Ida Rebelo - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Ida Rebelo
Ida Rebelo
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Ida Rebelo é uma linguista brasileira. Doutora e mestre em Estudos da Linguagem, Descrição do Português para o Ensino de Português Língua Estrangeira, pelo Departamento de Letras, da PUC - Rio de Janeiro; licenciada em Letras Português-Francês, pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro

 
Textos publicados pela autora

Pergunta:

Podem me explicar do que se trata cada tópico, com exemplos?

Avaliação de argumentos: pertinência e suficiência; validade e verdade; falácias e sofismas.

Grato.

Resposta:

Cada um dos tópicos mencionados na consulta faz parte de categorias, ligadas a conceitos filosóficos, que são tidas em conta para correcção de redacções. Relacionam-se ao desenvolvimento de argumentos e construção de discurso e não a categorias do estudo da língua pertencentes à sintaxe, ao léxico ou à morfologia. Sugiro, portanto, uma consulta a sítios como o da Revista Eletrônica do Vestibular, onde encontrará exemplos esclarecedores com comentários.

Pergunta:

Caros amigos, parabéns mais uma vez pelo site. Quanta riqueza retiro dele!

No Brasil é muito comum o uso do termo cabideiro para designar o «objeto no qual se pendura chapéu, bolsas etc.». Os dicionários Houaiss e Aurélio chamam esse objeto simplesmente de cabide.

Gostaria de saber se o termo cabideiro também pode ser usado, formalmente, nesse sentido.

Agradeço os préstimos.

Resposta:

Na verdade, o termo mais usado em decoração para se referir a esse objecto é mesmo cabideiro. Até  meados do século XX, no Brasil, o objeto era muito comum na entrada das casas e consultórios, escritórios, bibliotecas e qualquer lugar onde houvesse entrada de pessoas com o fim de permanecer um determinado tempo nessas instalações. Os nomes variavam e podia ser designado por bengaleiro ou chapeleiro. Depois dos anos 60, nós ficamos modernos e abolimos esse útil móvel/objeto.

No fim do século XX, com a multiplicação dos brechós, lojas de antiguidades e afins, vieram à luz os velhos bengaleiros que foram rapidamente absorvidos pelo mercado de decoração e adotados pelos seu compradores com o nome de cabideiros e também reciclados e modernizados de inúmeras formas. Com a falta de espaço que domina nossos exíguos apartamentos citadinos, os bengaleiros transformaram-se em ganchos na parede com mais ou menos aspectos decorativos, isolados ou em conjunto, e adotaram o nome de cabideiro.

Na prática, o que temos hoje é, maior frequência de uso do termo cabide quando o falante se refere a um objecto pequeno de madeira, plástico ou metal para pendurar uma peça de roupa, ou duas (quando se trate de uma parte de cima mais calça ou saia).

Em 90% das buscas por imagens na web, é essa a que encontramos correspondendo ao termo.

cabideiro, quando inicia buscas na web, identifica um objecto de decoração, fixo na parede ou não, atendendo por expressões como «cabideiro de parede, para roupas, de madeira, de pé, arara, antigo». Ainda quando se usa o termo cabide nesse sentido é sempre composto: «cabide de pé», «cabide de parede», «cabide da entrada». Ou ...

Pergunta:

Gostaria de saber um pouco da história da formação dos sotaques nas diferentes regiões do Brasil: Nordeste, Centro-Oeste, Sudeste (carioca e paulista) e Sul.

Ou, para evitar maior trabalho, sugestões de sites e livros sobre esse assunto.

Desde já muito grata!

Resposta:

Para propor uma resposta a essa consulta que se revela de ordem tão ampla, atrevo-me a fazer uma introdução inspirada em parecer de Paul Teyssier na sua História da Língua Portuguesa, com tradução de Celso Cunha (São Paulo: Martins Fontes, 2001). Concordo com o autor quando afirma que as divisões "diale{#c|}tais" no Brasil são menos geográficas que socioculturais. Ou seja, há uma certa homogeneização, inclusive do sotaque, nas camadas mais cultas que seguem a "norma" difundida, sobretudo, pela televisão e seus telejornais. Há, a título de exemplo, um trabalho apontando uma notável tentativa de "higienizar" o sotaque dos apresentadores de telejornais regionais, conforme o padrão das duas maiores capitais, Rio e São Paulo. O texto completo se encontra aqui.

Teyssier arrisca, inclusive, a determinação de uma isoglossa imaginária entre o Norte e o Sul do país que se localizaria no Sul do estado da Bahia e atravessaria o país de forma horizontal.

Ataliba de Castilho, por seu lado, na obra de Rodolfo Ilari, intitulada Lingüística Românica (São Paulo: Moderna, 2001), apresenta as "variedades do português do Brasil", levantando questões fonéticas que se repetem ou se realizam de forma intermitente em regiões diversas, obedecendo, como já havia notado Teyssier, a condicionantes socioecon{#ó|ô}micas. O texto de Castilho é boa referência para uma vista d'olhos de tentativas de constituição de Atlas ling{#u|ü}ísticos, sempre parciais, já publicados ou em elaboração. No texto mencionado, Castilho tem um item com o título "A variedade dos sujeitos não-escolarizados do PB falado" que sistematiza com fatos ling{#u|ü}ísticos o teor das afirmações de Teyssier sobre as divisões diale{#c|}tais do Brasil, mais culturais do que geográficas.

Pergunta:

O que seria o termo A/R no endereçamento de uma carta? Eu já vi A/C, que seria «aos cuidados de...», mas A/R não sei o que significa.

Resposta:

Trata-se da abreviatura de «Aviso de recebimento». Ou seja, a carta deveria vir acompanhada de um cartão e só poderia ser entregue em mãos pelo carteiro. Este faria o destinatário assinar esse cartão, que retorna ao remetente, dando a certeza de que a carta foi recebida pelo destinatário.1 

1 Em Portugal usa-se a expressão «aviso de recepção».

Sobre o termo portuga, convém fazer um comentário que, certamente, não se encontra nos dicionários, mas pode ser verificado em meios digitais de publicação como blogues e também em jornais escritos ou falados.

O termo já foi muito usado no Brasil de forma pejorativa, mas galego é bem mais agressivo e antigo. Galego era a forma de se referirem aos imigrantes portugueses para ofendê-los, enquanto portuga era uma redução de português que, hoje, é usada no mesmo tom que brasuca em Portugal, creio eu.