A aprendizagem do mirandês começou com uma turma em 1985 e hoje já é ensinado desde o pré-escolar ao 12.º ano a mais de 450 alunos, num universo de 800. Para os não residentes no concelho há um curso na Internet. Notícia do Público de 23 de Setembro de 2007, que a seguir se transcreve.
Mais de 450 estudantes frequentam aulas de mirandês num universo de 800 alunos PÚBLICO - 23.09.2007, Ana FragosoMais de metade dos estudantes do concelho de Miranda do Douro frequentam este ano aulas de mirandês, a segunda língua oficial do país. Os agrupamentos de escolas de Miranda do Douro e Sendim somam mais de 450 matrículas nesta disciplina opcional, num universo de 800 estudantes."É uma cruzada que não pode parar", reage Domingos Raposo, um dos obreiros desta verdadeira "batalha" pela salvação de uma língua minoritária que, há duas décadas, estava em risco de se perder. Em 1985, a Escola Preparatória de Miranda do Douro conseguiu que o Ministério da Educação autorizasse a introdução da Língua Mirandesa, como disciplina de opção. Um ano mais tarde, Domingos Raposo deu início à formação da primeira turma com pouco mais de 30 alunos. "O caminho fez-se devagar, mas valeu a pena", declara este docente, consciente de que a caminhada "ainda é longa". Hoje o ensino do mirandês generalizou-se a todos os níveis de ensino, desde o pré-escolar ao 12.º ano. A primeira turma de 12.º ano que leva no certificado de habilitações formação em mirandês concluiu a aprendizagem no ano transacto. "São, do ponto de vista académico, os alunos com maior nível de formação nesta língua", comenta o presidente do agrupamento de escolas de Miranda do Douro, António Santos. Este responsável acredita que esta vontade de apreender a língua-mãe deste município já não se vai perder. "Os alunos já não optam pela disciplina por uma questão de moda, há vontade de aprofundar o conhecimento, em manter este grande valor da identidade dos mirandeses", diz. Este aumento da procura já obrigou à contratação de três professores. Durante anos, Domingos Raposo era o único docente da disciplina, actualmente há mais professores com essa vontade e capacidade. Nenhum deles tem formação de base em mirandês, porque simplesmente não existe, são todos professores de História, Português e Latim, naturais do concelho, e que tiveram a língua mirandesa como a primeira língua. Nesta altura os docentes sentem a necessidade de refazer os planos curriculares e, essencialmente, preparar manuais escolares para cada um dos graus de ensino. O trabalho já está delineado e estão em fase de constituição grupos de trabalho que vão preparar esses manuais de ensino. Cursos na Internet Domingos Raposo sublinha que a iniciativa na promoção desta língua sempre partiu dos locais. "E tem de continuar a ser assim, se quisermos valorizar o que é nosso, preservar os nossos valores culturais e a nossa identidade", defende. São pouco mais de oito mil os habitantes do município de Miranda do Douro, mas alguns milhares de naturais deste concelho estão espalhados pelo país e pelo mundo. Para todos os que estão fora existe a possibilidade de aprender mirandês, com recurso à Internet. Através do site www.sendim.net, coordenado por Amadeu Ferreira, é possível aprender a língua na sua vertente oral e escrita. "No ano transacto tivemos cerca de uma centena de pessoas a acompanhar o curso", referiu. Semanalmente, Amadeu Ferreira introduz novos conteúdos, exercícios orais, gramaticais e até da história da língua.Nesta altura estão as inscrições abertas, o acesso é gratuito, exigindo apenas a identificação dos participantes. "Não há inscrições anónimas", frisa Amadeu Ferreira, que além de responsável pela CMVM é colunista do Público e autor de bandas desenhadas em mirandês. Este curso tem avantagem de poder ser acompanhado ao ritmo de cada um, nas horas livres, à noite ou ao fim-de-semana. |