Edite Prada - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Edite Prada
Edite Prada
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Edite Prada é consultora do Ciberdúvidas. Licenciada em Línguas e Literaturas Modernas, variante de Português/Francês, pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa; mestrado interdisciplinar em Estudos Portugueses, defendido na Universidade Aberta de Lisboa. Autora de A Produção do Contraste no Português Europeu.

 
Textos publicados pela autora

Pergunta:

Atualmente, no Brasil, criou-se um termo em torno de Lula e do seu partido, o PT (Partido dos Trabalhadores), surgindo o " lulopetismo" ou "lulo-petismo". A dúvida está exatamente na forma de escrever esse neologismo: com hífen ou sem ele, segundo as regras da atual ortografia?

Agradecido pela resposta (que me foi formulada).

Resposta:

A análise do novo acordo não permite tomar uma decisão unívoca face à grafia da palavra em apreço. Pelo texto do acordo, a palavra enquadra-se no ponto 1.º da base XV do novo acordo ortográfico, referente às palavras compostas. Aí se diz:
 
«1.º Emprega-se o hífen nas palavras compostas por justaposição que não contêm formas de ligação e cujos elementos, de natureza nominal, adjetival, numeral ou verbal, constituem uma unidade sintagmática e semântica e mantêm acento próprio, podendo dar-se o caso de o primeiro elemento estar reduzido: ano-luz, arcebispo-bispo, arco-íris, decreto-lei, és-sueste, médico-cirurgião, rainha-cláudia, tenente-coronel, tio-avô, turma-piloto; alcaide-mor, amor-perfeito, guarda-noturno, mato-grossense, norte-americano, porto-alegrense, sul-africano; afro-asiático, afro-luso-brasileiro, azul-escuro, luso-brasileiro, primeiro-ministro, primeiro-sargento, primo-infeção, segunda-feira; conta-gotas, finca-pé, guarda-chuva

Sendo lulo o radical de Lula (lul-) a que acresce a vogal de ligação –o (lul + o), poderemos considerar que a palavra se assemelha a outras como, por exemplo, luso-brasileiro.

No entanto, o VOLP da Academia Brasileira de Letras, tal como os dois vocabulários publicados em Portugal, regista luso-brasileiro, mas regista também lusodescendente. Qual é a diferença entre estas duas palavras? No caso de luso-brasileiro, as duas palavras estabelecem entre si uma relação sintáctica de coordenação, estando ambas as palavras ao mesmo nível (<...

Pergunta:

Em «Tem aí meia dúzia de urnigos, na calada da noite, arquitetando um plano pra "unificação" da língua portuguesa», o que significa a palavra urnigos? Pesquisei em vários dicionários e não encontrei registro.

Resposta:

Não encontrei a palavra urnigo atestada em qualquer dicionário, e mesmo na Internet surgiu uma única ocorrência, fruto de uma má leitura electrónica da palavra amigo.

No contexto que indica, a palavra não será uma corruptela de amigo? Veja: «Tem aí meia dúzia de amigos, na calada da noite, arquitetando um plano pra "unificação" da língua portuguesa.» Efectivamente, o facto de digitarmos as palavras conduz a um novo tipo de gralhas, que não ocorria quando a escrita era manual.

Voltando à palavra (eu diria pseudopalavra) urnigo, encontrei atestada a palavra urningo, em italiano, que, pelo seu significado, me não parece adequada à frase em apreço.

Pergunta:

Uma vez mais, venho pedir a vossa ajuda para uma questão de maiúsculas.

Julgo que deva escrever-se, por exemplo, «mar Cáspio». Mas quanto a «M/mar do Norte» ou «M/mar Negro»? Nestes casos, a palavra «M/mar» não fará parte do próprio nome? Pelo menos, será normal dizer «o Cáspio», mas não «o Negro», referindo-se ao mar.

Parece-me que, por muito absurdo que possa parecer, se deverá escrever «Já fui ao Mar do Norte, ao mar Cáspio e ao Mar Negro.» Estarei certo?

Desde já, obrigado.

Resposta:

O acordo ortográfico de 1945, por que ainda nos regemos, não é muito explícito quanto ao uso das maiúsculas em casos como o que expõe. Uma pesquisa no Corpus do Português mostra que a prática em Portugal tem oscilado entre as duas formas de escrever. No entanto, há recomendações, no Tratado de Ortografia da Língua Portuguesa, de Rebelo Gonçalves (Coimbra, Atlântida Editora, 1947, pág. 336/337), e nas Instruções: Regras a seguir por compositores e revisores, de Artur Sousa Gomes (Lisboa, Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1970), no sentido de escrever com minúscula, sempre que o nome do acidente geográfico (mar, lago, arquipélago…) não fizer parte integrante da denominação, ou seja, sempre que se possa designar de forma autónoma. Seguindo estas orientações, a sua interpretação está corre{#c|}ta, embora, pessoalmente, não sinta grande à-vontade em dizer apenas «Cáspio», ou «o Cáspio», pelo menos não como digo «o Atlântico», ou «o Mediterrâneo»…

Na verdade, a prática revela alguma indefinição no uso das maiúsculas em casos como o que descreve. Talvez por isso, na Base XIX, ponto 2.º, do novo Acordo Ortográfico, são contempladas as duas possibilidades de uso (maiúscula ou minúscula) em relação aos logradouros e lugares públicos:

«(i) Opcionalmente, em palavras usadas reverencialmente, aulicamente ou hierarquicamente, em início de versos, em categorizações de logradouros públicos (rua ou Rua da Liberdade, largo ou Largo dos Leões), de templos (igreja ou Igreja do Bonfim, templo ou Templo do Apostolado Positivista), de edifícios (palácio ou Palácio ...

Pergunta:

Gostaria de saber se os adjetivos terminados em -ês têm alguma regra para o feminino.

Há outros casos como o do adjetivo cortês?

Fico no aguardo da resposta.

Muito obrigada.

Resposta:

A grande maioria dos adjectivos que terminam em -ês faz o feminino em -esa: português, portuguesa; inglês, inglesa; bordalês, bordalesa. Como excepções encontrei apenas três: cortês, montês1 e tremês, todos uniformes.

Caso queira fazer a sua própria pesquisa, poderá entrar no Portal da Língua Portuguesa e colocar no espaço próprio a terminação da palavra, escolhendo como opção de pesquisa «termina com».

1 O dicionário da Academia das Ciências regista o feminino montesa, mas expressões como cabra montês (em vez de «cabra montesa») sugerem que se prefere empregar a palavra montês como adjectivo uniforme. É esta, aliás, a classificação do Dicionário Houaiss.

Pergunta:

A minha dúvida encontra-se nas frases «Tenho grande satisfação de passar-lhe às mãos a publicação Carta Mensal». O verbo passar é regido pela preposição a? Não seria correta a frase: «Tenho grande satisfação de passar às suas mãos a publicação Carta Mensal»?

Gostaria de uma explicação do mestre quanto ao uso do lhe nas mais variadas situações. Fico aguardando suas explicações.

Agradeço muito e parabenizo-o pelo site.

Resposta:

Celso Luft, no Dicionário Prático de Regência Verbal, classifica o verbo passar como transitivo direto («passar o tempo»); indireto oblíquo («passar por muita coisa») e direto e indireto («passou a bola aos companheiros»). Na frase em apreço, que transcrevo, a surpresa advém do facto de estar presente o objeto indireto relacionado através de preposição com uma parte do seu corpo: as mãos, o que nos levaria a esperar que a relação com o grupo nominal «as mãos» se fizesse através da preposição para, como em 1.1.

1. «Tenho grande satisfação de passar-lhe às mãos a publicação Carta Mensal
1.1. «Tenho grande satisfação de passar-lhe para as mãos a publicação Carta Mensal

O pronome lhe tem, aqui, por se estabelecer, como já vimos, relação entre uma entidade e uma parte do seu corpo (as mãos), um valor de posse, pelo que a frase poderia ser, como refere:

2. «Tenho grande satisfação de passar às suas mãos a publicação Carta Mensal

Em 2 eu continuaria a preferir o uso da preposição para em vez de a.

Relativamente aos usos do pronome lhe, corro o risco de lhe dar uma informação incompleta, uma vez que este pronome nem sempre é usado da mesma forma em Portugal e no Brasil, e eu não domino todas as especificidades do português do Brasil. Tendo este facto em conta, poderei dizer-lhe que o pronome lhe é utilizado como substituto, ou referente, da entidade objeto direto, c...