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Expressões racistas desaconselhadas no Brasil

Publicação do Tribunal Superior Eleitoral

No Brasil, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) publicou uma lista de 40 termos e expressões  que, pelo seu  teor racista e ofensivo, são contraindicados [às] brasileiras e [aos] brasileiros, na sua linguagem cotidiana ou formal. Expressões racistas: por que evitá-las, o nome do documento, foi produzida pela Comissão de Promoção de Igualdade Racial do TSE, instituída em março des 2022,  visando  combater o preconceito racial na Justiça Eleitoral.

Na sua apresentação, o ministro Benedito Gonçalves, coordenador institucional da Comissão, diz que o material «visa promover a mudança de hábitos e comportamentos nas pessoas e facilitar a exclusão de expressões idiomáticas que possam embutir preconceito racial». Para facilitar que esse objetivo seja alcançado, a cartilha explica o motivo pelo qual cada uma das expressões possui conotação racista.

Racismo escancarado 

Um exemplo muito comum é a palavra escravo. Conforme a explicação, a palavra certamente deriva do termo latino sclavus, ou seja, pessoa que pertence a outra, ou de slavus, isto é, eslava ou eslavo, «um povo bastante escravizado na Antiguidade».

Outro ponto fundamental apontado refere  que «os termos escrava e escravo passam a ideia de que a pessoa já nasceu sem liberdade, como algo inato à sua condição, ignorando o fato de que as africanas e os africanos foram trazidos(as) ao Brasil e forçados(as) a trabalhar nessa condição». Assim, como se explica na cartilha, «a palavra mais adequada para designar essa condição seria "escravizado(a)”». 

Racismo escondido 

Noutros casos, porém, adianta-se no documentos, «à primeira vista, não há nada de errado com a palavra e seu uso, contudo embute-se nela o racismo a partir do instante em que transmite a ideia de que a compreensão de algo só pode ocorrer sob as bênçãos da claridade, da branquitude, mantendo no campo da dúvida e do desconhecimento as coisas negras».  É o caso de esclarecer, que, conforme a publicação do TSE, «mais adequado, nessas circunstâncias, seria o uso das palavras explicar ou elucidar, por exemplo». 

Inúmeros outros termos são usados sem que a pessoa que os pronuncia sequer note que está difundindo um conteúdo preconceituoso e racista. Entre eles, estão humor negro (quando, sugere-se,  o mais adequado seria «humor ácido»), denegrir («difamar» ou «calunia»), cabelo ruim («cabelos crespos») e a coisa tá preta («a situação está difícil»). 

Racismo estrutural 

Para o secretário de Combate ao Racismo da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT), Almir Aguiar, o lançamento de uma cartilha como esta «é fundamental para o avanço social no Brasil, porque se trata de uma publicação de Estado, que não apenas reconhece um problema sério que se verifica de norte a sul do país, mas também porque mostra a origem desse preconceito, argumenta contra ele e apresenta soluções».

Almir, que também é militante do Movimento Negro Unificado (MNU), ressalta ainda que «a cartilha mostra o quanto o racismo é estrutural no Brasil e se manifesta de modo sistêmico, até mesmo na fala de pessoas que muitas vezes não têm essa intenção, mas acabam difundindo preconceitos». Por isso, acrescenta, «todos devem conhecer esses termos e evitá-los, para reduzir a reprodução da discriminação racial».

A publicação deverá ter novas versões no futuro, por isso, quem conhecer algum termo racista que não esteja nela poderá encaminhá-lo à comissão responsável por sua realização, para que seja incluído em edições futura, pelo e-mail nid@tse.jus.br.

’ Expressões racistas: por que evitá-las,  disponíverl em PDF, está também acessivel na biblioteca digital do TSE.

Os 40 termos desaconselhados 

Confira as palavras e expressões, usadas com frequência no cotidiano brasileiro, mas que devem ser abolidas por causa de seu cunho racista, de acordo com a cartilha Expressões racistas: por que evitá-las, do TSE. 

 

  •  «A coisa tá preta»
  •  «Barriga suja»

  •  «Boçal»

  •  «Cabelo ruim»

  • «Chuta que é macumba!»

  • «Cor de pele»

  •  «Criado-mudo»

  •  «Crioulo»

  •  «Da cor do pecado»

  • «Denegrir»

  •  «Dia de branco»

  •  «Disputar a negra»

  •  «Esclarecer»

  •  «Escravo»

  •  «Estampa étnica»

  •  «Feito nas coxas»

  • «Galinha de macumba»

  • « Humor negro»

  •  «Inhaca»

  • «Inveja branca»

  •  «Lista negra»

  •  «Macumbeiro»

  •  «Magia negra»

  •  «Meia-tigela»/«de meia tigela»

  • «Mercado negro»

  • «Mulata»

  •  «Mulata tipo exportação»

  • «Não sou tuas negas!»

  • «Nasceu com um pé na cozinha»

  • «Nega maluca»

  •  «Negra com traços finos»

  •  «Negra de beleza exótica»

  •  «Negra de alma branca»

  •  «Ovelha negra»

  •  «Preto de alma branca»

  •  «Quando não está preso está armado»

  •  «Samba de crioulo doido»

  • «Serviço de preto»

  •  «Teta de nega»

  • «Volta pro mar, oferenda!»

 

Cf.Sociedade livre requer o fim da discriminação racial + Todos os problemas do mercado de trabalho afetam mais negras e negros + Com sua luta, abolicionistas refletiram sobre o Brasil + Vários escritores registraram a escravidão na literatura brasileira + Após Mês da Consciência Negra, combate ao racismo deve continuar + vídeo da Contraf-CUT sobre a Consciência Negra, aqui.

 

Fonte

Notícia transcrita da página da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro da CUT (Contraf-CUT), do Brasil, com a data de 14 de dezembro de 2022.

ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa ISCTE-Instituto Universitário de LisboaISCTE-Instituto Universitário de Lisboa ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa