Carlos Rocha - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Carlos Rocha
Carlos Rocha
1M

Licenciado em Estudos Portugueses pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, mestre em Linguística pela mesma faculdade e doutor em Linguística, na especialidade de Linguística Histórica, pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Professor do ensino secundário, coordenador executivo do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, destacado para o efeito pelo Ministério da Educação português.

 
Textos publicados pelo autor

Pergunta:

Qual seria, porventura, o gentílico de Chartres, famosa cidade francesa?

Gratíssimo.

Resposta:

Na prática, não existe, provavelmente porque os falantes de português não se sentem instados a criar ou a usar tal forma. Mas, em potência, é sempre possível supor que o gentílico de Chartres incluíra um dos sufixos mais correntes, quando se trata de gentílicos: chartrense, por exemplo. A omissão do s não deve ser motivo de hesitação, porque há muitos casos em que ele desaparece na formação do gentílico: a Arcos de Valdevez corresponde arcuense, em que se perde o s da primeira parte do topónimo.

Pergunta:

«Lugar do Gatanhal», «Rua do Gatanhal» (freguesia da Santa Cruz do Bispo – Matosinhos).

Qual a origem do topónimo Gatanhal?

Resposta:

Trata-se de topónimo não registado na principal obra de referência no domínio da história da onomástica portuguesa, o Dicionário Onomástico Etimológico da Língua Portuguesa, de José Pedro Machado. Contudo, tendo em conta que o nome exibe o sufixo -al, usado «em vocábulos com o sentido de "colectivo de determinada planta, árvore etc."», é possível identificar um radical gatanh-, que ocorre na palavra gatanho, segundo o Grande Dicionário da Língua Portuguesa (do mesmo autor), regionalismo da Bairrada (Centro de Portugal), com o significado de «espécie de tojo, que também se chama tojo gatão», e também usado como designação de uma «variedade de milho». Convém acrescentar que o Dicionário de Expressões Populares Portuguesas (Lisboa, Edições D. Quixote, 1993), de Guilherme Augusto Simões, tem entrada para gatanho ou tojo-gatos, cujo uso se atribui à zona de Vila do Conde (Norte de Portugal). Gatanhal será, portanto, o mesmo que «lugar onde abunda o gatanho».

De assinalar ainda que na obra de G. A. Simões se acolhe a forma gatenho, que pode ser homófona de gatanho, nas acepções de «[terreno] que está de pousio; inculto; não semeado; que produz pouco» (na Beira) e de «milho cujas espigas estão rentes ao chão» (no Alentejo). Finalmente, diga-se que consultas na Internet indicam a ocorrência do topónimo em apreço — sob a grafia Gatañal — também na Galiza, nas províncias de Pontevedra e da Corunha (cf. página Toponimia de Galicia da Junta da Galiza).

Pergunta:

Gostaria de saber se o o de colite se pronuncia aberto ou fechado.

Obrigada.

Resposta:

Em português europeu, pronuncia-se com ó aberto, apesar de a vogal se encontrar em sílaba átona pré-tónica: [kɔˈlitɨ] (cf. dicionário da Academia das Ciências de Lisboa).

Em português do Brasil, o registo sonoro disponível no Aulete Digital parece mostrar um ó fechado nessa posição.

Pergunta:

Já percorri todas as vossas entradas sobre este assunto e consultei prontuários e gramáticas, mas a minha dúvida persiste: os nomes das línguas podem ser grafados com maiúsculas?

Se seguirmos a resposta de Rui Ramos de 17/01/2003, que encontramos também nos manuais referidos, só poderemos identificar a língua com maiúscula se for considerada um disciplina de estudo? (Ex.: Fazer os trabalhos de Inglês). Mas, e o dicionário de Inglês? E falar Inglês (ou qualquer outra língua, claro) ou traduzir do Inglês/Francês/Italiano para Português?

Estarei a ser influenciada pelas maiúsculas dos gentílicos ingleses?

Penso que a identificação da língua como tal justifica o uso do nome próprio, mas agradecia a vossa opinião.

Obrigada.

Resposta:

O Acordo Ortográfico de 1990 é omisso sobre o usos de maiúscula inicial nos substantivos referentes a línguas, mas admite que certas áreas do saber possam criar certas normas específicas das respectivas actividades:

Obs.: As disposições sobre os usos das minúsculas e maiúsculas não obstam a que obras especializadas observem regras próprias, provindas de códigos ou normalizações específicas (terminologias antropológica, geológica, bibliológica, botânica, zoológica, etc.), promanadas de entidades científicas ou normalizadoras, reconhecidas internacionalmente.

O critério que se depreendia do que Rebelo Gonçalves observava no Tratado de Ortografia da Língua Portuguesa (1947, pág. 129) era o de que tais designações tinham inicial minúscula, a não ser quando eram usadas para referir disciplinas escolares:

[...] As palavras que designam línguas (latim, grego, português, etc.), quando servem de título a disciplinas, ficam, evidentemente abrangidas pela norma anterior: F. é aluno da cadeira de Latim; seguiu um curso de Grego; teve boas notas em Português.

Sucede, porém, que em muitas publicações se mostra preferência pelo uso da maiúscula inicial nos substantivos em apreço.

Pergunta:

Trabalho em uma empresa de artefatos de madeira, e temos uma dúvida que não encontramos em nenhum dicionário. Um dos processos de produção é aplicar uma massa específica para madeira, para cobrir pequenos furos ou pequenas imperfeições da peça de madeira, minha dúvida é qual o termo correto para a aplicação dessa massa, massear, massiar ou outro termo.

Se vocês puderem tirar essa minha dúvida, ficarei muito grato.

Resposta:

No Dicionário Houaiss, regista-se o verbo emassar, «revestir com massa», «colocar massa de vidraceiro em; emassilhar». Este parece, aliás, o verbo adequado, porque ocorre numa página em português do Brasil, dedicada ao tratamento de móveis de madeira (sublinahdo meu):

LAQUEAÇÃO – laquear é pintar os móveis, esconder os poros e veios da madeira. Recomenda-se, além do lixamento perfeito, emassar os defeitos com massa para madeira. Em caso de grandes defeitos, deve-se emassar 3 ou 4 vezes se necessário, pois a massa cede dentro do buraco.