Edite Prada - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Edite Prada
Edite Prada
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Edite Prada é consultora do Ciberdúvidas. Licenciada em Línguas e Literaturas Modernas, variante de Português/Francês, pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa; mestrado interdisciplinar em Estudos Portugueses, defendido na Universidade Aberta de Lisboa. Autora de A Produção do Contraste no Português Europeu.

 
Textos publicados pela autora

Pergunta:

Como devo dizer: «Este acto é idóneo a produzir o resultado x», ou «Este acto é idóneo para produzir o resultado x»?

Muito obrigado desde já pela vossa ajuda e, aproveito para acrescentar, pelo óptimo trabalho.

Resposta:

O Ciberdúvidas agradece as suas palavras simpáticas. Relativamente à sua questão, o Dicionário de Regimes de Substantivos e Adjetivos, de Francisco Fernandes, Editora Globo, indica para idóneo a regência da preposição para.

Repare que a frase infinitiva que completa o sentido do adjectivo tem um valor final, e é a preposição com valor conjuncional para que veicula este sentido.

A frase adequada é, pois, «este acto é idóneo para produzir o resultado x».

Pergunta:

Apesar de nenhuma das soluções me agradar, gostaria de ter a vossa opinião/ajuda para a tradução de compacité:

"compactidade" — (forma preconizada anteriormente, aqui no Ciberdúvidas, por F. V. Peixoto da Fonseca);

"compacticidade" — (termo sugerido [pasme-se!] pelo Google);

"compacidade" — (termo dicionarizado pelo Houaiss, que, inclusive, remete para formas semelhantes, como opacidade).

“Compactidade” é uma forma que me soa estranha e que apenas tem 1 ocorrência em todos os corpos de língua portuguesa da Linguateca (na secção automóvel do Público). O googlianismo “compacticidade” tem um quê de monstruoso (2 ocorrências na Linguateca). "Compacidade" (6 ocorrências) parece-me a menos má e menos áspera das três formas. [O Google Livros revelou igualmente uma utilização muitíssimo residual dos dois primeiros termos].

Voltando ao início, nenhuma das formas me seduz, mas não tenho como escapar à utilização de uma delas na tradução que tenho em mãos. Como se trata de uma frase que terá ampla divulgação, as formas “compactidade” e “compacticidade” não me parecem uma boa solução, pela pouca frequência do seu uso. Por outro lado, a única forma que considero sofrível, leva com um cassetete de F.V.P.F, que a considera um «galicismo que se deve evitar»...

Resposta:

Vejamos o que dizem os dicionários e os vocabulários mais recentes:

Dicionário da Língua Portuguesa e Grande Dicionário da Língua Portuguesa, ambos da Porto Editora: compacidade;

Dicionário online da Priberam: compacidade  (à pesquisa por compacticidade remete para o vocabulário FLIP);

Dicionário Houaiss: compacidade, registado desde 1851. Considera a palavra como derivado irregular de compact-, sob o modelo francês opacitéopacidade); por sua vez no antepositivo compact-, indica compacité e também compacticidade;

Vocabulário da Porto Editora: regista as três possibilidades: compacidade, compactidade e compacticidade;

Vocabulário do ILTEC (Instituto de Linguística Teórica e Computacional): compacidade e compacti...

Pergunta:

Movido por uma dúvida surgida num fórum, gostaria de saber qual é a pronúncia correta das palavras ventríloquo e ventriloquia. Sobre a primeira delas, consta no Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa as pronúncias "quo" e "co", por outro lado, sobre a segunda, os dicionários Aurélio e Houaiss, anteriores ao Acordo Ortográfico, trazem a grafia ventriloquia, sem o trema, sugerindo, assim, a pronúncia sem o "u". Finalmente, foi-me dito que deve-se ler o "u" em todas as palavras que têm a base latina loquu-. Temos, então, um impasse. Como resolvê-lo?

Resposta:

Tenho sérias dificuldades em responder à sua questão relativamente à forma de pronunciar ventríloquo e ventriloquia, uma vez que, sendo portuguesa e vivendo em Portugal, o meu contacto com a pronúncia brasileira se faz sobretudo de forma indirecta, via televisão. Por outro lado, os dicionários brasileiros que tenho (Aurélio XXI e Dicionário UNESP do Português Contemporâneo) não contêm indicações sobre a forma de pronunciar, embora, efectivamente, essas palavras não tenham trema, ao contrário do que acontece, por exemplo, como eloqüente, ou eloqüência.

Relativamente a ventríloquo, o facto de haver a forma ventríloco (Houaiss, de que tenho a versão portuguesa, regista esta palavra na lista de vocábulos construídos a partir do sufixo –loquo) parece indicar que a pronúncia é “ventríloco”. Para ventriloquia não encontrei qualquer registo por que me possa orientar, a não ser, como refere, a ausência do trema.

Posso apenas dizer-lhe que, nos dicionários portugueses que indicam a pronúncia, o registo é: para ventríloquo, /kwo/ e, para ventriloquia, /kia/. Isto para a pronúncia em Portugal. Quanto à regra de pronúncia de palavras provindas do latim loquu-, nem sempre a pronúncia recomendada se mantém, registando-se alterações introduzidas pelas comunidades falantes.

Pergunta:

Gostaria de saber qual a pronúncia correcta da palavra oremos (do verbo orar), utilizada frequentemente nas celebrações eucarísticas da igreja católica. Será correcto pronunciar [óremus], abrindo a vogal inicial, ou [ôremus]?

Obrigada pela atenção.

Resposta:

A pronúncia é, de longe, a área da língua em que mais variedade convive. Essa variedade pode ser regional ou, mesmo, individual. Tendo este facto em conta, os dicionários mais recentes têm já a preocupação de registar a pronúncia dominante, que, no caso da sílaba inicial do verbo orar, é o aberto.

O facto de essa ser a pronúncia mais generalizada não implica que se não encontre em algumas regiões outra pronúncia, sem que tal situação possa ser considerada erro.

Pergunta:

Adorei o site. Estou intrigada com a semelhança entre a palavra Algarve, que aqui descobri significar ocidente, e o sobrenome Alverga. É para esta última palavra que busco o significado.

Resposta:

Não encontrei registos que me permitam identificar a origem do apelido, ou sobrenome, Alverga. É possível que se trate de uma variante de Alverca, com ocorrência da sonorização da consoante oclusiva surda c (som [k]), que passou a pronunciar-se [g].

Esta alteração é proposta no dicionário etimológico de José Pedro Machado para alvergue, sugerindo que se tenha formado a partir de Alverca. Alverca, por sua vez, deriva do árabe Al-birkâ, que significa «lago, piscina, tina».