Teresa Moure (Monforte de Lemos, 1969) é professora na Faculdade de Filologia da Universidade de Santiago de Compostela e, como linguista, distingue-se pela reivindicação de uma linguística mais solidária dos estudos culturais. É também ensaísta e romancista premiada e conhecida pela rebeldia: ponto alto desta atitude terá sido a publicação de Eu violei o Lobo Feroz (2013, Através Editora), quando passou a escrever galego na proposta normativa reintegrada, isto é, com a ortografia e outros traços normativos do português contemporâneo.
No livro Linguística Eco- convergem as linhas de intervenção académica e literária da autora, que o escreve «numa variedade galega do português», conforme se diz na ficha técnica, numa declaração já característica das publicações da Através Editora, da Galiza. Constituído por cinco secções, o livro resenha, comenta ou explora alguns princípios e algumas posições da antropologia linguística e da ecologia linguística, áreas de estudo e de intervenção de certo modo decorrentes da consciência da presente (e futura) perda de diversidade linguística (e não só). O pano de fundo é o chamado Antropoceno, ou seja, a idade planetária em que vivemos, definida pela atividade transformadora, invasiva e já depredadora da espécie humana.
Assim, na introdução, a autora delineia a relação a estabelecer entre ecologia e linguística, quando se acompanha a atual crise ambiental, que é também cultural. Na primeira secção, intitulada “A linguística no conjunto do conhecimento”, aborda-se a questão da paradoxal natureza do fenómeno linguístico, levando o seu estudo a oscilar entre a unidade, quando se teoriza acerca de características associadas às capacidades cognitivas da espécie humana – a linguística «de bata»–, e a variação, ao observar-se o localismo das suas manifestações – a linguística «de bota», feita no terreno. A segunda secção, com o título “As línguas do mundo como material ecológico”, expõe uma crítica ao que tem sido, segundo Moure, a má relação entre a linguística e as línguas. A terceira secção, “A morte das línguas”, discute o problema do desaparecimento dos idiomas de menor projeção geográfica, incluindo o caso do galego, que arrisca a extinção a breve trecho pela acelerada perda de falantes a favor do castelhano. Na quarta parte, “Ecocosmovisão”, propõe-se uma reflexão sobre os conceitos de língua e dialeto, tendo em conta que a diversidade linguística é indissociável de visões do mundo permeáveis ou mesmo conducentes à mudança social. Na última secção, sugestivamente chamada “Jardins com unicórnios e jardins com monstros de chifre na frente”, Moure evidencia o laço existente entre a defesa das pequenas comunidades linguísticas e a ecologia. Cada capítulo fecha com exercícios práticos, constituídos por textos seguidos de questões para análise de dados e problematização de temas da linguística. Comum a todas as secções, o tom irreverente, em contraste com as convenções de muitas publicações dos estudos linguísticos.
Enfim, uma obra também dirigida ao leitor português, que não precisa de se escandalizar com o constante aflorar no texto de usos de cepa galaica e de alguns castelhanismos mais resistentes. Não dê esta característica desculpa para se considerar menos um livro que vem somar-se a outros, escritos num idioma a que a Através Editora também chama «a nossa língua» (cf. O Galego e o Português são a mesma Língua?, de Marco Neves).
Este é um espaço de esclarecimento, informação, debate e promoção da língua portuguesa, numa perspetiva de afirmação dos valores culturais dos oito países de língua oficial portuguesa, fundado em 1997. Na diversidade de todos, o mesmo mar por onde navegamos e nos reconhecemos.
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