Pergunta:
Qual é a forma correcta: “espaciotemporal”, ou “espácio-temporal”?
Na vossa resposta, com data de 09/06/1998, a uma pergunta semelhante, é afirmado que a forma correcta é “espaciotemporal”. O Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa regista precisamente essa forma; de igual modo o faz a última versão do Dicionário de Língua Portuguesa da Porto Editora. No entanto, o Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea, da Academia das Ciências de Lisboa, regista a forma “espácio-temporal”, e o dicionário da Priberam, também.
Numa outra resposta, com data de 29/04/1998, sobre o uso do hífen em palavras com o antepositivo sócio-, é dito o seguinte: b) O Tratado de Ortografia da Língua Portuguesa, de Rebelo Gonçalves, na página 216, menciona um dos casos em que se deve usar o hífen:
«Nos compostos em que entram, morfologicamente individualizados e formando uma aderência de sentidos, um ou mais elementos de natureza adjectiva terminados em o e uma forma adjectiva.»
Entre os vários exemplos, cita os seguintes: físico-químico, póstero-palatal, trágico-marítimo, ântero-inferior; latino-cristão, grego-latino, afro-negro.
Ora, nos poucos dicionários em que a palavra “espácio” aparece registada, ela é classificada como adjectivo.
Assim, retomo a questão: qual é a forma correcta – “espaciotemporal”, ou “espácio-temporal”?
Resposta:
A divergência entre dicionários deve-se, quanto a mim, à possibilidade de espácio-/espacio- ser encarado de duas formas: quer como elemento composição de «natureza substantiva», e daí escrever-se espaciotemporal; quer como redução ou truncação do adjetivo espacial, permitindo a grafia espácio-temporal (à semelhança de luso-brasileiro). Esta distinção enquadra-se no Acordo Ortográfico de 1945 (AO 1945) e é característica do Tratado de Ortografia da Língua Portuguesa (1947, págs. 216ss e 250ss) de Rebelo Gonçalves. É de notar que o elemento em apreço não se encontra registado em obras de referência para a ortografia do acordo de 1945, como são o Vocabulário Resumido da Língua Portuguesa (1947), da Academia das Ciências de Lisboa, ou o Vocabulário da Língua Portuguesa (1966), de Rebelo Gonçalves, permitindo que perdure a instabilidade ortográfica da palavra composta. Também sintomático de ambiguidade é o facto de a Mordebe apresentar duas formas segundo o AO 1945: espaciotemporal e espácio-temporal.
Observe-se, porém, que dicionários portugueses e brasileiros acolhem espácio como palavra autónoma e não como radical (como elemento não-autónomo). É assim que se regista a forma espácio como adjetivo no Vocabulário da Língua Portuguesa de Rebelo Gonçalves (Coimbra, Coimbra Editora, 1966). O Dicionário Houaiss (versão eletrónica de 2001) acolhe ...