Carlos Rocha - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Carlos Rocha
Carlos Rocha
1M

Licenciado em Estudos Portugueses pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, mestre em Linguística pela mesma faculdade e doutor em Linguística, na especialidade de Linguística Histórica, pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Professor do ensino secundário, coordenador executivo do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, destacado para o efeito pelo Ministério da Educação português.

 
Textos publicados pelo autor

Pergunta:

À questão lançada pelo consulente Paulo Morgado, gostava de fazer notar que o termo typed, em contexto de Ciência de Computadores (da Matemática e da Lógica), remete para a Teoria de Tipos, inicialmente desenvolvida por Bertrand Russel enquanto alternativa ao modelo axiomático de Frege — c.f.: Principia Mathematica.

Para esta palavra não existe correspondente em português — tanto quanto fui capaz de constatar pelos dicionários —, mas é muito frequente encontrar textos que empregam o verbo tipar e o adjectivo tipado para se referir às características de uma estrutura que remete para a Teoria de Tipos — e. g.: «Haskell é uma linguagem fortemente tipada.»

Resposta:

Agradecemos a achega ao consulente. Fica assim registado este uso especializado do neologismo tipar.

Pergunta:

Em resposta a uma questão colocada no Ciberdúvidas sobre a origem da denominação serra dos Candeeiros, JMC responde: «José Pedro Machado (in Dicionário Onomástico Etimológico da Língua Portuguesa) relaciona o nome da serra dos Candeeiros aos cumes que parecem castiçais, embora outros autores o considerem de origem obscura. O topónimo Candeeiro encontra-se noutros pontos de Portugal, como por exemplo em Vila do Bispo, referindo-se a uma ponta da costa. Segundo JPM, o nome talvez esteja associado a fogaréus nocturnos que guiariam os navegantes até à praia e ao porto local.»

Esta explicação suscita-me algumas dúvidas. Em livros antigos (por exemplo, no Guia de Portugal, de Raul Proença, 1927), o nome da serra aparece escrito como “Serra dos Candieiros”. Aliás, foi esta a grafia que aprendi quando estava em idade escolar. Suspeito assim que “Candeeiros” seja uma corruptela de “Candieiros”. A este propósito, é de registar que na Serra da Estrela, concelho de Manteigas, existe um vale glaciar denominado “Ribeira da Candieira”, que ainda surge com esta grafia na maioria dos mapas da região.

Gostaria de saber se a grafia Candieiros ainda existe e se é plausível que possa ter resultado em “Candeeiros”. Gostaria igualmente de saber se existe algum significado registado para “Candieiro” ou “Candieira” (já ouvi dizer que este nome designa uma planta, mas não consegui confirmar esta hipótese).

 

Resposta:

Não me parece que, do ponto de vista etimológico, a grafia "Candieiros" seja melhor que Candeeiros. A. Moralejo Lasso, em Toponimia Gallega y Leonesa, regista os topónimos galegos Candaira, Candeeira, Candeira, atribuindo-lhes como étimo *candanetum ou candaneta derivado do galego cando, «rama seca de pinheiro» ou castelhano cándano, idem. Ora, pressupondo que o galego é mais conservador que o português em relação ao vocalismo do latim vulgar do Ocidente da Península, podemos aceitar que a grafia do nome da serra em questão seja de facto Candeeiros. Outra coisa é falar da sua etimologia, que mais provavelmente é a mesma que encontramos na Candeeira galega.

 

Pergunta:

A origem da frase «A bom entendedor, meia palavra basta» é o francês «A bon entendeur, salut»?

Resposta:

O Dicionário de Provérbios de Roberto Corte de Lacerda et al. (Lisboa, Contexto Editora, pág. 2000), apresenta «À bon entendeur, salut» como provérbio francês equivalente a «a bom entendedor, meia palavra basta». Outras versões são também possíveis em português: «a bom entendedor, poucas palavras (bastam)»; «muito cego é o que não vê através de uma peneira»; «para bom entendedor, piscada de olho é mandado»; «para os entendidos, acenos lhes bastam». Em francês, há também outras versões: «à bon entendeur, peu de paroles» (século XVI); «à bon entendeur, ne faut que une parolle» (séculos XV).

A referida obra permite depreender que quer as versões francesas quer as portuguesas são adaptações de uma frase latina:

«O precedente clássico é o latim dictum sapienti sat est (para o sábio basta uma palavra), que figura em Plauto (Persa, 729) e também em Terêncio (Phormio, 541). Há equivalentes em italiano: a buon intenditor poche parole em em espanhol: al buen entendedor pocas palavras

Pergunta:

Pretendo referir-me à inanidade da verdade de uma proposição através de um advérbio de modo. O termo que vejo associado em inglês é vacuosly, que corresponderia, intuitivamente, a vacuamente, por derivação do adjectivo vácuo.

Contudo, não consigo encontrar esse termo nem inanemente em nenhum dicionário que me esteja disponível.

Procuro um advérbio de modo que, neste contexto, faça entender que a veracidade da proposição é vácua.

E. g.
: «P é falso. P implica Q é, vacuamente, verdadeiro.»

Muito obrigado pelo excelente trabalho que realizam no Ciberdúvidas!

Resposta:

A formação dos advérbios está correcta. Mas, por enquanto, não podemos confirmar que as palavras em questão sejam as mais adequadas ao discurso da lógica em português.

Pergunta:

Gostaria de saber se é possível da vossa parte encontrar o nome para o português da seguinte árvore: Quercus infectoria.

Uma página brasileira que encontrei diz que é noz-de-galha, mas diz que é «Quercus infectoria Olivier».

São estas duas árvores as mesmas ou parecidas?

Obrigado.

Resposta:

Num documento oficial com origem no Brasil, a Quercus infectoria é designada turco. Assim, parece que noz-de-galha não é o mesmo que turco. De qualquer modo, não conseguimos confirmar esta hipótese.