D´Silvas Filho - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
D´Silvas Filho
D´Silvas Filho
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D´Silvas Filho, pseudónimo literário de um docente aposentado do ensino superior, com prolongada actividade pedagógica, cargos em órgãos de gestão e categoria final de professor coordenador deste mesmo ensino. Autor, entre outros livros, do Prontuário Universal — Erros Corrigidos de Português. Consultor do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa.

 
Textos publicados pelo autor

Pergunta:

Por que hermenêutica, propedêutica e terapêutica são acentuados e os correlatos hermeneuta, propedeuta e terapeuta não são?

P. S.: Também sou professor de Redação Forense, por isso a preocupação com a gramática normativa.

Antecipadamente grato por sua munificência.

Resposta:

Vejamos em primeiro lugar qual é a pronúncia do encontro vocálico eu nas palavras.

Trata-se do ditongo decrescente [ew], som pronunciado numa só emissão de voz por definição de ditongo; logo uma única sílaba.
Então, vê-se bem qual a diferença entre os dois grupos de palavras:

No primeiro grupo, temos o acento t{#ó|ô}nico na antepenúltima sílaba (palavras proparoxítonas ou esdrúxulas), e, segundo as nossas normas ortográficas (para o Brasil, 2.ª da Base XII), as palavras devem ter acento gráfico: hemenêutica, propedêutica, terapêutica.

No segundo grupo, temos o acento t{#ó|ô}nico na penúltima sílaba (palavras paroxítonas ou graves), e, segundo as mesmas normas e porque terminam em a (para o Brasil, também Base XII, por exclusão), não são acentuadas graficamente: hermeneuta, propedeuta, terapeuta.

A regra é aparentemente simples, mas para as palavras graves há vários casos (terminações diferentes das vogais a, e, o), em que aparecem sempre dúvidas, e não admira que surjam incertezas.

A nossa munificência, no sentido de generosidade, é equivalente à sua no interesse pela nossa comum língua, companheiro irmão.

Ao seu dispor,

As pessoas que se opõem ao novo acordo insistem em argumentos novos, alguns sem grande justificação ou nos quais há nítida intolerância.

Neste artigo procura-se rebater esses argumentos.

1 – Esclarecimento prévio

1.1 Defensor do novo acordo, isso não significa que o considere absolutamente perfeito. Penso que, quando se altera a língua, a mudança deve ser profunda (como a de 1911), para evitar novos ajusta...

Pergunta:

Encontro-me, de momento, a fazer a revisão de um livro sobre Angola, no qual me deparei, em vários momentos, com as palavras "tipóia" e "tipóeiro". Gostaria de saber se ambas têm acento, já que as fontes que consultei não são claras em relação a este assunto.

Parabéns pelo vosso trabalho. Grata pela atenção.

Resposta:

Tipóia está registada no léxico actual com acento, como jóia. No novo acordo perderá o acento.

Tipoeiro não encontrei nos completos vocabulários: da Academia das Ciências de Lisboa, de 1940; de Rebelo Gonçalves, de 1967; da Academia Brasileira de Letras, de 1998. A palavra só pode aceitar-se sem acento gráfico, visto o acento tónico nestas palavras estar naturalmente na primeira sílaba do sufixo -eiro, e, assim, o acento agudo é ilegítimo, por ficar fora da sílaba tónica.

Depreende-se que, sendo a palavra formada por afixação a partir da base tipóia, o pode ser pronunciado semiaberto, sem necessidade de assinalar este timbre com acento gráfico. Mas as virtualidades da língua permitem também a pronúncia com o o semifechado, como tendência natural para a formação do tritongo [wej].

Ao seu dispor,

Pergunta:

Gostava de saber se "meio-sorriso" e "meia-hora" se escrevem com ou sem hífen.

Resposta:

Saber quando um conjunto de termos deve ter hífen nem sempre é fácil com as regras ortográficas que nos regem, pois há algumas arbitrariedades (ex.: no caso que costumo apontar: cor-de-rosa e cor de vinho). Quando há dúvida, é conveniente consultar um dicionário ou um vocabulário completos (a ausência do conjunto com o hífen é uma indicação de que não é uma unidade mórfica; mas, para se ter essa certeza, é preciso que se pense que essa ausência não é uma deficiência da obra).

Quer no completo vocabulário de Rebelo Gonçalves, quer no da Academia Brasileira de Letras (igualmente completo e de 1998), não figuram as entradas com hífen: "meio-sorriso", "meia-hora".

Há, porém, uma regra gramatical de aplicação do hífen que nos pode ajudar quando ficamos indecisos. Usa-se hífen se estamos em presença duma unidade semântica, com um sentido particular que transcende o sentido de cada um dos elementos constitutivos dessa unidade.

Nos casos seguintes: meio-termo (moderação), meio-sangue (só um é puro sangue); meia-irmã (unilateral), meia-língua (pouco inteligível); compreende-se que os hífenes sejam necessários, dado o sentido particular que os conjuntos têm. Outro exemplo típico, que costumo apresentar sempre e está no Prontuário da Texto, é o de cavalo-de-batalha (argumento insistente), diferente de cavalo de batalha (animal para o combate).

Ora meio-sorriso significa que o sorriso foi feito com uma expressão facial que denota pouca convicção no sentimento que o sorriso representa. Não é metade dum sorriso, porque o sorriso não é uma grandeza normalme...

Pergunta:

Estava para ser aprovado pelo governo no final de 2007, mas mais uma vez foi adiado.

A língua portuguesa escrita tem muitas regras pouco claras.

Como português, desconhecia que no Brasil se escrevia lingüiça, tendo uma leitura de acordo com o que dizemos, e que o acordo quer abolir.

Gostaria de saber porque é que:

freqüência, que se diz "frecuência", se deve escrever frequência.

lingüiça, que se diz "lingu-iça", se tem de escrever linguiça.

Gostaria de aprofundar o tema, mas penso que este Acordo Ortográfico de 1990 deve ser revisto.

Resposta:

Frequente

O som ¦k¦ antes de e ¦ke¦ ou de i ¦ki¦ na nossa língua está normalizado na grafia qu, quer no Brasil, quer em Portugal (no nosso país já lá vai cerca de um século). Assim, quando o u se pronuncia, a grafia mantêm-se que ¦kwe¦ ou qui ¦kwi¦, ambas com ditongo crescente (são grosseiras as pronúncias ¦ku-e¦ ou ¦ku-i¦).

Linguiça

O trema em Portugal foi banido da língua portuguesa no acordo de 1945 (no Brasil sê-lo-á completamente no novo acordo). Só se aceita (e aceitará) em nomes próprios estrangeiros ou derivados (ex.: Müller, mülleriano) ou em siglas e unidades de medida. De acordo que seria útil para esclarecer a pronúncia. No entanto, lembro que há línguas sem acentos; ora isso não impede que os falantes interpretem convenientemente as grafias que representam a fonia das palavras, pois as grafias são meras convenções estabelecidas na comunidade ling{#u|ü}ística para comunicarem a sua fala por escrito.

Acordo de 1990

Concordo que o novo acordo não é perfeito. Foi, porém, o melhor que os especialistas conseguiram, para obter alguma uniformização (um único dicionário para toda a lusofonia e uma grafia que seja toda legal no universo da língua). Tinha-se tentado uma proposta mais ambiciosa, em 1986, mas foi recusada porque… simplificava em excesso…

Ao seu dispor,