Pergunta:
Gostaria de pedir a vossa ajuda, por favor, para fazer a análise sintática do excerto que se segue, tomando particular atenção ao sujeito e à colocação da vírgula antes do predicado:
«[…] a própria esterilização por ação direta do fogo, isto é, em termos técnicos, a flambagem (prática que não estamos muito habituados a ver, hoje, no meio laboratorial, mas que era importante nos primórdios da medicina), implica também […].»
A frase tem um sujeito simples, embora este se apresente com duas designações diferentes, sendo que a segunda («a flambagem») é uma precisão da primeira («a própria esterilização…»).
Neste caso, e ignorando o parêntese (que seria um modificador do nome?), estará bem colocada a vírgula? Tecnicamente, está a separar o sujeito do predicado, coisa que em princípio não se deve fazer, mas ao mesmo tempo isola a segunda formulação do sujeito, enfatizando a especificidade de se tratar de uma flambagem.
Se puderem esclarecer-me, fico muito agradecido.
Resposta:
A vírgula em questão está bem colocada, sendo mesmo obrigatória.
Comecemos por analisar a frase em questão:
(1) «[…] [a própria esterilização [por ação direta do fogo]complemento do nome [, isto é, em termos técnicos, a flambagem [(prática que não estamos muito habituados a ver, hoje, no meio laboratorial, mas que era importante nos primórdios da medicina)]modificador do nome apositivo,]modificador do nome apositivo]sujeito implica também […].»
Como se pode observar, o sujeito tem, no seu interior, um conjunto de constituintes encaixados, que operam num nível interno ao do sintagma nominal. Assim, o nome nuclear do sintagma nominal é esterilização. É sobre ele que incidem os diversos constituintes:
(i) «por ação direta do fogo»: funciona como complemento do nome, sendo pedido por ele para complementar o seu sentido;
(ii) «isto é, em termos técnicos, a flambagem (prática que não estamos muito habituados a ver, hoje, no meio laboratorial, mas que era importante nos primórdios da medicina)»: este constituinte modifica o nome esterilização, constituindo um aposto explicativo, introduzido pelo conector de reformulação «isto é»;
(iii) «(prática que não estamos muito habituados a ver, hoje, no meio laboratorial, mas que era importante nos primórdios da medicina)»: no interior do constituinte anterior identificamos um novo modificador apositivo, que surge sob a forma de comentário parentético.
Note-se que o constituinte assinalado em (ii) deve estar separado do nome sobre o qual incide por vírgula, devendo este mesmo constituinte ficar isolado por vírgulas, as quais assinalam o seu estatuto de inciso.
Assim sendo, deve existir vírgula depois dos parênteses, como assinalado...