Como se classifica o nome próprio Sofia quanto ao número de sílabas e quanto à acentuação? Este é o assunto tratado neste apontamento pela professora Carla Marques.
(Programa Páginas de Português, da Antena 2, de 23/02/2024)
Doutorada em Língua Portuguesa (com uma dissertação na área do estudo do texto argumentativo oral); investigadora do CELGA-ILTEC (grupo de trabalho "Discurso Académico e Práticas Discursivas"); autora de manuais escolares e de gramáticas escolares; formadora de professores; professora do ensino básico e secundário. Consultora permanente do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, destacada para o efeito pelo Ministério da Educação português.
Como se classifica o nome próprio Sofia quanto ao número de sílabas e quanto à acentuação? Este é o assunto tratado neste apontamento pela professora Carla Marques.
(Programa Páginas de Português, da Antena 2, de 23/02/2024)
Gostaria que me tirassem algumas dúvidas quanto ao uso do indicativo e conjuntivo com verbos de opinião.
As gramáticas indicam que depois de verbos de opinião na forma afirmativa usamos o indicativo e depois da negativa usamos o conjuntivo.
a) Acho que o livro está na biblioteca.
b) Não acho que o livro esteja na biblioteca.
Seria agramatical dizer o seguinte?
c) Acho que o livro não está na biblioteca.
d) Achei que o livro estivesse na biblioteca.
De acordo com a regra, d) não deveria ser «Achava que o livro estava na biblioteca»?
E quanto às seguintes frases?
(e) Não achei que o livro estava na biblioteca.
(f) Não creio que hoje fico em casa.
E uma última questão, o verbo acreditar segue a mesma regra que os restantes verbos de opinião ou há alguma exceção?
(g) Acredito que o livro está na biblioteca.
(h) Não acredito que o livro esteja na biblioteca.
Com este verbo, soa-me melhor ouvir as duas formas, afirmativa e negativa, no modo conjuntivo.
Pedia que me confirmassem se estão corretas as frases.
Caso sejam gramaticais, qual é, afinal, a regra para o uso indicativo e conjuntivo com os verbos de opinião?
Obrigada!
Antes de mais, importa clarificar que os casos apresentados se enquadram no contexto de frases complexas constituídas por uma oração subordinante que inclui um verbo de crença (acreditar, achar) e por uma oração subordinada completiva.
Nestes casos, os verbos de crença e também os declarativos selecionam normalmente o modo indicativo no verbo da oração subordinada e não determinam limitações quanto ao tempo verbal, como se verifica nas frases seguintes:
(1) «Acho que o livro está na biblioteca.»
(2) «Acredito que o livro está na biblioteca.»
(3) «Acho que o livro não está na biblioteca.»
(4) «Achava que o livro estava na biblioteca.»
(5) «Acho que o livro esteve na biblioteca.»
(6) «Acho que o livro tinha estado na biblioteca.»
Como se observa em (3) a presença da negação na oração subordinada não afeta o modo verbal do verbo da oração.
Quando a oração subordinante inclui uma negação, o conjuntivo pode aparecer na oração subordinada:
(7) «Não acho que o livro esteja na biblioteca.»
(8) «Não acredito que o livro esteja na biblioteca.»
Com o verbo acreditar, é possível usar o modo conjuntivo na oração subordinada mesmo quando a oração subordinante é afirmativa1:
(9) «Acredito que o livro esteja na biblioteca.»
Disponha sempre!
1. Para mais informações sobre este assunto, cf. Oliveira in Raposo et al., Gramática do Português. Fundação Calouste Gulbenkia...
Relativamente ao uso de «reduzir pela metade», «reduzir para a metade» ou «reduzir à metade», gostaria de saber qual destas formas é mais correta nestes dois exemplos:
(1) «Após o desconfinamento, embora os locais recreativos começassem a acolher os clientes, a lotação permitida estava reduzida à metade.»
(2) «Embora a sala de espera possuísse diversos assentos, a proximidade entre as fileiras da frente reduziam-nos para a metade.»
Não sei se as opções que usei são as mais corretas.
Podem esclarecer-me esta dúvida, por favor?
Muito obrigada!
O verbo reduzir, na sua estrutura original, deve reger a preposição a, quando usado como transitivo direto e indireto com o sentido de «tornar mais curto, tornar menor, resumir, abreviar»1.
Deste modo, as frases apresentadas deverão ter a seguinte forma:
(1) «Após o desconfinamento, embora os locais recreativos começassem a acolher os clientes, a lotação permitida estava reduzida a metade.»
(2) «Embora a sala de espera possuísse diversos assentos, a proximidade entre as fileiras da frente reduzia2-os a metade.»
Celso Luft adverte, todavia, que há registos de uso do verbo reduzir com a preposição em, como se verifica na frase:
(3) «Reduzir em menos centímetros.»
Não obstante, uma pesquisa efetuada no Corpus do Português mostra que há muitos registos de uso do verbo reduzir com a preposição para:
(4) «[…] aos dez minutos da segunda parte, já o Beira-Rio tinha reduzido para dois a três […]» (Manuel Alegre, Alma)
(5) «[…] cujo orçamento foi reduzido para os actuais 304 milhões de ecus 55 milhões de contos.» (Público)
Deste modo, ainda que os dicionários consultados não incluam a regência com a preposição para, pelo menos em contextos menos formais, esta opção parece ter já entrado nas opções disponíveis para construções com o verbo reduzir.
Disponha sempre!
1. Esta indicação está presente em todos os dicionários c...
«Percebi nessa frase que a dignidade não está naquilo que temos, mas na forma como fazemos aquilo que nos cabe.»
Quais os valores aspetuais configurados pelas formas verbais presentes na frase?
Eu creio que serão perfetivo («percebi») e genérico (para as restantes formas verbais).
Todavia, há quem considere imperfetivo e eu não entendo por que razão pode ser imperfetivo.
Obrigada.
Com efeito, na frase em análise são veiculados os valores perfetivo e genérico.
O aspeto perfetivo permite apresentar a situação como um todo já concluído, ao passo que o aspeto imperfetivo a apresenta numa das suas fases de desenvolvimento, como se fosse vista de dentro, sem olhar ao todo. Assim, a situação enquadrada pela oração subordinante, introduzida pela forma verbal percebi é apresentada como uma situação passada já fechada, associada, deste modo, ao aspeto perfetivo.
No interior da frase, a oração subordinada (que encaixa duas orações coordenadas) também veicula um aspeto verbal. A situação aqui é apresentada como uma verdade que se mantém em todas as ocasiões, como se de uma máxima se tratasse, aspeto para o qual contribui o recurso ao presente do indicativo. Deste modo, as orações coordenadas «a dignidade não está naquilo que temos, mas na forma como fazemos aquilo que nos cabe» veiculam um aspeto genérico.
Disponha sempre!
Devo felicitar-vos pelo excelente trabalho que têm vindo a fazer!
Tenho uma dúvida no que diz respeito ao complemento do nome referente ao nome retrato nos contextos seguintes:
1. O retrato da tua filha está perfeito.
2. O retrato que o artista elaborou está exposto na galeria.
Na frase 1, foi indicado que «da tua filha» seria um complemento do nome. Percebi a análise, visto que o nome retrato pode ser entendido como denotando uma representação visual ou gráfica e, ao retirar «da tua filha», o sentido referencial de retrato seria impreciso.
Contudo, na frase 2, a expressão «que o artista elaborou» foi considerada como modificador do nome restritivo. Sei que é uma oração subordinada adjetiva relativa restritiva e sei que estas costumam ter a função sintática de modificador do nome restritivo. Todavia, o sentido referencial de retrato não ficaria impreciso se esta fosse retirada, dado que é um modificador? Se a frase fosse «O retrato da tua filha que o artista elaborou está exposto na galeria», entenderia muito melhor a análise... Que justificação pode ser dada para se considerar ambas as análises sintáticas corretas?
Posso inferir que, não importando o contexto, se aparecer uma oração subordinada adjetiva relativa, esta terá sempre, sem exceção, a função sintática de modificador do nome, mesmo que eu saiba que o nome possa exigir um complemento do nome (como alguns nomes deverbais: «A oferta da casa foi feita ao casal» vs. «A oferta que o casal recebeu foi uma casa»?
Obrigada pela vossa atenção!
Com efeito, nas frases em apreço, os constituintes sublinhados nas frases desempenham a função de complemento do nome (frase 1) e modificador do nome (frase 2):
(1) «O retrato da tua filha está perfeito.»
(2) «O retrato que o artista elaborou está exposto na galeria.»
No caso da frase (1), o constituinte «da tua filha» desempenha a função de complemento do nome porque completa o sentido do nome retrato, na medida em que este, sendo um nome pictórico (relativo à imagem), pede um argumento que indique quem (ou o quê) está representado no referido retrato.
No caso da frase (2), a oração subordinada adjetiva relativa não constitui um argumento do nome porque não informa sobre o conteúdo representado na imagem. Dá antes uma informação que, ao incidir sobre o nome retrato, restringe o seu significado. É essa a razão que explica a alteração de sentido que ocorre quando se retira a relativa da frase.
(2a) «O retrato está exposto na galeria.»
A relativa «que o artista elaborou» junta-se ao nome retrato e leva a que este passe a referir apenas um objeto que corresponde ao retrato feito pelo artista, assim excluindo todos os outros possíveis retratos. Por essa razão, o oração relativa é indispensável à frase para que ela mantenha o seu sentido.
Por fim, refira-se que, de uma forma geral, as orações relativas que se associam a um nome desempenham a função de modificador do nome (restritivo ou explicativo).
Agradecemos as gentis palavras.
Disponha sempre!
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