Carlos Rocha - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Carlos Rocha
Carlos Rocha
1M

Licenciado em Estudos Portugueses pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, mestre em Linguística pela mesma faculdade e doutor em Linguística, na especialidade de Linguística Histórica, pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Professor do ensino secundário, coordenador executivo do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, destacado para o efeito pelo Ministério da Educação português.

 
Textos publicados pelo autor

Pergunta:

Agora que as letras k, w e y fazem parte de nosso alfabeto, gostaria de saber como devo ensinar meus alunos:

«O alfabeto é formado por 26 letras, sendo 5 vogais, que são a, e, i, o, u e 21 consoantes, que são b, c, d... x, y e z.»

Ou seja, considero o y vogal, ou consoante?

Resposta:

As letras representam sons. Acerca dos sons da língua é que podemos falar de vogais, semivogais e consoantes. O mais que se pode dizer é que cinco das letras do alfabeto representam vogais.

Em relação à letra y, o seu uso tem restrições como o k e o w (ver Base I do Acordo de 1990). Dependendo dos nomes que a incluam, o y pode ser considerado como vogal, semivogal, semiconsoante e consoante. Como esta letra é incluída no alfabeto por causa da grafia de muitas palavras estrangeiras que a ostentam, como professor, chamaria a atenção para as diferentes sons associados à letra:

a) vocálico — hobby;
b) semivocálico — boy;
c) semiconsonântico ou consonântico — yuppie, yen (aportuguesamento iene), yeti (o abominável homem das neves da tradição tibetana).

Acrescente-se que algo de semelhante pode acontecer à letra w, passível de ter valor semivocálico em windsurf, mas lido como consoante em wagneriano.

 

Cf. Aventuras escondidas no alfabeto

Pergunta:

Estou a trabalhar num dicionário bilingue, já respeitando o novo Acordo Ort. Os hífenes têm sido uma enorme dor de cabeça. Em relação a pé de chinelo, devemos ou não usar o hífen? É que sendo uma expressão nova, a questão do uso não se impõe... ou estou enganada? Obrigada pela vossa ajuda preciosa. Não há um dia que não passe pelo vosso site!

Resposta:

No n.º 5 da Base XV do Acordo Ortográfico de 1990 lê-se:

«Nas locuções de qualquer tipo, sejam elas substantivas, adjetivas, pronominais, adverbiais, prepositivas ou conjuncionais, não se emprega em geral o hífen, salvo algumas exceções já consagradas pelo uso (como é o caso de água-de-colónia, arco-da-velha, cor-de-rosa, mais-que-perfeito, pé-de-meia, ao deus-dará, à queima-roupa). Sirvam, pois, de exemplo de emprego sem hífen as seguintes locuções:

a) Substantivas: cão de guarda, fim de semana, sala de jantar [...]»

Como a palavra em questão é, para usar a terminologia do Acordo, uma «locução substantiva», parece de admitir que pé de chinelo se escreve sem hífen, uma vez que, como diz a consulente, é uma expressão nova, logo não se qualifica como «exceção consagrada pelo uso».

Mas é aqui que começam as dúvidas: o Dicionário Houaiss regista pé-de-chinelo com hífen, classificando como brasileirismo que significa, como substantivo, «marginal pouco perigoso» e, como adjectivo e substantivo, «que ou o que é reles, pobre, sem expressão». Não é esta palavra uma expressão consagrada pelo uso, pelo menos, no Brasil? Então, em que ficamos?

Provavelmente a resposta está num Vocabulário unificado, que recolha o maior número de palavras usadas nas diferentes variedades de português e que as fixe de harmonia com o novo Acordo. Outra solução, mas já deve ser demasiado tarde, é alterar o preceito enunciado na Base XV, para o tornar mais objectivo, porque, perante tantos usos do português, nem sempre é óbvio identificar uma «excepção consagrada pelo uso».

Pergunta:

Gostaria de saber o significado das seguintes expressões idiomáticas:

«Seco como um pau.»
«Seco como o pó.»

Resposta:

Quer uma quer outra são expressões que significam «muito seco». As comparações são relativamente óbvias: o pó encontra-se num ambiente seco, e um pau pode ser um ramo ou um pedaço de madeira que secou ou que se encontra num processo de secagem.

Pergunta:

Como se traduz «code of practice»?

Resposta:

O Dicionário Verbo-Oxford Inglês-Português (2003) inclui no verbete de code a expressão «code of practice», como o mesmo que deontologia, «conjunto de deveres profissionais de qualquer categoria profissional minuciados em códigos específicos» (Dicionário Houaiss).

Pergunta:

Qual é a melhor tradução para a expressão inglesa «tidal shores»? Encontrei uma ou outra referência a «costas de marés», mas não me parece a tradução mais correcta.

Obrigada!

Resposta:

Penso que se refere aos termos da oceanografia entremarés (como em «zona/região entremarés») ou estirâncio («faixa do litoral ligeiramente inclinada para o mar e situada entre os níveis médios das marés baixa e alta; estrão, entremarés»), que tem a variante estrão.