualidade e no qual proporcione um acompanhamento que permita esclarecer muitas das dúvidas dos seus alunos é necessário que, para além da atenção prestada aos modelos e materiais didáticas, se procure também conhecer um pouco o grupo de estudantes, nomeadamente, as suas culturas e línguas» – afirma a consultora Inês Gama que, no seguimento do tema do ensino do português como língua não materna, reflete neste apontamento sobre o impacto da língua materna dos alunos na aprendizagem do português, dando como exemplo o nepali.

Pergunta:

Percebi que a tal da linguagem neutra está pegando de vez no Brasil, na Argentina e no Chile... mas quem inventou de colocar a linguagem inclusiva em português e em espanhol?

A linguagem em questão não é acessível a cegos, surdos, mudos, analfabetos e autistas, fora que será preciso que todas as enciclopédias, dicionários e gramáticas se reescrevam se for para se levar a sério realmente essa nova linguagem!

Pois muito bem, qual a opinião de vocês desse assunto todo aí de verdade?

Muitíssimo obrigado e um grande abraço!

Resposta:

Alguns investigadores, como a socióloga Mara Pieri, defendem que desde o século XIX a complexa relação entre sociedade e a linguagem tem sido foco de discussão e reflexão. Entendendo-se a língua como um sistema criado por pessoas e que reflete o modo como estas se organizam, a reivindicação pela utilização de uma linguagem que pretenda incluir minorias e grupos marginalizados é, no fundo, um reflexo do modo como as sociedades pensam e se organizam. Nos dias de hoje, a defesa do uso de linguagem inclusiva está, sobretudo, alinhada com as teorias que refletem sobre o papel sexual e de género.

Relativamente às questões de género e linguagem, estas começaram a ganhar mais amplitude na década de sessenta do século XX com a segunda vaga do feminismo nos Estados Unidos da América, sendo que este tema rapidamente começou a ser discutido em alguns dos círculos mais proeminentes da linguística. Exemplo disto é a publicação da obra Language and Woman’s Place de Robin Lakoff, aluna do reputado linguista Noam Chomsky. Neste texto, a autora denuncia conotações, expressões e construções linguísticas que dão conta da natureza sexista das sociedades. Neste sentido, na dissertação de mestrado «Poderá uma Língua Natural ser Sexista?» (2020), o investigador João de Matos (Universidade Nova de Lisboa) defende que ...

O português como língua não materna nas escolas
Os desafios da disciplina de PLNM

«Muitos dos alunos que frequentam [a disciplina de Português como Língua Não Materna] e dos professores que a lecionam deparam-se com desafios variados de difícil resolução.» Neste apontamento, a consultora Inês Gama reflete sobre a disciplina de Português Língua Não Materna (PLNM), oferta do currículo escolar português.