Pergunta:
Mesmo não sendo do campo de Letras, pertenço à Administração, tenho grande interesse no estudo linguístico.
Entretanto tem uma questão que já apareceu aqui várias vezes, mas ainda não ficou clara para mim, que seria a variação linguística. Compreendo que uma língua é viva, mutável e adaptável. Antigamente escrevíamos "pharmacia", "theatro", entre outros. O que ainda não sou capaz de compreender é quando um erro "é um erro" e quando ocorre um caso de variação. Ou todo erro "evolui" para uma variação? Por exemplo, aqui no Brasil é comum dizer "framengo", "probrema", "é nós"... Por ser comum, seria um fenômeno de variação que no futuro pode "concorrer" a norma culta?
Finalizando, uma pergunta que não se cala, devo corrigir erros e desvios? Corrigindo não estaria prejudicando a evolução da própria?
Desde já, minhas saudações à equipe!
Resposta:
Toda e qualquer língua tende à variação. Esta situação é travada pela elaboração de uma norma-padrão, resultado de um processo histórico que tem fins político-administrativos e geralmente faz parte da afirmação de um Estado. É a norma-padrão que define como erro a variação ou o desvio em relação às formas-padrão, isto é, às formas supostamente conhecidas por toda uma comunidade de falantes e por estes tomadas como modelo de expressão. Casos como "framengo" ou "probrema" não são recentes e parecem continuar uma tendência generalizadora da língua que não é aceite pela norma. Por exemplo, sabe-se que prato evoluiu de uma forma latina hipotética *plattus por intermédio do francês plat (Dicionário Houaiss; cf. espanhol plato); a norma acolheu a forma prato, mas já não aceitou outras formas que davam continuação à tendência de a consoante líquida lateral [l] passar à vibrante simples [ɾ] (o "r" de caro) após consoante oclusiva: problema > "probrema") ou fricativa (flamengo > "framengo"). A avaliação e a rejeição destas formas devem-se a razões relacionadas com dinâmicas sociais, raramente claras, e são consideradas por sectores da população como legítimas (por muito que a maioria da população não faça assim).
Quando se trata de escrever textos ou fazer intervenções oralmente em situação formal, é óbvio que devemos obedecer à norma, por muito convencional e arbitrária que esta seja. Trata-se de um produto histórico que acabou por ganhar projeção social e alcançar o estatuto de modelo para as práticas linguísticas prestigiadas. Contudo, convém igualmente ter consciência de que os...