Pergunta:
Há dias, ouvi alguém dizer que não andava a fazer "nestum". Parece a mesma palavra que a conhecida marca comercial, ou será o mesmo que «nada»? Como apareceu esta expressão?
Resposta:
Como o consulente bem percebeu, a forma nestum ocorre numa frase negativa, com o mesmo significado do pronome indefinido «nada».
Trata-se de um uso jocoso, enquadrável no calão (ou gíria), que se atesta desde há alguns anos, como acontece com o registo que Afonso Praça (1939-2001) fez da palavra no Novo Dicionário do Calão (3.ª edição, Lisboa, Casa das Letras, 2005). É difícil determinar a génese exata deste termo, mas muito provavelmente surgiu por conversão do nome próprio Nestum, marca comercial de cereais para misturar com leite, que a companhia de produtos alimentares Nestlé terá lançado em Portugal em 1958, ao que parece, visando melhorar a alimentação das crianças. Para esta conversão, terá certamente contribuído o facto de o nome próprio começar por n como nada, rimar com nenhum* e evocar o universo infantil, em princípio, alheio a obrigações profissionais.
Acrescente-se um exemplo de como nestum está presente no português de Portugal, mais concretamente, numa crónica** de Pedro Rolo Duarte à volta de um vocábulo da moda, o anglicismo nesting:
«Há pontarias tramadas. Decidi que este era o melhor momento – talvez o único, neste ano cheio – para tirar uns dias a praticar aquilo que sempre cultivei, mas agora tem nome: nesting. Não é bem «fazer Nestum» – expressão feliz, do nosso calão, que significa exactamente «fazer nada»... – mas é usar o tempo livre para fazer algo relaxante, tranquilizante, calmante. Podem ser bolos ou sestas, jardinagem ou fotografia, ver estrelas ou fazer tricot. No meu caso, foi mesmo ...