Pergunta:
Ao ler um texto de 1857, de autoria de um brasileiro, topei com uma palavra nova (para mim): jesuítico.
O contexto era insultuoso: o autor falava de alguém «atrevido e jesuítico». Os dicionários esclarecem-me que, além de referir-se a assuntos atinentes à ordem dos jesuítas, o adjetivo jesuítico ganhou uma acepção pejorativa. Algumas definições: «que é considerado fingido ou dissimulado», diz o Priberam; «fingido, dissimulado», ecoa o Caldas Aulete; «que não merece confiança; hipócrita», informa o Michaelis.
Minhas perguntas:
Qual é a origem dessa palavra em sua conotação depreciativa?
Tem algo que ver com a política anti-jesuítica do Marquês de Pombal?
Era comum, na época do marquês e depois dele, pespegar nos jesuítas a mácula da hipocrisia, do fingimento ou da dissimulação?
É possível ouvir-se ainda hoje, em Portugal, a mesma palavra pejorativamente?
Muito obrigado!
Resposta:
O registo mais antigo que se identifica no Dicionário Houaiss é de 1758, mas não foi aqui possível ter acesso ao contexto, de modo a confirmar se a palavra foi sido criada já com significado negativo e no contexto da campanha contra a Companhia de Jesus no reino de Portugal.
O certo é que a conotação negativa de jesuítico tem registo no dicionário de Morais (1798), já depois de Pombal: «JESUITICO – adj. de jesuita, enredos [jesuíticos], intrigas [jesuíticas]»
No dicionário de Morais, as palavras associadas a jesuítico são, portanto, disfóricas, o que permite concluir que a palavra era assim usada geralmente nos territórios de língua portuguesa. Em Portugal, a forma jesuítico ainda mantém o tom depreciativo ou pejorativo (ver jesuítico na Infopédia).
Em suma, pretendendo referir de forma neutra o que é relativo à Companhia de Jesus, emprega-se antes jesuíta, e não jesuítico.