Carlos Rocha - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Carlos Rocha
Carlos Rocha
1M

Licenciado em Estudos Portugueses pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, mestre em Linguística pela mesma faculdade e doutor em Linguística, na especialidade de Linguística Histórica, pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Professor do ensino secundário, coordenador executivo do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, destacado para o efeito pelo Ministério da Educação português.

 
Textos publicados pelo autor

Pergunta:

Afastar significa «ir para lá». Sendo assim, é incorrecto dizer «Afasta lá»? Seria preferível dizer: «Afasta...»?

Resposta:

A rigor, afastar e afastar-se significam, respetivamente, «distanciar (alguém ou alguma coisa)» e «distanciar-se (de alguém/alguma coisa)».

Pode dizer-se «afasta-te lá» ou «afasta lá a mão», mas, nestes exemplos, o advérbio não tem valor espacial, é antes uma partícula de realce no discurso.

Noutros casos, o verbo usa-se transitiva (exemplo 1) ou pronominalmente (exemplo 2), podendo, neste último caso, ter ainda associado um complemento oblíquo (exemplo 3):

(1) «Ele afastou a mão.»

(2) «Ele afastou-se.»

(3) «Ele afastou-se dela/da porta.»

Pergunta:

É legítima a palavra estapafurdice, que não encontro dicionarizada, para me referir a coisas/cenas estapafúrdias?...

("Saiu-me" espontaneamente numa conversação.)

Obrigado.

Resposta:

A palavra é legítima – do adjetivo estafúrdio, «bizarro, disparatado», forma-se estafurdice, tal como de doido deriva doidice – e está registada, pelo menos, no Dicionário Houaiss, no Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, da Academia Brasileira de Letras, e no Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, da Porto Editora.

Pergunta:

Qual a grafia que devemos usar em português para a capital da República da Estónia? Se em estónico, se escreve Tallinn, em português encontro grafias aportuguesadas (Talim e Taline) ou parcialmente aportuguesadas (Talin).

Resposta:

Não há, por enquanto, consenso quanto à forma a adotar por este topónimo em português. Taline é, de facto, a forma registada pelo Código de Redação Interinstitucional, que segue assim a Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira (s. v. Taline e Reval).¹ Contudo, o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, da Porto Editora (versão  impressa, de 2009), regista Talim e Talin, formas presumivelmente registadas como variantes do mesmo nome. Refira-se que, destas duas, é Talim a que está conforme os padrões ortográficos do português.

¹ Reval é outro nome dado à cidade em apreço, sobretudo quando o território da Estónia se encontrava sob a influência política ou comercial da Alemanha e dos países nórdicos. Reval foi nome usado até à Segunda Guerra Mundial. Xavier Fernandes Fernandes, em Topónimos e Gentílicos (vol. I, Editora Educação Nacional, Porto, 1941, pág. 172), escreve Revel, uma forma russa; de notar que também regista o nome atual sob a forma Talin.

Pergunta:

Qual é o plural de vígil?

 

Muito obrigada.

Resposta:

Como todos os substantivos e adjetivos acentuados na penúltima sílaba (graves ou paroxítonos) e terminados em -il (p.ex. réptil e fácil), o adjetivo vígil, usado nas aceções «que está vigilante» e «que está desperto, acordado» (cf. Dicionário Houaiss), tem o plural em -eis: vígeis (cf. idem e Dicionário Priberam da Língua Portuguesa; ver também Celso Cunha e Lindley Cintra, Nova Gramática do Português Contemporâneo, Lisboa, Edições Sá da Costa, 1984, pág. 186). Recorde-se que os substantivos e adjetivos agudos (ou oxítonos) terminados em -il têm o plural em -is: barril/barris, vil/vis (cf. Cunha e Cintra op. cit.).

Pergunta:

Precisava de saber se ensino é hiperónimo de matemática ou se é disciplina. 

Obrigada pela atenção dispensada.

Resposta:

A palavra disciplina é hiperónimo de Matemática, no contexto das disciplinas possíveis na constituição de um currículo escolar. Trata-se, portanto, da designação genérica de todos os cursos dedicados a vários ramos do conhecimento, enquadrado pelo sistema escolar. Note-se que do hiperónimo para os vocábulos mais específicos, isto é, para os hipónimos, há uma transferência de propriedades semânticas: Matemática, História e Biologia são disciplinas (cf. hiperónimo e hipónimo no Dicionário Terminológico).