Os ministros da Cultura de Portugal e Brasil acertaram em Brasília projectos comuns para uma política comum da Língua Portuguesa. A primeira iniciativa será a criação de um portal na Internet. Quanto ao Acordo Ortográfico, José António Pinto Ribeiro descansa os seus críticos: «Ninguém será abatido, preso ou punido.» O essencial da notícia do semanário “Expresso”, via agência Lusa, a seguir.
[O ministro da Cultura português], José António Pinto Ribeiro e o seu homólogo brasileiro, Juca Ferreira, reuniram-se em Brasília [no dia 19 de Agosto de 2008] para acertarem projectos para o desenvolvimento de uma política comum da cultura baseada na Língua Portuguesa.
«Queremos criar práticas e políticas culturais que nos aproximem daquilo que cada um de nós é, que facilitem o nosso conhecimento, a nossa relação, a nossa expansão, partindo do desenvolvimento da língua enquanto instrumento de liberdade e de expressão e instrumento de identidade», disse à agência Lusa o ministro português. (…)
«Farei tudo o que puder politicamente para que nós consigamos aprofundar o conhecimento da Língua Portuguesa e a sua divulgação enquanto língua de instrução, de comércio, de contacto, de relação, de identidade e de expressão, sublinhou Pinto Ribeiro [referindo-se ainda ao Acordo Ortográfico]:
«Há resistências de algumas pessoas, e não são muitas, que têm uma relação emocional, clássica, física e sensorial com a Língua. Mas ninguém será abatido, preso ou punido se não aderir às novas normas. O Acordo é uma simplificação da Língua.»
Pinto Ribeiro lembrou que em Portugal a palavra "mãe" foi escrita com 'e' até 1931, desta data até 1946, a grafia passou a ser com 'i', voltando depois a palavra a ser escrita com 'e'.
«E a mãe era sempre a mesma. Não mudou. Se nós queremos ter um instrumento de política comum de toda Língua Portuguesa nas organizações internacionais, nas relações com outros países como segunda língua, temos que ter uma escrita comum", explicou.
Na avaliação do ministro português, o Acordo Ortográfico fortalece a cooperação entre os países de Língua Portuguesa e também beneficia as diásporas na manutenção e conservação da sua identidade.
«Neste momento, nós percebemos não só que o Brasil é muito maior, mais importante, mais rico e mais poderoso do que nós mas que, independentemente das dimensões e dos tamanhos, somos, todos os países da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, iguais», destacou. Nesta perspectiva, Pinto Ribeiro defendeu uma política concertada em que «se evite a redundância e se obtenha uma grande eficácia na actuação».
[Neste âmbito], o novo ministro da Cultura do Brasil [que substituiu Gilberto Gil] anunciou a criação de um portal da Língua Portuguesa na Internet até o final deste ano [de 2008]. «Demos hoje um passo importante, na medida em que os dois ministros concordaram sobre a importância deste portal, cuja criação já foi decidida no âmbito da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa. Vamos agora disponibilizar os meios e criar os mecanismos de realização.»
[Para Juca Ferreira] é importante incorporar no projecto todos os países da Comunidade – Angola, Brasil , Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste – para que o portal «capture toda a diversidade do mundo que fala português». O projecto, proposto pelo Brasil, tem um custo avaliado em um milhão de euros.
«Notamos que houve uma mudança de atitude de Portugal, de interesse numa parceria cultural com o Brasil numa intensidade até então não colocada nas relações bilaterais», salientou ainda Juca Ferreira.
De acordo com o governante brasileiro, há hoje uma grande proximidade de pontos de vista entre os governos brasileiro e português, que prezam o respeito e o tratamento igualitário de todos os membros que fazem parte da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa.
Juca Ferreira disse que compreende as resistências que existem em Portugal e, em menor grau, no Brasil, quanto ao Acordo Ortográfico, mas frisou a sua importância: «A língua é um património vital e a dimensão mais importante da expressão humana e é natural que existam resistências quanto ao Acordo. Mas as diferenças entre o português que se fala no Brasil e em Portugal não justificam mantermos a separação e o isolamento, ainda mais num mundo globalizado.»
(…)
Juca Ferreira não acredita que, com o Acordo Ortográfico, o Brasil possa "engolir" o mercado editorial português: «Acho difícil. Acredito mais na possibilidade de cooperação, não só entre Brasil e Portugal, mas de todos os países de Língua Portuguesa, para criarmos um espaço para a literatura dos nossos países neste mundo editorial».
Ler também:
Vai nascer Portal da Língua Portuguesa
in "Expresso", 19 de Agosto de 2008