Eunice Marta - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Eunice Marta
Eunice Marta
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Licenciada em Filologia Românica pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e mestre (Mestrado Interdisciplinar em Estudos Portugueses) pela Universidade Aberta. Professora de Português e de Francês. Coautora do Programa de Literaturas de Língua Portuguesa, para o 12.º ano de escolaridade em Portugal. Ex-consultora do Ciberdúvidas e, atualmente, docente do Instituto Piaget de Benguela, em Angola.

 
Textos publicados pela autora

Pergunta:

Na frase «Ninguém esperava que o candidato pudesse vencer a eleição», qual a classificação da oração subordinada?

Resposta:

«Que o candidado pudesse vencer a eleição» é uma oração subordinada completiva (ou integrante, na tradicão gramatical luso-brasileira), selecionada como argumento interno direto do verbo volitivo e optativo esperar da oração subordinante «Ninguém esperava». Com base na etiqueta que utiliza para a classe dos nomes/substantivos, este tipo de oração também é denominada subordinada substantiva1.

Portanto, a oração subordinada completiva (ou integrante) tem a função de complemento direto/objeto direto da oração subordinante.

A comprovar a classificação de subordinada completiva (integrante) está o facto de poder ser substituída pelos pronomes demonstrativos invariáveis isto ou isso. Repare-se como isso é possível:

«Ninguém esperava isto/isso.»

Fontes: Gramática da Língua Portuguesa (Lisboa, Caminho, 2003), de Maria Helena Mira Mateus et al., pp. 608-609).

 

1No Brasil é mais comum dizer que, neste caso. se trata de oração subordinada substantiva objetiva direta (informação fornecida pelo consultor Luciano Eduardo Oliveira).

Pergunta:

Como se escreve 25% por extenso: «vinte e cinco por cento», ou «porcento»?

Resposta:

Por extenso, a expressão 25% escreve-se da seguinte forma: «vinte e cinco por cento», estando separada a estrutura «por cento».

Este tipo de expressão ocorre quando os linguistas tratam dos casos particulares relativos a estruturas de percentagem, o que sucede em Áreas Críticas da Língua Portuguesa (Lisboa, Caminho, 1995), de João Peres e Telmo Móia — onde se encontram registados vários exemplos: «as expressões de percentagem — por exemplo, «vinte por cento» (p. 481); «a estrutura n por cento de, sendo sempre n um numeral» (p. 484); «Dez por cento das empresas faliram» (idem); «Um por cento das empresas faliu» (p. 485); «Cinquenta por cento do parque ardeu» (p. 486) —, assim como na Nova Gramática do Português Contemporâneo (Lisboa, Sá da Costa, 2002, p. 371), de Cunha e Cintra, no capítulo relativo aos numerais, mais propriamente na parte sobre o valor e o emprego dos cardinais: «na expressão cem por cento».

A dúvida do consulente deve-se, decerto, ao facto de existir o termo porcentos. m. importância recebida proporcional à venda; quantidade ou taxa que determina essa taxa; percentagem» (Grande Dicionário da Língua Portuguesa, da Porto Editora, 2010)] —, mas trata-se de um nome/substantivo masculino, sinónimo de percentagem, e não de um de um quantificador numeral. A identificação a nível da pronúncia e a semelhança de grafia do nome porcento e do numeral «por cento» foram fatores que geraram, naturalmente, essas incertezas, sobretudo porque a palavra porcento não é do uso corrente, uma vez que se utiliza mais frequentem...

Pergunta:

Como se classifica morfologicamente a palavra na seguinte frase: «Alguns fugiram a pé, abandonando as suas armas e armaduras para correrem mais depressa»?

Resposta:

No domínio da classe de palavras, o termo é um nome/substantivo comum, pois «permite variação em número (pés) e em grau aumentativo (grande pé; pé enorme; pezão) e diminutivo (pezinho, pezito), podendo coocorrer com determinantes (o/um/este/o meu pé) ou quantificadores (todos os pés; a maioria dos pés), que o antecedem» (Dicionário Terminológico).

Embora na frase apresentada a palavra — por estar precedida da preposição a, formando a expressão «a pé» — tenha que ver com o meio de locomoção (com o recurso ao movimento do andar), como forma de deslocação sem utilizar meio de transporte, essa palavra não deixa de ser um nome/substantivo comum.

Pergunta:

É correcta a expressão «derivado a» com o valor de «devido a»? Não é raro aparecer esta construção em textos de imprensa, havendo escritores, como António Lobo Antunes, que a usam recorrentemente nas suas obras. Fica a dúvida se no segundo caso se tratará apenas de uma liberdade de escritor, ou se será manifesta falta de rigor...

Resposta:

O adjetivo (participal, porque é particípio do verbo derivar) derivado significa «que derivou», «que tem origem em; oriundo; proveniente», «que se conclui pelo raciocínio; deduzido; inferido», razão pela qual seleciona a preposição de.

Repare-se nos vários exemplos registados no Ciberdúvidas: «Verbos derivados de dar»; «palavra derivada do étimo latino»; «O adjetivo derivado de compaixão».

De facto, tal como o consulente indica, é frequente ver-se o emprego do adjetivo derivado com o sentido que aponta, levando ao uso inadequado da preposição a. Talvez tal situação se deva ao facto de as noções de origem e de causa serem relativamente próximas, mas a verdade é que não são sinónimas.

Pergunta:

Tendo consultado este vosso site deparei-me com estas dúvidas:

A palavra polícia divide-se em sílabas: po-lí-ci-a, e a translineação é po-lí-cia, certo?

Contudo, a palavra aquário a sua divisão silábica é: a-quá-rio, e a translineação é aquá-rio.

Por que razão polícia se divide po-lí-ci-a, e em aquário o -rio não é dividido?

Resposta:

Parece-me haver um equívoco por parte da consulente, pois a divisão silábica de aquário é a seguinte: a-quá-ri-o (tal como se encontra na recente resposta1, de 11/01/2012).

Portanto, do mesmo modo que a divisão de polícia (po-lí-ci-a), as vogais consecutivas da última sílaba são separadas, pois não se trata de ditongos decrescentes, o que implicaria a separação das vogais, tal como se encontra previsto na Base XX (sobre a Divisão Silábica) do Acordo Ortográfico de 90 : «As vogais consecutivas que não pertencem a ditongos decrescentes (as que pertencem a ditongos deste tipo nunca se separam: ai-roso, cadei-ra, insti-tui, ora-ção, sacris-tães, traves-sões) podem, se a primeira delas não é u precedido de g ou q, e mesmo que sejam iguais, separar-se na escrita: ala-úde, áre-as, ca-apeba, co-ordenar, do-er, flu-idez, perdo-as, vo-os. O mesmo se aplica aos casos de contiguidade de ditongos, iguais ou diferentes, ou de ditongos e vogais: cai-ais, caí-eis, ensai-os, flu-iu

Repare-se que a divisão silábica faz-se, em regra, pela soletração, o que significa que as sílabas se dividem de acordo com a forma como soletramos a palavra (princípio defendido pela gramática tradicional e mantido pelo novo Acordo Ortográfico). E não há dúvida de que a própria palavra rio se divide em duas sílabas — ri-o —, tal como se soletra.

Ora, como a divisão silábica tem po...