À margem do V Encontro de Culturas, em Serpa, o ministro da cultura do Brasil, Giberto Gil, defendeu que a vigência do Acordo Ortográfico devia ser supervisionada por uma comissão institucional de especialistas e prestar-se a constantes reajustes.
Reproduzimos excertos da entrevista1 ao Diário do Alentejo.
O Acordo Ortográfico, apesar de já ter sido aprovado no parlamento, em Lisboa, tem sido alvo de críticas por parte de alguns intelectuais portugueses, os quais se afirmam dispostos a fazer tudo para que as novas regras não cheguem a entrar em vigor. Qual a sua posição?
Quanto à necessidade da existência de acordos ortográficos acho que é pacífico. O português é uma língua de cultura muito forte, com presença significativa no Mundo e falada por muitos países. Tem um grande acervo e é marcante na literatura desses países, na política, nas ciências, no campo artístico, enfim, em toda a cultura que está sob o manto da língua portuguesa. Portanto interessa muito a Portugal, ao Brasil, a todos os países de língua portuguesa e ao próprio Mundo que a língua portuguesa seja cuidada.
É isso que o Acordo faz, cuidar da língua?
Exactamente. Os acordos ortográficos são momentos em que se decide cuidar da língua, actualizá-la, melhorá-la, dotá-la de elementos mais adequados para a modernidade, para os processos de avanço em geral por que passa a Humanidade. A língua tem que estar viva, atenta a todas essas questões. Acho, realmente, que os acordos ortográficos são um desses momentos de atenção para com a língua. Para mim é, portanto, pacífico que devam existir os acordos.
Então, por que razão há quem não esteja de acordo?
Outra questão é como são feitos. Se o são de uma maneira melhor ou não tanto, é outra coisa, é técnica, dos agentes, de quem o propõe e como se faz e isso está sujeito a críticas, elogiosas ou não.
O Acordo vai implantar-se com facilidade?
Aqui estamos perante uma terceira questão, que é a capacidade do acordo vingar, de atender às necessidades do dinamismo da língua. Quanto a isso, a minha opinião é de que, para além de reuniões num dado momento, para criar esse acordo, ele deveria estar submetido a um processo permanente de avaliação. É o que eu chamaria de acordo permanente, através de uma comissão institucionalizada, o acordo deveria estar constantemente aberto.
Aberto, como?
O acordo ortográfico não é uma coisa que se dá num momento, ele é constante e deveria haver um fórum que fosse tão vivo quanto a língua, que estivesse permanentemente a receber os insumos novos, a estabelecer as políticas relativas às questões ortográficas ou outras, aos usos escritos e aos usos falados, aos impactos das novas tecnologias na língua, às novas possibilidades de uso e de transformação da língua a partir de coisas tão novas e importantes como a Internet. Tenho a impressão de que um fórum permanente estaria, hoje, mais de acordo com as necessidades.
1Entrevista do director do "Diário do Alentejo" João Matias.
In Diário do Alentejo, 20 de Junho de 2008.