Ana Rita B. Guilherme - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Ana Rita B. Guilherme
Ana Rita B. Guilherme
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Licenciada em Línguas e Literaturas Modernas-Estudos Portugueses e Ingleses pela Faculdade de Letras de Lisboa; mestre em Linguística Portuguesa pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa; investigadora do Centro de Linguística da Universidade de Lisboa.

 
Textos publicados pela autora

Pergunta:

Qual o plural de guardião: "guardiões", ou "guardiãos"?

Temporão: "temporões", ou "temporãos"?

Resposta:

O plural de guardião é guardiães, e o de temporão é temporãos.

Os substantivos que terminam em -ão formam o seu plural de acordo com o seu étimo latino, ou seja, os nomes latinos que terminam em -anus, como temporão, que deriva de temporanus, formam o plural em -ãos.

No entanto, ressalva-se que para certos substantivos terminados em -ão há variação no plural, o que se verifica com guardião, que, além de guardiães, também aceita o plural -ões – guardiões. Além disso, o caso de guardião constitui uma excepção, porque, apesar de derivar do étimo latino guardianus, não pluraliza em -ãos, mas em -ães e ões (guardiães e guardiões).

 

Convido o consulente a consultar a página do Ciberdúvidas e a percorrer as várias respostas sobre a questão destes plurais, que poderão ajudá-lo a aprofundar esta matéria.

Sempre ao seu dispor.

Pergunta:

Agradecia que me fosse explicado o valor e, ou, a função de pois, habitualmente classificada como conjunção coordenativa explicativa (ou conclusiva) no excerto que a seguir transcrevo. É um «bordão» ou uma «deslocação para efeitos de ênfase»?

«25 de Abril (Sábado). Ontem fui arrancar um dente. [...] Depois foi a tarde inteira a pôr gelo na cara [...]

Mas hoje é dia de festa cívica e é indecente queixar-me. Pois. A revolução já é maior. Faz hoje 18 anos. [...]»

Vergílio Ferreira, Conta-correnteNova série IV, Lisboa, Livraria Bertrand, 1994.

Resposta:

Morfologicamente, pois é um conector conclusivo ou explicativo — na gramática tradicional é classificado como conjunção — e é um advérbio que significa «sim, claro, evidentemente».

No entanto, no excerto em causa não parece estar a funcionar nem como conector nem como advérbio, mas antes como um expletivo, ou seja, pois tem também este valor quando é utilizado apenas para questões de ênfase, ou seja, não está tanto a preencher uma função sintáctica mas antes desempenha uma função pragmático-discursiva.

Sempre ao seu dispor.

Pergunta:

Embora escrevesse sapato, salema etc., o grande estudioso da língua portuguesa Cândido de Figueiredo afirmava que tais palavras deveriam grafar-se "çapato", "çalema"... Li isso numa de suas obras, Problemas da Linguagem. Em que se baseava o mestre lusitano para dizer que esses e outros vocábulos deveriam ser escritos com cê cedilhado inicial e não com s? Seria certo escrevê-los hoje com ç inicial?

Muito grato!

Resposta:

De facto, historicamente, as palavras sapato e salema eram grafadas com ç para indicar que estas palavras começavam com uma consoante africada (um som produzido com o bloqueio total do trato vocal a que se segue uma pequena abertura que produz uma ligeira fricção), mas que depois passou a predorsodental.

Já no século XX, com as reformas ortográficas, decidiu-se que não seria necessário escrever estas palavras com ç por serem em número reduzido as que o apresentavam em posição inicial.

Sempre ao seu dispor.

Pergunta:

Gostaria de saber se no séc. XVI, em Portugal, o alfabeto utilizado já era composto por 23 letras.

Obrigada.

Resposta:

O alfabeto português deriva do alfabeto latino mas com menos 3 letras – o K, o Y e o W –, ou seja, era composto por 23 letras. Todavia, não é possível responder com exactidão à pergunta da consulente porque, devido à inexistência de um acordo ortográfico no século XVI, a variação nos textos é muito grande, não só a nível gramatical mas também a nível grafémico.

Ressalva-se que com o Acordo Ortográfico de 1990 o alfabeto português passa a ser constituído por 26 letras, ou seja, passa a incluir as letras K, Y e W. Estas letras, embora fazendo parte do alfabeto, restringem-se a estrangeirismos, símbolos (por ex., kg), nomes próprios e substantivos e adjectivos derivados de nomes próprios estrangeiros.

Sempre ao seu dispor.

Pergunta:

Qual a origem e o significado da palavra pejorativa bimbo? E aconselham "bimbice" ou "bimbalhice" quando nos queremos referir à qualidade de quem é bimbo?

Obrigado.

Resposta:

O termo bimbo significa «provinciano, rústico, ingénuo; indivíduo parvo, tolo» e em gíria militar significa «recruta que vem do interior do país» (cf. Dicionário Houaiss). Ou seja, pode-se afirmar que bimbo sempre teve uma conotação pejorativa.

No que respeita à sua origem, esta é um pouco obscura. O termo pode estar relacionado com o radical bimb-, que deu origem ao nome bimbalhada e ao verbo bimballhar: são «(...) de origem onomatopaica, de um elemento expressivo bimbalh- (do francês brimbaler), que procurará reproduzir simultaneamente os movimentos e os sons dos sinos» (Machado, José Pedro, Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa, 2003). O radical bimb- também deu origem ao nome bimba, que em registos informais significa «parte interna e superior das coxas; nádegas» (idem).

Nem bimbice nem bimbalhice se encontram atestadas no dicionário. O termo atestado é bimbalhada, que siginifica «toque ou repique simultâneo de muitos sinos». Todavia, é comum ouvir-se, entre os falantes, o termo bimbalhice.

Sempre ao seu dispor.