Eunice Marta - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Eunice Marta
Eunice Marta
66K

Licenciada em Filologia Românica pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e mestre (Mestrado Interdisciplinar em Estudos Portugueses) pela Universidade Aberta. Professora de Português e de Francês. Coautora do Programa de Literaturas de Língua Portuguesa, para o 12.º ano de escolaridade em Portugal. Ex-consultora do Ciberdúvidas e, atualmente, docente do Instituto Piaget de Benguela, em Angola.

 
Textos publicados pela autora

Pergunta:

Desde já agradeço a vossa disponibilidade. Gostaria de saber o grau em que se encontra a palavra hipersensível. Podemos considerá-lo um superlativo absoluto sintético?

Resposta:

Cunha e Cintra, na sua Nova Gramática do Português Contemporâneo (17.ª ed., Lisboa, Sá da Costa, 2002), incluem a palavra hipersensível na lista de exemplos  dos superlativos que se «pode[m] formar também [...] com o acréscimo de um prefixo ou de um pseudoprefixo, como arqui-, extra-, hiper-, super-, ultra-, etc.» (p. 260).

Se tivermos em conta os dois tipos de formação do grau superlativo absoluto, verificamos que: o sintético é «expresso por uma só palavra [que, na sua grande maioria, é formada pelo] adjetivo + sufixo)» (idem, p. 258), distinguindo-se do analítico por este ser «formado com a ajuda de outra palavra, geralmente um advérbio indicador de excesso – muito, imensamente, extraordinariamente, excessivamente, grandemente, etc.» (idem). A partir destes dados, apercebemo-nos de que hipersensível parece tratar-se de um caso de superlativo absoluto sintético, apesar de se ter formado com um prefixo (hiper-) + adjetivo, e não com adjetivo + sufixo.

Pergunta:

Na frase: «Esse objecto é um pássaro de papel», atendendo à antiga gramática, é possível classificar «um pássaro» como predicativo do sujeito, e «de papel» como um complemento circunstancial de matéria?

Resposta:

De acordo com a terminologia da gramática tradicional, «um pássaro» tem a função de predicativo do sujeito; e «de papel» é um complemento nominal, porque «vem ligado por preposição ao substantivo, adjetivo ou ao advérbio cujo sentido integra ou limita» (Cunha e Cintra, Nova Gramática do Português Contemporâneo, p. 140), tal como o que se verifica no seguinte exemplo: «O pior é a demora do vapor» («a demora» = predicativo do sujeito; «do vapor = complemento nominal»).

Pergunta:

Preciso de exemplos de eufemismo, por favor.

Resposta:

Basta termos em conta o que nos diz Carlos Ceia em E-Dicionário de Termos Literários sobre  eufemismo:

Figura de retórica que procede à substituição de uma expressão rude ou desagradável por uma outra que amenize o discurso, embora sem alterar o sentido, por exemplo, «ir para outro mundo» ou «Tirar Inês ao mundo determina» (Camões, Os Lusíadas, III, 123) em vez de «morrer», ou «pessoa de poucos recursos financeiros» por «pobre». O termo é de origem grega (euphemismos, «bem dizer») e desde sempre foi utilizado para designar as formas de dissimulação de sentimentos desagradáveis, de pensamentos cruéis ou de palavras-tabu, que se evitam pelo recurso a uma linguagem mais amaviosa, sem se perder o sentido original de vista.

É de referir que, embora esteja integrado nas figuras de retórica, o eufemismo é frequentemente utilizado no nosso quotidiano, na linguagem informal, sempre que não queremos chocar alguém com expressões rudes. Por exemplo, é vulgar dizer-se de alguém que sofre de algum tipo de doença cancerígena que essa pessoa tem «uma doença má», evitando-se utilizar a carga agressiva do termo «cancro» ou «câncer».

Por exemplo, quando alguém teve um mau desempenho numa determinada situação em que é objeto de avaliação, é frequente dizer-se «O que não correu assim tão bem foi...» em vez de se usar «O que correu mal»...

O mesmo se pode dizer de uma pessoa que tem mau feitio e a quem se diz que «não tem um feitio muito fácil».

Pergunta:

Divisão silábica de arrojado.

Resposta:

A palavra arrojado (que pode ser nome/substantivo, adjetivo e particípio passado do verbo arrojar) tem quatro sílabas, que se dividem do seguinte modo (cf. Portal da Língua Portuguesa e Vocabulário Ortográfico do Português):

ar•ro•ja•do

É de referir que, segundo as regras da divisão silábica, «as consoantes iguais separam-se obrigatoriamente. (Compêndio de Gramática Portuguesa, de José Nunes de Figueiredo e António Gomes Ferreira, 1965, p. 43).

Nota: Há uma resposta já publicada a partir da qual se poderia colocar a hipótese de que entraria em choque com o que foi aqui dito (o que aconteceu num comentário do Facebook). Importa, por isso, esclarecer o seguinte: A resposta que foi citada (por Ana Upa), parcialmente, como comentário precisa, para ser devidamente enquadrada, do contexto em que foi elaborada. Faz-se aí referência à problemática da constituição fonética da sílaba porque era acerca desse assunto que a questão se colocava. Se a citação estivesse completa, haveria possibilidade de verificar que a autora coloca em dúvida a eficácia da aprendizagem da divisão silábica tendo em conta a integridade do ataque nos casos das consoantes dobradas, ou seja a aprendizagem mediante registo escrito de algo como ca.rro, quando os jovens estão, em simultâneo, a aprender a translinear.

Na resposta diz-se, por exemplo, que jovens no 12.º ano — e no final do ensino superior poder-se-á, por experiência,...

Pergunta:

Escrevendo um texto com o novo acordo e havendo necessidade de se fazerem citações (escritas com pré-acordo), gostaria de saber se as citações devem respeitar o original, ou se se podem transformar para o novo acordo.

Resposta:

Se colocar as citações entre aspas e indicar a respetiva referência bibliográfica — o que significa que fez a transcrição de um texto que foi editado num determinado ano (anterior ao da aplicação do Acordo Ortográfico 90) —, dever-se-á fazer a transcrição tal como se encontra registada na fonte, assinalando (com asterico e/ou em nota de rodapé) que foi respeitada a grafia original.