Pergunta:
«Cada coisa é uma palavra. E quando não se a tem, inventa-se-a. Esse vosso Deus que nos mandou inventar» — Clarice Lispector (A Hora da Estrela).
No excerto acima, «não se a tem» e «inventa-se-a» são combinações incorretas de pronomes? Por que elas soam tão naturais e inteligíveis, se, de acordo com esta resposta, estariam supostamente incorretas?
Gostaria de um esclarecimento mais detalhado, por favor.
Resposta:
Pouco há a acrescentar ao que já se disse anteriormente. Geralmente, não se aceita a sequência formada por se, com valor de partícula apassivadora ou sujeito indeterminado, e o pronome pessoal átono de objecto directo o, como se lê na Moderna Gramática da Língua Portuguesa (2002, pág. 180), de Evanildo Bechara:
A língua-padrão rejeita a combinação se o (e flexões, apesar de uns poucos exemplos na pena de literatos:
«Parece um rio quando se o vê escorrer mansamente por entre as terras próximas...»
Os usos identificados na obra em apreço são, portanto, excepções literárias à regra da língua padronizada.