Pergunta:
Estava eu estudando latim e percebi que alguns substantivos da língua portuguesa aparentam derivar sua forma não do nominativo, mas sim do ablativo, como em: pons, is, abl. ponTE; dens, is, abl. denTE; mons, is, abl. monTE; urbs, is, abl. urBE; avis, is, abl. avE; nox, is, abl. nocTE. Gostaria de saber como e por que causa se verifica essa aparente origem e também o porquê de nossa língua não ter declinações como o latim. Desde já agradeço-vos pela resposta e congratulo-vos pelo excelente trabalho de elucidar a língua nossa neste pantanoso terreno da Internet.
Resposta:
Em geral, os substantivos e os adjetivos do português provêm não do ablativo, mas, sim, do caso acusativo, com queda do -m final (é o chamado caso etimológico), tal como era típico do latim vulgar: PONTE(M) > ponte (os exemplos do consulente cabem todos neste tipo de declinação); CAUSA(M) > coisa; PORTU(M) > porto.
Existem, no entanto, vestígios do ablativo na etimologia de certos advérbios: HAC HORA > agora; HAC NOCTE > ontem.
Quanto à razão de a nossa língua não ter declinações como o latim, pensa-se que a evolução fónica muito contribuiu para confundir as diferentes formas dos casos. Sobre este assunto, leiam-se as respostas Sobre a evolução das palavras latinas para o português, Casos de novo e Traços dos casos latinos no português.