Carlos Rocha - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Carlos Rocha
Carlos Rocha
1M

Licenciado em Estudos Portugueses pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, mestre em Linguística pela mesma faculdade e doutor em Linguística, na especialidade de Linguística Histórica, pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Professor do ensino secundário, coordenador executivo do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, destacado para o efeito pelo Ministério da Educação português.

 
Textos publicados pelo autor

Pergunta:

Apesar de ter sempre ouvido, visto e utilizado a expressão «a vácuo» e, portanto, considerá-la como correcta e consagrada pela língua portuguesa, ultimamente encontro, principalmente no ambiente da Internet, as expressões «em vácuo» e «sob vácuo». Os grandes dicionários (Houaiss, Aurélio, Porto Editora) não incluem a expressão no verbete vácuo e, assim, gostava de saber se é só uma questão de escolha, ou se realmente «a vácuo» é a expressão certa.

Muito obrigada e longa vida ao Ciberdúvidas!

Resposta:

Recomendamos a expressão «a vácuo». Embora a expressão não se encontre realmente nos dicionários referidos pela consulente, há registo dela no Dicionário de Usos do Português do Brasil, de Francisco S. Borba, publicado em 2002:

«[Núcleo de construção adverbial] [a+ ~] [...] «por meio da rarefacção absoluta ou quase absoluta do ar: o produto é embalado a vácuo em sacos plásticos [...].»

Pergunta:

No vosso item 14 714, «Encanar a perna à rã», têm o significado da expressão. Gostaria de saber se me sabem indicar a origem desta expressão.

Obrigada.

Resposta:

Não foi possível apurar com exactidão as circunstâncias factuais que levaram a criar esta expressão. No entanto, é possível depreender que se trata de uma metáfora, que pode ser explicitada do seguinte modo:

a) «encanar a perna à rã» é o mesmo que «não fazer nada; atrasar; não resolver; demorar; empatar» (Orlando Neves, Dicionário de Expressões Correntes, Lisboa, Editorial Notícias, 1999);

b) encanar significa «proteger o osso fracturado por meio de talas ou canas, mantendo-o em posição adequada ao processo curativo»;

c) independentemente de haver razões fortes que o justifiquem, «encanar uma perna a uma rã» corresponde a imobilizar tal animal;

d) uma situação de passividade ou de falta de reacção é, portanto, equivalente à de uma rã que é impedida de saltar.

Pergunta:

O que significa «pescador de coca e troviscada»? É um método antigo de pesca? Ou uma expressão idiomática? Ou, ainda, uma expressão de gíria?

Agradeço antecipadamente.

Resposta:

Como expressão fixa, não encontro registo dicionarístico de «pescador de coca e troviscada». Mas importa saber que coca pode referir, entre muitas outras coisas, «saco de malhas us. na pesca de peixes e camarões» (regionalismo do Rio Grande do Sul, Brasil; Dicionário Houaiss), e troviscada, «certa quantidade de trovisco, us. para narcotizar peixes, facilitando a pesca» (idem). Parece, portanto, tratar-se de uma expressão que, podendo não ser fixa, designa um pescador que recorre a um certo processo de pesca.

Pergunta:

Qual a origem da expressão «roubo de igreja», quando, num jogo de futebol, uma das equipas é claramente favorecida?

Resposta:

Não foi possível encontrar a origem factual da expressão em apreço. De qualquer modo, trata-se simultaneamente de uma metáfora e uma hipérbole, na medida em que se encaram decisões discutíveis ou injustas da arbitragem de um jogo de futebol (por exemplo, golo anulado ou o contrário – golo validado – grande penalidade não ou mal assinalada) como um sacrilégio, isto é, como um acto de desrespeito por objectos e lugares de valor religioso.

É uma expressão do chamado futebolês, em Portugal, não propriamente da gíria dos profissionais, mas característica dos treinadores e dos dirigentes menos tolerantes com a arbitragem.

Pergunta:

Gostaria de saber o significado do seguinte provérbio: «O que se poupa no farelo gasta-se na farinha.»

Resposta:

O provérbio «O que se poupa no farelo gasta-se na farinha» está registado em O Livro dos Provérbios Portugueses, de José Ricardo Marques da Costa (Lisboa, Editorial Presença, 2004), sem explicitação do seu significado. A sua interpretação parece, no entanto, clara: «às vezes, as opções mais económicas acabam por não ser compensadoras e levam depois a soluções dispendiosas» ou «não vale a pena ser avarento, porque há despesas que são necessárias».