Ana Martins - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Ana Martins
Ana Martins
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Licenciada em Línguas e Literaturas Modernas – Estudos Portugueses, pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto, e licenciada em Línguas Modernas – Estudos Anglo-Americanos, pela Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra. Mestra e doutora em Linguística Portuguesa, desenvolveu projeto de pós-doutoramento em aquisição de L2 dedicado ao estudo de processos de retextualização para fins de produção de materiais de ensino em PL2 – tais como  A Textualização da Viagem: Relato vs. Enunciação, Uma Abordagem Enunciativa (2010), Gramática Aplicada - Língua Portuguesa – 3.º Ciclo do Ensino Básico (2011) e de versões adaptadas de clássicos da literatura portuguesa para aprendentes de Português-Língua Estrangeira.Também é autora de adaptações de obras literárias portuguesas para estrangeiros: Amor de Perdição, PeregrinaçãoA Cidade e as Serras. É ainda autora da coleção Contos com Nível, um conjunto de volumes de contos originais, cada um destinado a um nível de proficiência. Consultora do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa e responsável da Ciberescola da Língua Portuguesa

 
Textos publicados pela autora

Pergunta:

Gostaria de saber o processo de formação da palavra Inglaterra.

Obrigada!


Resposta:

Inglaterra, do francês Engleterre, resulta de Engla land (England), «a terra dos Anglos».

(Fonte: José Pedro Machado — Dicionário Onomástico Etimológico da Língua Portuguesa)

Pergunta:

Há alguma diferença entre os termos aprendizagem e aquisição? Vejo autores que os usam indistintamente e outros que os diferenciam, quando discutem não só a leitura e a escrita em contexto escolar mas também a transmissão da língua materna.

Obrigada.

Resposta:

De facto, há autores que distinguem aprendizagem de aquisição, na esteira de:

Krashen, S. 1981 – Principles and Practice in Second Language Acquisition, New York, Prentince Hall.

Apesar disso, o termo aquisição, nos estudos de especialidade, funciona actualmente como termo abrangente.

Pergunta:

Gostava de saber quais os antónimos de: (1) poderoso e (2) amável.

Resposta:

Os antónimos pedidos dependem dos significados ou dos sínónimos que poderoso e amável possam ter.

1. Antónimos de poderoso

a) (= eficaz): ineficaz, ineficiente, nulo;
b) (= marcante): fraco, inexpressivo;
c) (= possante): débil, fraco, impotente;
d) (= rico): pobre, miserável.

2. Antónimos de amável

a)  (= adorável): abominável, desamorável, desprezível;
b) (= cortês): antipático, desamável, descortês, detestável, grosseiro, indelicado, malcriado, rude;
c) (= encantador): antipático, desagradável, detestável, insuportável, intolerável, maçante, odioso, repulsivo.

Fonte:

Instituto Houaiss, Dicionário Houaiss de Sinônimos e Antônimos da Língua Portuguesa, Rio de Janeiro, Editora Objetiva, 2003

Pergunta:

Sempre para a preparação da minha tese estudei que em 1975 houve um projecto de acordo ortográfico entre a Academia das Ciências de Lisboa e a Academia Brasileira de Letras. Queria saber se está disponível o texto deste projecto.

Muito obrigada.

Resposta:

O projecto de acordo de 1975 não só não entrou em vigor como nunca veio a público. Tanto quanto nos é dado saber, não se encontra em linha.

Pergunta:

Penso que conheço a resposta à pergunta que vou fazer, mas o erro é tão frequente, que até eu começo a duvidar do que sei... Trata-se do seguinte: lê-se (e ouve-se, mas aqui os fautores da asneira podem invocar má audição do ouvinte...) cada vez com mais frequência frases começadas por «o ano passado», «a semana passada», «o mês passado» seguidos da descrição de uma acção («aconteceu», «verificou-se»...). Ver por exemplo o editorial do Público de dia 9 de Novembro de 2008, em que aparece «o ano lectivo passado... os professores regressaram às escolas...»). A minha pergunta é se não deveria dizer-se «no ano passado», «na semana passada», «no mês passado»; no caso concreto referido, se não deveria ser «no ano lectivo passado... os professores regressaram às escolas...»? Reafirmo que tenho mais de 99,99% de certeza de que deveria... mas com a TLEBS nunca se sabe! E o director do Público tem a mania de que sabe (este é um erro sistemático nos editoriais por ele escritos...).

Resposta:

As expressões em apreço correspondem a adverbiais de tempo realizados por sintagmas nominais.

Cito Mateus, Maria Helena Mira et al. 2003 — Gramática da Língua Portuguesa, Caminho (pp. 166-167):«A expressão de adverbiais de tempo é extremamente variada, podendo ser explicitada através de advérbios de tempo, de sintagmas preposicionais e também de sintagmas nominais.»

Mais adiante (p. 429) temos: «Na posição do advérbio ontem em (50) [O Luís partiu para Paris ontem] poderíamos encontrar SNs (esta manhã, esta noite, a semana passada, o mês passado)...».

Em nota da pág. 167 da mesma obra encontramos remissão para a tese de doutoramento de Telmo Móia (1999 — Identifying and Computing Temporal Locating Adverbials with a Particular Focus on Portugues and English, Universidade de Lisboa), com o resumo da sua descrição do fen{#ó|ô}meno, a saber: os sintagmas nominais de localização temporal são sempre sintagmas preposicionais em que a preposição se encontra a um nível mais abstracto de representação.

Deste modo, podemos concluir que, em português europeu, é admitida a não realização da preposição nestes adverbiais de localização temporal — fa{#c|}to que é atestado no texto de José Manuel Fernandes, mas também noutros:

«— Fui a semana passada à oficina dele e a Nossa Senhora vai adiantada.»
Carlos de Oliveira, Casa na Duna

« — Então, e a tua peça? Terminei-a a semana passada.» Mário de  Sá-Carneiro, A Confissão de Lúcio

« Ainda era pior! O ano passado, antes de os índios matarem Feliciano, seu Juca esteve em Todos-os-Santos... —  E então?» Ferreira de Castro, A Selva

« — O ano passado, quando estive em Lisboa... Garrado voltou a pensar nas letras, na filha e no empréstimo.» Manuel da Fonseca, Cerromaior.