Esta semana, a professora Carla Marques aborda a questão dos verbos que possam descrever situações relacionadas com o período de Carnaval.
(Programa Páginas de Português, da Antena 2, de 02/03/2024)
Doutorada em Língua Portuguesa (com uma dissertação na área do estudo do texto argumentativo oral); investigadora do CELGA-ILTEC (grupo de trabalho "Discurso Académico e Práticas Discursivas"); autora de manuais escolares e de gramáticas escolares; formadora de professores; professora do ensino básico e secundário. Consultora permanente do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, destacada para o efeito pelo Ministério da Educação português.
Esta semana, a professora Carla Marques aborda a questão dos verbos que possam descrever situações relacionadas com o período de Carnaval.
(Programa Páginas de Português, da Antena 2, de 02/03/2024)
Na frase «Submetendo-os a uma regra», qual a função sintática de «a uma regra»?
Complemento oblíquo ou complemento indireto? O verbo seleciona complemento indireto quando se encontra na forma reflexa, como em «Ele submeteu-se-lhe», mas não me parece que, neste contexto, a expressão iniciada por preposição seja complemento indireto, já que não seria aceitável a formulação «Submetendo-lhos».
Agradeço antecipadamente a vossa resposta.
O constituinte apresentado não constitui uma frase independente. Trata-se, antes, de uma oração que, por não ter autonomia sintática, se subordinará a outra oração numa frase complexa, como acontece, por exemplo, na frase (1):
(1) «Deu-lhes indicações sobre o modo de agir, submetendo-os a uma regra.»
O constituinte «submetendo-os a uma regra» é uma oração gerundiva e, no seu interior, o verbo submeter gera função sintática. Este verbo, usado com o sentido de «sujeitar», é transitivo direto e indireto, o que se verifica na oração em análise. Deste modo, o pronome os desempenha a função de complemento direto. Resta, agora, determinar a natureza do constituinte «a uma regra». Se aplicarmos o teste de pronominalização para identificação do complemento indireto, verificamos que ele não é possível:
(2) «*Deu-lhes indicações sobre o modo de agir, submetendo-lhes os amigos1.»
Isto significa que o verbo submeter rege a preposição a e que o constituinte «a uma regra» é um grupo preposicional com a função de complemento oblíquo2.
Disponha sempre!
*indica inaceitabilidade do teste.
1. Substituiu-se o pronome os pelo constituinte «os amigos» para clareza de análise.
2. Esta mesma análise é apresentada em Raposo, Dicionário gramatical de verbos portugueses. Texto editores.
Pode esclarecer-me sobre os constituintes da frase «E queria passar a tarde a ver filmes»?
«A ver filmes» é modificador ou complemento oblíquo?
A oração «a ver filmes» desempenha a função sintática de complemento oblíquo.
No caso em análise, o verbo passar é usado numa construção que tem o sentido de «gastar tempo a fazer alguma coisa». Neste uso, este verbo é transitivo direto e indireto, tendo a seguinte estrutura: «passar + complemento direto + complemento oblíquo (=preposição a + oração não finita)1.
Assim, a oração não finita «ver filmes» está integrada no interior de um grupo preposicional introduzido pela preposição a. É este grupo preposicional que desempenha a função de complemento oblíquo. Note-se que se trata de um constituinte que não pode ser omitido da frase porque constitui um argumento do verbo, que o exige para completar o seu sentido, o que indica que não se trata de um modificador.
Disponha sempre!
1. Cf. Raposo, Dicionário gramatical de verbos portugueses. Texto editores, p. 594.
Nota (03/03/2025): Convém acrescentar que a análise apresentada decorre do Dicionário Terminológico, documento de apoio ao estudo da gramática no ensino básico e secundário em Portugal. No entanto, a estrutura em questão é muito marginal e pode ter uma análise alternativa em gramáticas mais especializadas. Por exemplo, no quadro da Gramática do Português da Fundação Calouste Gulbenkian (2013-2020, pp. 1268-1270), é possível a leitura de passar como semiau...
Como se classifica o nome próprio Sofia quanto ao número de sílabas e quanto à acentuação? Este é o assunto tratado neste apontamento pela professora Carla Marques.
(Programa Páginas de Português, da Antena 2, de 23/02/2024)
Gostaria que me tirassem algumas dúvidas quanto ao uso do indicativo e conjuntivo com verbos de opinião.
As gramáticas indicam que depois de verbos de opinião na forma afirmativa usamos o indicativo e depois da negativa usamos o conjuntivo.
a) Acho que o livro está na biblioteca.
b) Não acho que o livro esteja na biblioteca.
Seria agramatical dizer o seguinte?
c) Acho que o livro não está na biblioteca.
d) Achei que o livro estivesse na biblioteca.
De acordo com a regra, d) não deveria ser «Achava que o livro estava na biblioteca»?
E quanto às seguintes frases?
(e) Não achei que o livro estava na biblioteca.
(f) Não creio que hoje fico em casa.
E uma última questão, o verbo acreditar segue a mesma regra que os restantes verbos de opinião ou há alguma exceção?
(g) Acredito que o livro está na biblioteca.
(h) Não acredito que o livro esteja na biblioteca.
Com este verbo, soa-me melhor ouvir as duas formas, afirmativa e negativa, no modo conjuntivo.
Pedia que me confirmassem se estão corretas as frases.
Caso sejam gramaticais, qual é, afinal, a regra para o uso indicativo e conjuntivo com os verbos de opinião?
Obrigada!
Antes de mais, importa clarificar que os casos apresentados se enquadram no contexto de frases complexas constituídas por uma oração subordinante que inclui um verbo de crença (acreditar, achar) e por uma oração subordinada completiva.
Nestes casos, os verbos de crença e também os declarativos selecionam normalmente o modo indicativo no verbo da oração subordinada e não determinam limitações quanto ao tempo verbal, como se verifica nas frases seguintes:
(1) «Acho que o livro está na biblioteca.»
(2) «Acredito que o livro está na biblioteca.»
(3) «Acho que o livro não está na biblioteca.»
(4) «Achava que o livro estava na biblioteca.»
(5) «Acho que o livro esteve na biblioteca.»
(6) «Acho que o livro tinha estado na biblioteca.»
Como se observa em (3) a presença da negação na oração subordinada não afeta o modo verbal do verbo da oração.
Quando a oração subordinante inclui uma negação, o conjuntivo pode aparecer na oração subordinada:
(7) «Não acho que o livro esteja na biblioteca.»
(8) «Não acredito que o livro esteja na biblioteca.»
Com o verbo acreditar, é possível usar o modo conjuntivo na oração subordinada mesmo quando a oração subordinante é afirmativa1:
(9) «Acredito que o livro esteja na biblioteca.»
Disponha sempre!
1. Para mais informações sobre este assunto, cf. Oliveira in Raposo et al., Gramática do Português. Fundação Calouste Gulbenkia...
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