Pergunta:
a) «Certifique-se de que os dados do seu passaporte possam ser lidos de forma clara e de que a imagem não contenha partes desfocadas ou afetadas por reflexos»;
ou b) «Certifique-se de que os dados do seu passaporte podem ser lidos de forma clara e de que a imagem não contém partes desfocadas ou afetadas por reflexos»?
Apesar de já ter lido uma resposta sobre este tema [...], confesso que as frases acima me deixam um pouco confuso quanto à possibilidade de utilização do conjuntivo, uma vez que o elemento de «certeza/realidade/facto» não é claro:
1 – A ação que condiciona a boa leitura do documento ainda não foi realizada;
2 – Subentende-se, com facilidade, que o leitor terá de fazer mais do que «certificar-se de que». Nomeadamente, terá de se esforçar por obter uma digitalização correta do passaporte. Ou seja, a expressão «certificar-se de que» comporta um significado mais abrangente do que um simples «verifique se está tudo bem»;
3 – Existe sempre a possibilidade de o leitor não seguir o conselho (por esquecimento, etc.).
Os elementos acima remetem-nos para outra explicação: «o emprego do subjuntivo também indica que uma ação, ainda não realizada, é concebida como subordinada a outra, expressa ou subentendida, de que depende diretamente». Por conseguinte, sinto-me tentado a considerar que a utilização do conjuntivo na frase a) é correta.
Estarei equivocado?
Grato pela atenção.
Resposta:
Com o verbo certificar ambos os modos verbais são possíveis, o que terá consequências no plano dos valores veiculados, que estão relacionados com a crença que se expressa. Acrescente-se, não obstante, que a frase apresentada pelo consulente revela especificidades que parecem introduzir limitações ao uso do modo conjuntivo.
A seleção do modo verbal a utilizar em orações subordinadas completivas está, normalmente, dependente do valor de crença que se associa à realidade descrita na oração subordinada. Assim, usa-se o modo indicativo quando há uma forte crença na verdade da frase, o que, no caso apresentado, significa que se acredita que a leitura dos dados vai efetivamente ter lugar:
(1) «Certifique-se de que os dados do seu passaporte podem ser lidos de forma clara.»
O grau de crença na verdade da situação descrita na oração subordinada é similar ao grau de crença expresso na frase (2):
(2) «Ele acredita que o João partiu esta garrafa.»
Quando se seleciona o modo conjuntivo, expressa-se um grau de crença menor na verdade da situação escrita na oração subordinada, tanto em (3) como em (4):
(3) «Certifique-se de que os dados do seu passaporte possam ser lidos de forma clara.»
(4) «Ele acredita que o João tenha partido a garrafa.»
Na frase (3), o locutor não sabe se os dados do passaporte serão lidos, enquanto na frase (1), ele acredita que serão efetivamente lidos.
Já a segunda oração completiva coloca outros problemas uma vez que descreve uma realidade factual: «a imagem não contém partes desfocadas ou afetadas por reflexos». Neste caso, não parece ser possível jogar com o grau de crença, pelo que a frase correta será:...